
O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, disse que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações na "minuta do golpe". O interrogatório ocorre nesta segunda-feira (9).
— Ele enxugou o documento, basicamente retirando as autoridades que seriam presas. Somente o senhor (ministro Alexandre de Moraes) ficaria como preso — diz Mauro Cid sobre alterações que Jair Messias Bolsonaro teria realizado na "minuta do golpe".
Cid é o primeiro a depor no interrogatório. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começou a ouvir nesta segunda-feira (9) os oito réus do "núcleo 1" da tentativa de golpe.
Posteriormente, os outros setes réus serão ouvidos em ordem alfabética, incluindo Bolsonaro. Serão realizadas sessões diárias até sexta-feira (13), para que todos sejam interrogados.
Após os questionamentos de Moraes, o ministro Luiz Fux perguntou a Mauro Cid se o documento de estado de defesa e de sítio foi assinado. Cid garantiu que não:
— Não foi assinado, em nenhum momento não foi assinado. Inclusive, era a grande preocupação do comandante do Exército, por isso que ele me chamava várias vezes, era que o presidente assinasse alguma coisa sem consultar e sem falar com ele antes.
Cid confirma que repassou dinheiro a um "kid preto"
Mauro Cid também afirmou que entregou uma caixa de vinho com dinheiro ao major Rafael de Oliveira, que faz parte do grupo conhecido como "kids pretos". Segundo Cid, o repasse foi feito a pedido de Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022:
— O general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu não sei precisar quanto foi. Mas com certeza não foi R$ 100 mil, até pelo volume não era tanto, que foi passado para o major de Oliveira, no próprio Alvorada. Fui eu que passei esse dinheiro. Eu recebi do general Braga Netto no Palácio da Alvorada. Estava em uma caixa de vinho, uma botelha, ai depois, se bobear no mesmo dia, eu passei para o major de Oliveira.
Os interrogados
Depois de Mauro Cid, pela ordem alfabética, serão ouvidos os demais acusados:
- Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor-geral da Abin
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Jair Bolsonaro
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na eleição de 2022
O interrogatório de Braga Netto, general da reserva, será o único realizado por videoconferência, por ele estar preso preventivamente desde 14 de dezembro de 2024. A detenção aconteceu pelo entendimento de que o militar procurou atrapalhar as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.
Cronograma de interrogatórios
Outras sessões foram convocadas para terça-feira (10), às 9h, quarta-feira (11), às 8h, quinta-feira (12), às 9h, e sexta-feira (13), às 9h. Elas serão realizadas conforme a necessidade, até que se encerrem os interrogatórios dos réus.
Investigação
Os réus respondem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
O interrogatório dos réus é uma das últimas fases da ação penal. A expectativa é de que o julgamento que vai decidir pela condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais réus ocorra no segundo semestre deste ano. Em caso de condenação, as penas passam de 30 anos de prisão.
Por estarem na condição de réus, os acusados poderão se recusar a responder perguntas que possam incriminá-los. A Constituição garante aos investigados o direito de não produzir provas contra si.