
A deputada federal Carla Zambelli (PL) afirmou nesta quinta-feira (15) que "não sobreviveria na prisão" devido à problemas de saúde, um dia depois de ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de reclusão por envolvimento na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A parlamentar classificou a decisão como “injusta” e disse contar com articulações para barrar o avanço do processo. Segundo ela, a suspensão da ação penal na Câmara recebeu sinal verde do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos), ao líder do PL, Sóstenes Cavalcante, para que seja pautada.
— Ainda que seja injusta a decisão, eu vou seguir a decisão. Então eu sigo a lei, eu sigo ordem judicial. Se acontecer de ter a prisão, eu vou me apresentar para a prisão. Mas eu hoje não me vejo capaz de ser cuidada da forma como eu tenho que ser cuidada, com cuidados constantes — afirmou a deputada durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira na sede do PL em São Paulo.
A deputada federal e o hacker Walter Delgatti foram condenados por unanimidade pela Primeira Turma do STF. O julgamento foi concluído nesta quarta-feira (14) com o voto do ministro Luiz Fux, que acompanhou os demais integrantes da turma. Ambos foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
Síndrome de Ehlers-Danlos
Segundo Zambelli, ela é portadora de uma síndrome chamada Ehlers-Danlos, que afeta os tecidos conjuntivos do corpo. Ela disse ainda que tem um problema no coração chamado síndrome hipercinética postural ortostática, que não permite que ela permaneça muito tempo de pé, e que toma medicamentos para tratar depressão.
— Eu estou pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia. Então, a gente deve apresentar isso em momento oportuno — disse.
Durante a entrevista, um de seus assessores interrompeu a deputada para lhe entregar remédios. Segundo ele, ela tomou os comprimidos naquele momento porque ele havia esquecido os remédios e atrasado o horário, e não para que tomasse em frente às câmeras.
O que diz a defesa?
A parlamentar negou as acusações e afirmou que é vítima de uma injustiça. Zambelli disse que cometer o crime "seria muita burrice" e que "não colocaria o meu mandato em risco por causa de uma brincadeira. Uma brincadeira sem graça". Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), Zambelli "comandou" e ajudou no "planejamento" do ataque cibernético. O hacker Walter Delgatti confessou os crimes.
O advogado da deputada federal, Daniel Bialsky, afirmou que entrará com um embargo de declaração assim que o acórdão for publicado e criticou o julgamento do STF em formato virtual. Segundo a defesa, ele gravou um vídeo rebatendo pontos da acusação e reclamou que teria sido assistido somente pelo ministro relator, Alexandre de Moraes.
Os embargos de declaração podem adiar o trânsito em julgado da decisão em algumas semanas. Contudo, o recurso não tem poder de alterar a condenação. Eventual prisão precisa ser autorizada pela Câmara dos Deputados. A perda do mandato seria automática, definida pelo STF ao fim do processo, mas com a declaração sendo feita pela Mesa Diretora da Câmara.
A deputada sugeriu ainda que jornalistas e parlamentares colocassem o voto do ministro Alexandre de Moraes no ChatGPT e questionassem se há incongruências na condenação. Em seu voto, Moraes disse que a deputada manteve uma "ligação umbilical" com o hacker Walter Delgatti com "objetivos antirrepublicanos".
Relação com Bolsonaro
Questionada se havia sido procurada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a parlamentar disse que não, mas ressaltou que "não esperava ser acolhida".
— De um tempo para cá, eu não esperava ser acolhida. Numa situação como a gente está, é difícil você esperar o acolhimento das pessoas. Mas eu sei que eu tenho o acolhimento da família. A Michelle já me procurou, o Flávio Bolsonaro, o Eduardo Bolsonaro comentou o meu caso. E eu acho que isso, para mim, é suficiente para mostrar que todo o meu trabalho não foi em vão — afirmou.
Em março de 2025, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) responsabilizou Zambelli diretamente pela derrota da chapa nas eleições presidenciais de 2022. Bolsonaro afirmou que o episódio em que Zambelli sacou uma arma e perseguiu um apoiador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na véspera do segundo turno, foi decisivo para tirar votos dele, prejudicando sua campanha e “tirando o mandato” da coligação.