
A Polícia Federal (PF) cumpre, nesta terça-feira (20), mandados de busca e apreensão de veículos supostamente ligados a Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o "Careca do INSS".
O lobista ganhou notoriedade após ser apontado pela PF como o "facilitador" do esquema de fraudes envolvendo descontos não autorizados a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A PF afirma que associações que oferecem serviços a aposentados cadastravam pessoas sem autorização, com assinaturas falsas, para descontar mensalidades dos benefícios pagos pelo INSS. O prejuízo, entre os anos de 2019 e 2024, pode chegar a R$ 6,3 bilhões.
De acordo com a Polícia Federal, Antunes transferiu R$ 9,3 milhões para pessoas relacionadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024.
Denúncia anônima
A localização desses veículos foi informada à PF pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que recebeu denúncia anônima sobre o tema. Damares mantém um escritório político no mesmo prédio em que os carros foram apreendidos.

Em nota divulgada no fim de abril, a defesa de Antonio Antunes afirma que "as acusações apresentadas contra seu cliente não correspondem à realidade dos fatos" (leia na íntegra mais abaixo).
Até o fim da manhã, a Polícia Federal ainda não confirmava a lista de veículos apreendidos e o valor estimado deles.
Ao fim das investigações, se houver autorização da Justiça e o envolvimento de Antunes na fraude for confirmado, os veículos podem ir a leilão – para que o dinheiro seja usado no ressarcimento das vítimas, afirmou o g1.
Entenda o caso
Ao menos 22 empresas estão ligadas a Antunes, segundo a PF. Elas atuavam em áreas diversas – de consultoria e call center a locação de veículos e comércio varejista – e, segundo os investigadores, eram utilizadas para receber valores das associações e redistribuí-los entre servidores suspeitos.
Algumas dessas empresas são Sociedades de Propósito Específico (SPE), todas registradas no mesmo endereço em Brasília, com o mesmo telefone e atividade de compra e venda de imóveis.
Entre os bens ligados ao empresário estão 12 carros de luxo – incluindo modelos da Porsche, BMW, Jaguar e Audi – e imóveis em São Paulo e Brasília, como uma casa no Lago Sul comprada à vista por R$ 3,3 milhões. A PF também identificou movimentações imobiliárias sucessivas, em menos de seis meses, que somaram R$ 353 milhões.
Além disso, o nome de Antunes aparece como representante legal de uma empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, o que levanta suspeitas sobre a criação de uma offshore para blindagem patrimonial.
Atuação como lobista
De acordo com a PF, o empresário recebia valores de entidades como CPBA, AP Brasil, Cebap, Unaspub e Asabasp – muitas delas beneficiadas com os acordos de cooperação técnica junto ao INSS.
Ele possuía procurações que lhe davam poderes para firmar ou manter esses convênios com o órgão federal em nome das associações, que então descontavam mensalidades diretamente das aposentadorias dos beneficiários.
Quem é o "careca do INSS"?
Apesar do nome, Antunes nunca foi servidor do INSS, mas é apontado como lobista e operador financeiro das entidades envolvidas.
No LinkedIn, ele se apresenta como executivo do setor de saúde, com passagens por laboratórios e planos de saúde.
Ainda, aponta ter sido superintendente de marketing e comercial, além de diretor de uma empresa de consultoria ligada à indústria farmacêutica.
Em 2022, chegou a doar R$ 1 para a campanha de Jair Bolsonaro (PL), conforme registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O CPF usado na doação é o mesmo citado nas decisões da Justiça Federal sobre a investigação.
O que diz a defesa
Veja a nota já divulgada pela defesa de Antonio Antunes, na íntegra:
"Alberto Moreira e Flávio Schegerin, sócios do escritório Moreira e Schegerin Advogados, responsáveis pela defesa técnica de Antonio Antunes, esclarecem que não comentam processos em curso, principalmente os que tramitam em segredo de justiça.
Reforçam, contudo, que as acusações apresentadas contra seu cliente não correspondem à realidade dos fatos. A defesa confia plenamente que o tempo propiciará uma apuração adequada dos fatos, possibilitando uma atuação ampla e isenta por parte das instituições, em harmonia com o Estado Democrático de Direito.
Estamos certos que ao longo do processo, a inocência de Antonio será devidamente comprovada".