
O padre Patrick Fernandes, fenômeno nas redes sociais com 6,6 milhões de seguidores no Instagram, prestou depoimento nesta quarta-feira (21), na CPI das Bets, na Senado Federal. Conhecido por seu posicionamento crítico à divulgação de jogos de azar, o sacerdote do Espírito Santo se ofereceu espontaneamente para participar da sessão.
Durante a oitiva, Patrick fez duras críticas à atuação de influenciadores digitais que promovem plataformas de apostas. Ele classificou esse tipo de jogo é como um “câncer que está tomando conta de tantas famílias”.
— Eu sei o estrago que isso tem feito na vida de tantas pessoas. Nos últimos tempos, muitas pessoas nos procuram para partilhar situações como essas. Famílias destruídas por conta de jogos — disse o padre, que completou:
— Eu não conheço ninguém que ficou rico jogando. Quem fica rico é quem divulga.
O padre também comentou os depoimentos de influenciadores como Virginia Fonseca e Rico Melquiades, que participaram da CPI afirmaram tratar as apostas como forma de entretenimento, alegando seguir práticas de “jogo responsável”. Patrick contestou esse argumento:
— Ao meu ver, as recomendações do tipo "não jogue se você não for maior de idade" ou "jogue com responsabilidade" são totalmente ineficazes, não funcionam.
Além disso, rebateu o discurso de que a decisão de apostar seria uma escolha pessoal do usuário, como alegam alguns influenciadores.
— Não é simplesmente "joga porque quer". Isso é uma falta de empatia com o ser humano. É ver uma realidade distorcida — afirmou.
Para Patrick, os influenciadores que promovem casas de apostas tem consciência do dano causado com a divulgação destas plataformas.
— Eu gostaria muito de pensar que existe uma inocência, mas não é essa a realidade. Acho que todos têm plena consciência do mal que estão causando — declarou.
Isso porque, de acordo com o religioso, o apelo das apostas se dá por estratégias enganosas de marketing, que vendem a ilusão de enriquecimento rápido, atraindo principalmente jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade.
— Essa ilusão de uma vida fácil é utópica, é utopia. Essas pessoas que incentivam esses jogos, todas elas já estão milionárias, principalmente esses grandes influenciadores — declarou.
O padre também denunciou o uso de práticas desonestas nas publicidades, como vídeos que simulam transmissões ao vivo e contas de demonstração que mostram ganhos irreais.
— Aquilo não é ao vivo, é gravado — alertou.
Por fim, o padre contestou a afirmação de influenciadores que dizem também ser usuários das plataformas de apostas. Segundo ele, há uma contradição entre esse discurso e o estilo de vida luxuoso que levam.
— Quando eles querem entretenimento, eles pegam os jatos deles e vão viajar. Eles não se divertem jogando o joguinho. A gente precisa jogar luz nisso — concluiu.
Padre recebe propostas
Patrick revelou que já foi procurado por empresas do setor e recusou uma proposta de R$ 560 mil para divulgar uma plataforma de apostas.
Ele contou que a oferta foi feita no início da pandemia, quando ainda não tinha um milhão de seguidores.
— Ali eu não aceitei, e pronto. Sempre chega, tem agência que cuida disso, e eles já sabem, nem passam para mim porque sabem que eu não vou aceitar — explicou.
O padre também não poupou críticas às empresas que operam plataformas de apostas online.
— Eu acho que não existe nenhuma responsabilidade social por parte dessas casas de apostas, não acredito que exista por parte deles, e eu vejo como uma ação criminosa — afirmou.
Questionado sobre possíveis soluções para a epidemia das apostas online, o padre defendeu a criação de uma legislação mais rígida para coibir a divulgação desse tipo de conteúdo.
— Eu acho (…) que deveria ter alguma legislação para ao menos inibir as divulgações, os influenciadores que estão fazendo, já que não tem como, pela lei que nos rege, acabar com as casas de apostas. Acho que deveria ter políticas para inibir quem está divulgando, com uma represália maior, imposto, sei lá — sugeriu.
Padre pediu para ir à CPI em Tiktok
O padre Patrick Fernandes participou da CPI das Bets por iniciativa própria. Ele publicou um vídeo no TikTok pedindo para ser ouvido pela comissão parlamentar e, após o apelo, foi oficialmente convidado por meio de requerimento do senador Dr. Hiran (PP-RR), presidente do colegiado.
Na véspera do depoimento, o sacerdote comentou o convite em vídeo publicado nas redes sociais. Ele reforçou que compareceria por vontade própria, com o objetivo de denunciar os danos causados pelos jogos de azar.
— Primeiro de tudo, eu não fui intimado a depor, eu estou indo como convidado. Eu estou indo lá para falar mal das Bets, entendeu?! Eu acho que é uma obrigação profética da Igreja, inclusive. Eu acho que se existem pessoas que estão perdendo a sua dignidade por conta de jogo, viciadas e tomadas, a Igreja tem a obrigação de se manifestar em relação a isso — afirmou.
Patrick também alegou que o motivo por ter recusado propostas para divulgar sites de apostas vai além do fato de ser padre. Para ele, a prática entra em conflito direto com seus princípios.
— Já recebi várias propostas, eu poderia estar milionário, se eu quisesse. Mas eu sempre tive na minha consciência que eu não poderia me envolver com jogo, não simplesmente porque eu sou padre, mas porque eu sou cristão. Seria um erro da minha parte porque isso é contrário ao evangelho — declarou.