
O ex-comandante do Exército Júlio César de Arruda confirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (22), que se reuniu com o general Mário Fernandes e negou que tenham tratado da possibilidade de um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Arruda, general da reserva, foi ouvido como testemunha do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid no processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete aliados são acusados de tentativa de golpe de Estado. O ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso, conduziu a audiência.
No final de 2022, Arruda foi procurado, dois dias antes de se tornar comandante do Exército, por Mário Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais do Exército e então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, que o teria pressionado a impedir a posse de Lula.
Arruda teria expulsado imediatamente Fernandes e dois coronéis de seu gabinete e deu uma ordem: que não voltassem mais ali enquanto ele fosse o comandante. No depoimento, Arruda negou a expulsão. A pergunta sobre o episódio foi feita pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
— Ele esteve lá para conversar comigo no dia 28 — afirmou Arruda.
— Foi conversado sobre eventual impedimento para a posse de Lula? — questionou Gonet.
— Não, senhor — completou o militar.
Segundo a investigação da tentativa de golpe, Mário Fernandes é o autor do plano "Punhal Verde e Amarelo", que incluía um detalhamento para executar, em dezembro de 2022, Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Arruda foi comandante do Exército durante o governo Lula por apenas 21 dias. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse que a decisão de substituí-lo se deve a uma quebra de confiança com o governo. Lula ficou irritado com a resistência no Comando do Exército à permissão para realizar prisões no acampamento de bolsonaristas em frente ao Quartel-General de Brasília na noite da invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
Durante o depoimento, Arruda também negou que teria impedido a entrada de policiais militares no acampamento na noite do 8 de Janeiro. Segundo ele, a função era "acalmar" e fazer uma ação de forma coordenada.
Alexandre de Moraes lembrou o depoimento do ex-chefe da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira, que afirmou a existência de uma mobilização do Exército naquele dia para impedir a ação da PM. Segundo Vieira, Arruda teria dito, com o dedo em riste: "O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?"
Arruda afirmou que havia um clima de nervosismo e disse não se lembrar da fala ao ex-chefe da PM do DF.
Pesou também para a saída de Arruda do comando do Exército a resistência em exonerar Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que tinha sido nomeado para chefiar o 1º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia (GO). Foi grande a pressão para que a nomeação fosse cancelada por Arruda, o que não ocorreu. No depoimento, Arruda disse que Cid já estava designado para a função com quase um ano de antecedência.
A audiência desta quinta-feira, que ouviu as testemunhas chamadas pela defesa de Mauro Cid, foi breve. A sessão durou pouco mais de uma hora e ouviu, no geral, companheiros de Cid durante a formação militar e funcionários da ajudância de ordens da Presidência da República.
Eles relataram desconhecer a existência de um plano de golpe, elogiaram o comportamento profissional do ex-ajudante de ordens e disseram que, enquanto conviveram com ele, não o viam comentar muito sobre política. Gonet e demais advogados presentes pouco perguntaram.
Além de Arruda, depuseram os generais Edson Diehl Ripoli e João Batista Bezerra, o capitão Adriano Alves Teperino e o sargento Luís Marcos dos Reis, que trabalharam com Cid na ajudância de ordens, e o capitão Raphael Maciel Monteiro.
Monteiro foi um dos que comentou o áudio vazado de Cid, em que ele relatou ter sido pressionado pela Polícia Federal durante depoimento. Segundo Monteiro, Mauro Cid ficou abalado após a defesa do próprio implicar outros militares no caso.
— Para o círculo mais íntimo, ele (Cid) tinha necessidade de falar coisas, penso eu, muito irrefletidas, fruto de uma defesa irracional de sua honra — afirmou.