
O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, confirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (21), que presenciou discussões sobre a prisão de autoridades durante uma reunião realizada no Palácio da Alvorada. Ele é uma das testemunhas no processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro é acusado de tentativa de golpe de Estado.
Segundo Baptista Júnior, o encontro foi realizado entre os dias 1º e 14 de novembro de 2022 no Palácio da Alvorada e contou com os três chefes militares e Bolsonaro.
— Isso era um "brainstorm" das reuniões, isso aconteceu — afirmou o ex-comandante.
Ao ser questionado sobre prisões, ele lembrou com mais convicção do nome do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral à época, que seria considerado um dos principais alvos desses planos.
Durante os debates sobre diferentes cenários, Baptista Júnior relatou que, quando a possibilidade de prisão de Moraes foi levantada, alguém presente teria sugerido que seria necessário prender todos os ministros do STF, pois Moraes seria solto imediatamente pelo tribunal.
— Eu lembro que houve essa cogitação de prender o ministro Alexandre de Moraes, que era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). "Amanhã o STF vai dar habeas corpus para soltá-lo, e nós vamos fazer o quê? Vamos prender os outros?" — contou.
Falta de evidências de fraudes nas urnas
O depoimento do ex-comandante da Aeronáutica começou às 11h30min da manhã e durou cerca de uma hora e meia. Ele estava na condição de testemunha apontada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas de três dos oito réus.
Baptista Júnior foi interrogado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, na condição de acusador e autor da ação penal, e ouvido pelos advogados de defesa dos réus do chamado Núcleo 1 ou Núcleo Crucial da articulação golpista.
O ex-comandante também disse no depoimento que, em novembro de 2022, teria alertado o então presidente Jair Bolsonaro sobre falhas no relatório que apontava fraudes nas urnas eletrônicas, produzido pelo Instituto Voto Legal (IVL). O documento foi usado como base para o pedido do PL de anulação dos votos.
— Eu falei: "Presidente, esse relatório está muito mal escrito. Ele contém erros na identificação das urnas" — disse em depoimento ao STF, ao confirmar o que já havia dito à Polícia Federal (PF) durante as investigações sobre a tentativa de golpe.
Baptista Júnior também confirmou que o ex-comandante do Exército general Marco Antônio Freire Gomes informou ao ex-presidente Jair Bolsonaro que poderia prendê-lo caso levasse adiante planos para se manter no poder após derrota na eleição de 2022.