
Em depoimento, nesta sexta-feira (23), o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, negou ter recebido ordens de Garnier para impedir a posse ou dar golpe de Estado com uso de blindados em 2023 — como a investigação da Polícia Federal em novembro do ano passado apontava.
— Não recebi qualquer determinação nesse sentido — disse, ao ser questionado pela defesa do ex-chefe da Força.
Além disso, Olsen disse desconhecer os motivos da ausência do ex-comandante Almir Garnier na cerimônia de passagem do cargo.
No dia 5 de janeiro de 2023, nos primeiros dias de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, Garnier decidiu se ausentar da cerimônia para passar o cargo para Olsen — algo que nunca tinha acontecido na história da instituição.
— Ele não apresentou qualquer razão para sua ausência à cerimônia de transferência do cargo. Desconheço as razões — disse Olsen, que participou de audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta sexta-feira (23) como testemunha de Garnier na ação penal que investiga a suposta tentativa de golpe que teria a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo depoimento dado pelo ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior ao STF nesta quarta-feira (21) Garnier, então chefe da Marinha, teria dito a Bolsonaro que poderia colocar suas tropas à disposição para Bolsonaro dar início a um golpe de Estado após as eleições.
Olsen disse não ter conhecimento das reuniões e que só ficou sabendo dos acontecimentos pela imprensa.
Tanto o procurador-geral da República, Paulo Gonet, quanto o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, insistiram na ausência de Garnier na cerimônia de passagem do cargo.
— Nessa cerimônia o Garnier não compareceu, rompendo uma tradição — observou Moraes.
A ausência de Garnier foi criticada internamente por oficiais-generais do Exército e da Força Aérea. Lula não participou daquela cerimônia e foi representado pelo ministro da Defesa, José Múcio.
Além de Olsen, também foram ouvidos na tarde desta sexta-feira o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), vice-presidente no governo Bolsonaro, e o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo.
A audiência com Rebelo foi palco para bate-boca, com Moraes ameaçando prender o ex-ministro, após ele dizer não admitir "censura".
Já Mourão afirmou desconhecer qualquer reunião que planejasse tentativa de golpe de Estado e culpou o governo Lula pela desordem na capital federal no 8 de Janeiro.
Pedido de dispensa
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu na quinta-feira (22) manter o depoimento do comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, como testemunha na ação penal sobre a trama golpista ocorrida durante o governo Bolsonaro.
Olsen havia pedido dispensa do depoimento e disse que "desconhece os fatos objeto de apreciação na presente ação penal".
O comandante foi indicado como testemunha de Almir Garnier, ex-comandante da Marinha no governo Bolsonaro e um dos réus do núcleo 1 do processo.