A Polícia Federal concluiu as investigações sobre o atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no ano passado. Francisco Wanderley Luiz, 59 anos, morreu após acionar artefatos explosivos em 13 de novembro de 2024, nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito foi encaminhado para a Corte.
De acordo com a apuração da PF, Francisco, conhecido como Tiu França, agiu sozinho, sem participação ou financiamento de terceiros. A motivação do crime foi o extremismo político, conforme a investigação.
A polícia afirma que utilizou diversos meios de prova, com destaque para a análise das comunicações e dos dados bancários e fiscais; exames periciais em todos os locais vinculados aos fatos; reconstituição cronológica das ações do autor antes e durante o atentado; além de oitiva de mais de 12 testemunhas.
Atentado em novembro de 2024
Na noite do dia 13 de novembro de 2024, explosões foram ouvidas na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Primeiro, um carro explodiu no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados, a cerca de 300 metros da Esplanada dos Ministérios. O veículo estava carregado de artefatos explosivos, segundo a polícia.
Segundos depois, houve nova explosão, desta vez próximo da sede do STF. No local, o corpo de Francisco Wanderley Luiz foi encontrado. De acordo com a PF, ele morreu após acionar artefatos explosivos.
Ele estava na capital federal havia três meses e alugou uma casa em Ceilândia, no entorno de Brasília, onde também foram encontrados explosivos.
No dia do atentado, o homem entrou na Câmara dos Deputados, acessando o Anexo IV e um banheiro da Casa. Ele também tentou acessar o STF com explosivos.
Em depoimento à PF na manhã seguinte ao atentado, Daiane Dias, ex-companheira de Tiu França, revelou que o plano dele era assassinar o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Em entrevista à GloboNews, Daiane confirmou que disse aos agentes da PF ter visto seu ex-companheiro realizando pesquisas na internet para planejar o atentado, tentando dissuadi-lo do plano.
Daiane morreu no dia 3 de dezembro de 2024, aos 41 anos, após um incêndio, que teria sido causado por ela na casa onde morava, em Rio do Sul, Santa Catarina.

Postagens nas redes sociais
No dia do atentado, Francisco Wanderley fez postagens nas redes sociais com referências a bombas e explosões e disse que a PF iria ter que "desarmar o equipamento".
"Vamos jogar??? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda", escreveu em prints de telas de celular que postou em sua página no Facebook.
Ele também postou uma foto sua em frente ao que seria o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) vazio, tirada em dia diferente do que houve o atentado, dizendo que "deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro)".
Em outro texto, falou em "revolução", mencionou o dia 15 de novembro, feriado de Proclamação da República, disse que o Brasil ainda não era um país socialista ou comunista, e que os planos para a transformação do regime social do país estariam em uma reta final.
Nas publicações, ele também fazia mensagens com recomendações ao agro e menções a Trump.
Quem era Tiu França
Natural de Rio do Sul, em Santa Catarina, Tiu França era filiado ao Partido Liberal (PL) e já havia se candidatado a vereador em 2020, mas acabou não se elegendo, conseguindo apenas 98 votos.
Ele não possuía antecedentes criminais e em seu perfil no Facebook, se declarava como empreendedor, investidor e desenvolvedor.
Em entrevista ao portal Metrópoles, dias após o atentado, o filho de Wanderley disse que há meses não recebia notícias do pai.
— Ele tinha uns problemas pessoais com a minha mãe e estava muito abalado com a situação, e ele viajou. Foi só isso que ele falou. Ele só queria viajar. A intenção dele era ir para o Chile — disse.
Visita ao STF
No dia 24 de agosto, Francisco Wanderley Luiz visitou o Supremo Tribunal Federal (STF), ocasião que publicou a foto em frente ao plenário.
Ele também esteve na Câmara dos Deputados, visitando o gabinete do deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC).
O parlamentar afirma que conhecia Luiz. Ao jornal Folha de S. Paulo, disse que Tiu França esteve em seu gabinete algumas vezes no ano passado e, por último, em agosto de 2024. Apesar desta última visita, os dois não se encontraram na data do atentado.
— No ano passado, comentei no gabinete que tinha achado ele meio estranho, emocionalmente abalado. Ele falava muito da separação dele. Ele me pareceu meio abalado — afirmou o deputado, que lamentou o ocorrido.
* Produção: Camila Mendes