A deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP) foi a primeira vereadora eleita pelo seu partido, em 2016. Dois anos depois, abandonou o mandato ao ser eleita para uma cadeira na Câmara dos Deputados. Agora, em 2020, ela pretende novamente deixar o cargo pela metade para comandar a prefeitura de São Paulo. Mas não é a única.
Um levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostra que cerca de um quarto dos deputados — 123 de 513 — tem a intenção de entrar em uma nova campanha menos de dois anos após assumir o cargo em Brasília. Caso confirmado, o número de "parlamentares-candidatos" pode ser recorde desde a redemocratização.
A maior quantidade de deputados disputando uma cadeira de prefeito ou vice até então ocorreu em 1996, quando 117 concorreram, além de quatro senadores. Diferentemente de um prefeito que concorre a um cargo no Legislativo, parlamentares não precisam deixar o mandato para fazer campanha, apenas se forem eleitos.
Na lista do Diap estão muitos representantes da chamada "nova política", como a Sâmia Bonfim (PSOL-SP), pré-candidata em São Paulo, Túlio Gadelha (PDT-PE), pré-candidato em Recife, Carlos Jordy (PSL-RJ), em Niterói, e Marcelo Calero (Cidadania-RJ), no Rio de Janeiro.
As candidaturas, porém, ainda precisam ser chanceladas pelos partidos nas convenções — que de acordo com o novo calendário eleitoral por causa da pandemia da covid-19, ocorrerão apenas em setembro. No PSOL, por exemplo, Sâmia deve disputar prévias com o ex-presidenciável Guilherme Boulos.
A pandemia, inclusive, é uma das justificativas dadas pelos parlamentares para o interesse em disputar uma eleição em tão pouco tempo.
— Vão ser eleições difíceis e facilita para candidatos que já sejam conhecidos de alguma forma — disse Sâmia, em referência às restrições que candidatos devem ter para fazer campanha nas ruas e realizar eventos.
A deputada diz não ver traição aos eleitores que votaram nela em 2018.
— Temos muito voto de legenda, o voto no projeto, na ideologia, no programa. Então, os suplentes cumpririam à altura o que se espera de mim. Não teria nenhuma surpresa — afirmou.
Dinheiro público
Além da vantagem que deputados levam por serem conhecidos, outro fator que pesa para o maior interesse nas disputas deste ano é o dinheiro público. Esta será a primeira vez que as campanhas a prefeito e a vereador serão pagas com recursos do fundo eleitoral, criado em 2017.
Ao todo, serão R$ 2,035 bilhões divididos entre as 32 siglas do país. Com as maiores bancadas no Congresso, PT e PSL são os que mais receberão recursos — R$ 201,3 milhões e R$ 199,4 milhões, respectivamente. São também as duas legendas com mais pré-candidatos, 13 do PT e 12 do PSL.
— O fundo eleitoral é um grande motivador. Candidatos vão dispor de recursos para disputar, principalmente, nas capitais e nos municípios acima de 100 mil habitantes — afirmou o analista político do Diap Neuriberg Dias, um dos autores do levantamento.
O analista também lembra que uma mudança na lei feita pelos deputados no ano passado facilitou a transferência de recursos para prefeituras. Agora, deputados e senadores podem destinar emendas parlamentares diretamente aos municípios, sem a necessidade de aval do governo federal, que muitas vezes usa a liberação do dinheiro como moeda de troca em votações de seu interesse no Congresso.
— O segundo ponto (que motiva as candidaturas) é ter acesso a recurso orçamentário. Tem as emendas impositivas, pagas obrigatoriamente, e tem agora a transferência especial (feitas diretamente a prefeituras e governos estaduais) — disse Dias.
Para a cientista política Lara Mesquita, do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp-FGV), a candidatura de deputados tem, em alguns casos, a função de manter o parlamentar em evidência com o seu eleitorado.
— São, por enquanto, pré-candidatos, não sabemos quais vão se efetivar, muitas vezes são sinalizações de força dentro dos partidos — disse. — A candidatura, mesmo de novatos, pode ser uma estratégia, em cima de sobrevivência, de se fazer conhecido dentro do seu eleitorado — afirmou.
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), por exemplo, afirmou ter a intenção de entrar na disputa em São Paulo para se firmar como a candidata da direita.
— A política é algo que se move e se modifica muito rápido. Agora, nesse cenário eleitoral que nós temos na principal cidade do País, não temos nenhum candidato de fato de uma direita racional, que tenha o mínimo de maturidade para disputar essa eleição — disse.
— Óbvio que quando pensei em entrar para a política, não tinha esse plano de disputar a prefeitura de São Paulo, mas é um plano que se impõe nesse momento — completou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.