O ex-deputado federal Marco Maia (PT) é o único gaúcho entre os 21 políticos citados na delação da empreiteira OAS como beneficiados por repasses de caixa dois e propinas. Conforme depoimento do ex-presidente da construtora, Léo Pinheiro, o parlamentar do Rio Grande do Sul teria recebido R$ 1 milhão para barrar investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras — da qual Maia era relator.
A afirmação está em depoimento dado em 2016 ao então juiz da Operação Lava-Jato Sergio Moro (atual ministro da Justiça), homologado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O depoimento é um dos 217 anexados à delação e também é citado num relatório de 73 páginas elaborado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge. O relatório, que estava em sigilo, foi resumido nesta quarta-feira (27) pelo jornal O Globo.
No depoimento a Moro, Léo Pinheiro afirma que manteve, em 2014, reunião com Marco Maia, na qual o parlamentar afirmou que poderia proteger a OAS. O então deputado teria dito que, por ser relator de uma CPMI que investigava a Petrobras e a maioria dos grupos empresariais do país, encontraria dificuldades com doações de campanha. Em troca da ajuda, pediu uma contribuição de R$ 1 milhão, que foi feita pela OAS. Maia, conforme o ex-presidente da OAS, teria indicado um empresário chamado José, ajudante em campanhas políticas, para intermediar o recebimento do dinheiro.
— O deputado Marco Maia foi muito incisivo comigo, o produto final de uma CPMI era o relatório. Ele não poderia receber doação eleitoral oficial porque era o relator da CPMI e não poderia "ter seu nome vinculado a uma das empresas investigadas" na comissão — detalhou o executivo.
Maia já é alvo de um inquérito no STF, suspeito de cobrar propina de empreiteiras para protegê-las nas CPIs de 2014. A investigação contra ele foi aberta a partir da delação do ex-senador Delcídio Amaral, que alegou que Marco Maia e Vital do Rêgo cobravam "pedágio" das empreiteiras, o que agora é confirmado também por Léo Pinheiro.
O deputado nega tudo (veja nota nesta reportagem).
A delação, firmada por oito ex-funcionários da OAS, relata que a empreiteira distribuiu entre 2010 e 2014 cerca de R$ 125 milhões em propinas e repasses de caixa 2 a pelo menos 21 políticos de oito partidos. As doações eram centralizadas na "Controladoria de Projetos Estruturados", um departamento clandestino da empreiteira.
CONTRAPONTO
O que diz o ex-deputado Marco Maia (PT):
GaúchaZH não conseguiu localizar hoje o ex-deputado. Na época em que foi prestado o depoimento de Léo Pinheiro à Justiça, o então deputado Marco Maia distribuiu a seguinte nota:
"Com relação às declarações dadas pelo Sr. Léo Pinheiro as quais cita a minha pessoa, gostaria de dizer. Tais afirmações são mentirosas, fruto de retaliação de um criminoso por mim indiciado na CPMI. Refuto com indignação tais ilações!Fui relator de uma CPMI em 2014, onde foi pedido o indiciamento daqueles que hoje me acusam. Foram 52 indiciamentos, mais o pedido de investigações de 20 empresas ao CADE pela prática de crime de cartel. Como já havia afirmado anteriormente, não recebi nenhuma doação para minha campanha eleitoral de 2014 de quaisquer empresas que estivessem sendo investigadas por tal CPMI. Por fim, utilizarei de todas as medidas legais para que a verdade seja estabelecida e para que os possíveis desgastes a minha imagem parlamentar seja reparado em sua integralidade".