
A renovação dos Legislativos é uma das marcas das eleições municipais na Serra. Enquanto Caxias do Sul e Bento Gonçalves formaram cerca de metade da legislatura 2021 a 2024 com novos nomes, outros dois importantes municípios da Serra elevaram ainda mais o percentual de diferentes vereadores eleitos em relação a 2016. É o caso de Farroupilha e Flores da Cunha.
Em Caxias, 12 dos vereadores eleitos em 2020 não estavam na Câmara. Em Bento, oito dos 17 são novos. Já em Farroupilha, a renovação foi maior: 11 dos 15 vereadores que assumem em 2021 não faziam parte da bancada atual, o que corresponde a 73% de renovação. Taxa maior ainda foi alcançada em Flores da Cunha que elegeu apenas dois dos nove vereadores atuais para a próxima composição da Câmara, o que representa 77% de renovação.
A reportagem calculou os dados a partir de informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ainda que os nomes sejam diferentes em relação à eleição municipal anterior, vale lembrar que parte dos próximos vereadores já ocupou o cargo anteriormente, em vagas de suplentes. Entre os aspectos que favoreceram a renovação, está o fato de que os próprios partidos colocaram nomes diferentes à disposição. Em Flores da Cunha, por exemplo, apenas quatro dos atuais vereadores concorreram à reeleição e um componente da legislatura em vigor, Cesar Ulian (PP), foi eleito prefeito.
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O cientista político João Ignacio Lucas Pires explica que existe uma projeção geral de renovação em torno de 30% dos Legislativos mesmo sem a influência do eleitor. Isso porque parte dos candidatos deixa de concorrer ou busca posição em outros cargos, como prefeito ou vice. O professor avalia que quando a renovação fica acima dos 50%, o cenário traz normalmente uma sensação de desalento do eleitorado:
— Existem algumas variáveis que incidem (no cenário), impactando esse fenômeno, como cidades que passam por impeachment, que é sempre um processo traumático. Assim como eventualmente aquela pessoa impeachmada perde direitos políticos, gera uma renovação na administração, mas também os vereadores que passaram por aquele processo ficam marcados. Existe um desgaste para além já do natural, uma atuação parlamentar que precisa prestar contas e resolver problemas. Agrega-se mais uma variável que é essa do impeachment, como aconteceu em Caxias e Farroupilha.
Pires salienta que a conjuntura atual também é de muita crítica aos políticos. A análise é de que existe um impacto até mesmo das redes sociais que permitem interação com o cenário nacional e internacional, situação que impacta na avaliação da política local.
Partidos
Quando se analisa o cenário dos partidos representados, também é possível notar uma mudança na composição, ainda que o número de partidos permaneça igual nos três municípios verificados pela reportagem. Republicanos, Cidadania e PL, por exemplo, são novidades. Já o MDB encolheu em Bento, Flores da Cunha e Farroupilha, enquanto o PP cresceu nas três.
Em Bento, a próxima legislatura continuará a ter nove partidos, mas com a saída do PPS e entrada do Cidadania. O PP, do prefeito Guilherme Pasin, aumentou o número de cadeiras, de cinco para seis. O PSDB, do prefeito eleito Diogo Siqueira, do mesmo grupo político que está no Poder Executivo, conseguiu manter duas vagas na Câmara. Já o MDB encolheu e ficou com três cadeiras, enquanto o PDT ganhou uma e ocupará duas posições. O DEM continuará com dois vereadores.
Em Flores da Cunha, o MDB, do prefeito Lídio Scortegagna, saiu derrotado no Executivo e perdeu uma vaga no Legislativo, enquanto o PP comandará a prefeitura, com Cesar Ulian, e ainda conseguiu uma cadeiras a mais na Câmara. O PDT permanece com um vereador e o Republicanos é a novidade da próxima Legislatura, no lugar do PTB que deixa de ter bancada.
Em Farroupilha, além do Republicanos também ser novidade em relação a 2016 com um vereador eleito em 2020, o PL é outra sigla a entrar na Câmara, com dois eleitos. O MDB, sigla tradicional na cidade, perdeu duas vagas e fica com três vereadores. Já o PP, do prefeito eleito Fabiano Feltrin, terá quatro vagas, duas a mais que a atual legislatura. O PSB, do prefeito Pedro Pedrozo, tem uma cadeira a menos e formará bancada de dois vereadores. O PDT também segue com duas vagas. A REDE conseguiu se manter com uma cadeira. Já o PT e o PSD deixam de estar representados.
A eleição deste ano foi a primeira sem as coligações de partidos para as candidaturas de vereadores. Até 2016, as siglas se uniam para eleger candidatos bem conhecidos e os chamados puxadores de voto colaboravam para eleger também candidatos dos outros partidos coligados. Para os especialistas, a mudança colabora para uma visão melhor da escolha porque antes o eleitor podia acabar elegendo, por causa do quociente eleitoral, partidos em que não votou e que não representam suas ideias. Pires destaca que a mudança não contribuiu para a diminuição das bancadas nas Câmaras, devido à redução do quociente eleitoral já que houve crescimento das abstenções, votos brancos e nulos, além de mudança na legislação:
— Isso causa um efeito importante, porque Câmaras de Vereadores mais dispersas, mais fragmentadas dificultam a governabilidade e, esporadicamente, pode até resultar em impeachment já que os candidatos que conseguiram a vitória no Executivo nem sempre lidam com Câmaras favoráveis.