O PDT de Caxias do Sul chega no dia de sua convenção municipal estraçalhado. De um lado, estão as lideranças dos órgãos de ponta (movimentos Comunitário Trabalhista, Juventude Socialista, Sindical Trabalhista, Cultural e Ação da Mulher Trabalhista), os ex-vereadores como Pedro Incerti e Harty Moisés Paese e o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho. Do outro, os quatro vereadores da atual legislatura: Rafael Bueno, Velocino Uez, Ricardo Daneluz e Gustavo Toigo.
A eleição que pretende dar um novo rumo ao PDT acontece neste sábado (18), das 13h às 17h, no plenário da Câmara de Vereadores. O partido busca um nome para cumprir o mandato da Executiva municipal. Com a inscrição de apenas uma chapa, o atual tesoureiro do partido, o advogado Maurício Flores, deverá presidir a sigla pelos próximos dois anos. Flores já foi assessor de Incerti na última legislatura.
A nova Executiva deverá compor com vereadores caso queira mantê-los no partido até a próxima eleição. Do contrário, Bueno, Daneluz e Uez devem deixar o partido na próxima janela partidária em fevereiro de 2020. A sigla que elegeu a maior bancada do Legislativo deve perder força com a saída de três parlamentares.
As divergências internas e externas iniciaram-se com as nomeações de cargos de confiança (CCs) na Câmara Municipal. As lideranças partidárias pretendiam manter o acordo informal que previa acomodar pelo menos um suplente como CC da bancada. Com a saída do primeiro suplente, Jaison Barbosa, devido a condenação por improbidade administrativa, o segundo, Miguel Graziottin, não quis assumir por compromissos particulares. O terceiro e quarto suplentes Jó Arse e Pedro Incerti, respectivamente, teriam sido fritados pela bancada. O racha acentuou-se no início de fevereiro deste ano, quando Daneluz apresentou um projeto de lei que propõe a extinção do passe livre do transporte coletivo no último domingo de cada mês. A proposta trouxe mal-estar à direção partidária. No final de abril, o Movimento Comunitário Trabalhista (MCT) do Rio Grande do Sul pediu a expulsão de Daneluz.
Também em resposta à Daneluz, o diretório municipal aprovou na última segunda-feira o regimento interno. Entre os pontos polêmicos estão as indicações dos CCs da bancada que caberiam à direção partidária, e não mais aos vereadores. Além disso, os parlamentares teriam de apresentar os projetos que pretendem protocolar na Câmara para o partido. As medidas são tratadas como censura pelos vereadores.
Troca de presidentes marcou mandato
Além dos atuais impasses, o PDT caxiense passou por outros dois momentos de conflitos. No início de novembro passado, o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) pediu afastamento da presidência da legenda por um período de 180 dias. Os motivos foram as críticas da Juventude Socialista e dos movimentos comunitário e sindical após manifestar apoio a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno das eleições presidenciais. Alceu contrariou a orientação do PDT nacional, que era de apoio crítico a Fernando Haddad (PT). Os representantes dos três segmentos pediram punição ao ex-prefeito por não atender à diretriz partidária. Passado seis meses, Alceu está compondo com o grupo que cogitou sua expulsão do partido.
Com o afastamento de Alceu da presidência, o ex-deputado estadual e 1º vice-presidente, Vinicius Ribeiro, assumiu o comando do partido. Ele afirmou que a sigla precisava se reinventar e se distanciar dos partidos que apoiaram a corrupção no Brasil, além de falar menos do passado e mais do futuro. No início de janeiro, Vinicius pediu licença da presidência e também do partido em Caxias. O motivo seria o retorno da deputada Regina Becker Fortunati (PTB) para a Assembleia, o que lhe retirou uma cadeira durante o recesso parlamentar. Ela havia assumido a Secretaria do Trabalho e Assistência Social do Governo Eduardo Leite, mas deixou o cargo para voltar ao parlamento. Antes disso, a Assembleia teria "esquecido" de convocar Vinicius para participar de sessão extraordinária que votou a estrutura administrativa do Estado, com criação e fusão de secretarias.
Com as saídas de Alceu e Vinicius, a 2ª vice-presidente, Maria Aparecida Stecca, a Cida, liderança comunitária caxiense, assumiu a presidência do partido. Ela morreu no dia 10 de maio após ser internada vítima de uma parada cardiorrespiratória. Cida será homenageada durante a convenção deste sábado.
A CRISE EM 5 MOMENTOS
:: Em outubro no ano passado, iniciaram as divergências entre a direção do partido e os vereadores para definir os CCs da bancada da sigla na Câmara.
:: Em novembro do ano passado, Alceu Barbosa Velho pede afastamento da presidência devido a ameaça de expulsão devido ao apoio a Jair Bolsonaro, então candidato à Presidência. O 1º vice-presidente, Vinicius Ribeiro, assume.
:: No início de janeiro, Vinicius pede licença da presidência e do partido em Caxias. Ele não foi convocado para assumir o mandato na Assembleia Legislativa durante o recesso parlamentar.
:: A 2ª vice-presidente, Maria Aparecida Stecca, a Cida, assumiu a presidência. Ela morreu no dia 10 de maio, após ser internada vítima de uma parada cardiorrespiratória.
:: No início de fevereiro, o vereador Ricardo Daneluz protocolou projeto de lei que propõe a extinção do passe livre do transporte coletivo no último domingo de cada mês. A medida irritou a direção partidária.
SERVIÇO
O quê: Convenção Municipal do PDT.
Quando: neste sábado, das 13h às 17h.
Onde: plenário da Câmara de Vereadores.
O QUE DIZEM
"Vejo a convenção como o momento certo para ampliar as discussões e abordar os rumos da agremiação. Posições e encaminhamentos divergentes fazem parte do jogo democrático." Gustavo Toigo, vereador
"Está uma verdadeira balbúrdia. Onde não há diálogo, resta o caos. É preciso ter união e resistência, caso contrário, um partido com o legado de Brizola estará correndo sérios riscos." Rafael Bueno, vereador
"Estou fora do processo eleitoral do PDT. Com todas as questões sobre uma possível expulsão minha, não vou participar." Ricardo Daneluz, vereador
"Não tenho divergência com nenhum membro do partido. Estarei na convenção às 14h. Vou permanecer por pouco tempo, pois terei compromisso na comunidade." Velocino Uez, vereador
"Não tenho como comentar sobre isso, pois ainda não tivemos convenção." Maurício Flores, tesoureiro do PDT
"O acordo de novamente evitar eleições e fazer um "acordão", sem preocupação com participação daqueles que "têm voto" me parece um retrocesso e um oportunismo. Tal qual os vereadores, não fui procurado para integrar o diretório. A falta de clareza da posição oficial sobre as declarações do Vinicius (Ribeiro) e da não observação do estatuto partidário na questão Jaison (Barbosa) fala muito contra o que está sendo acordado. O PDT, como disse o (Rafael) Bueno, pode implodir nas próximas eleições." Miguel Graziottin, segundo suplente de vereador
* O suplente de vereador Jó Arse foi procurado pela reportagem, mas não quis se manifestar.