
Com armamento de guerra e vestidos como policiais, há exatamente um ano criminosos assaltavam o aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul. O crime, na noite de 19 de junho, tinha como alvo um avião, com origem em Curitiba, que transportava R$ 30 milhões de um banco — R$ 14,4 milhões foram levados.
O assalto, o maior do RS, deu origem à investigação da Polícia Federal (PF) já desmembrada em duas fases e que resultou em 31 prisões. Sete identificados seguem foragidos. Da primeira etapa da chamada Operação Elísios, 19 identificados foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça. Todos viraram réus por crimes como latrocínio e organização criminosa.
A investigação respondeu as principais dúvidas sobre a ação criminosa, que também resultou na morte de um policial militar e de um assaltante. Na segunda fase da operação, deflagrada em maio deste ano, a PF revelou que foi um funcionário da empresa de transportes de valores quem avisou o grupo criminoso sobre o dinheiro e que um líder de uma facção de atuação nacional está envolvido no assalto.
O então servidor da empresa foi preso durante a operação. O líder identificado da facção, conforme a PF, seria Alex Santos Pereira. O suspeito seria membro do núcleo de liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC). Já o financiador do crime, segundo a polícia, seria Josemir Matias da Silva, conhecido como "PP". A dupla estaria foragida na Bolívia. A facção gaúcha Bala na Cara também estaria envolvida no crime.
Outro ponto revelado pela investigação foram as estratégias adotadas para lavagem do dinheiro roubado. Mensagens descobertas entre criminosos mostram sugestões de usar organizações não-governamentais (ONGs) ou igrejas como fachada para o crime.
A segunda fase da operação cumpriu, ainda em maio, 17 ordens de prisões preventivas e quatro de prisões temporárias, além de 26 buscas domiciliares e do bloqueio de contas bancárias e bens. Mais de 200 policiais federais executaram, simultaneamente, as medidas judiciais nos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Foram ações em cidades gaúchas de Taquara, Parobé, Gravataí e Caxias do Sul, na catarinense Navegantes, em Curitiba, no Paraná, e em São Paulo.
Relembre o crime
Na noite do assalto, a ação teve início um pouco antes das 19h, quando nove criminosos se aproximaram do aeroporto caxiense em três caminhonetes pretas - uma Frontier, uma Outlander e uma Santa Fé. O voo com os R$ 30 milhões chegaria às 19h na aeronave de modelo King Air C90 Gti.
Para acessar a pista, os bandidos uniformizados caracterizaram os dois primeiros veículos com emblemas da PF e acessórios como o giroflex. A intenção era enganar funcionários e vigilantes do terminal. O terceiro veículo ficou em frente ao portão 2 do aeroporto para servir de apoio na fuga.
A ação, como registraram as câmeras do Hugo Cantergiani, começou exatamente às 19h27min, no mesmo portão. Após três pessoas serem feitas refém, seguranças foram rendidos e obrigados a colocar o dinheiro nas caminhonetes. O grupo reuniu-se na Santa Fé para o início da fuga, mas foi surpreendido pela Brigada Militar. Na troca de tiros, o 2º Sargento da BM, Fabiano Oliveira, foi morto aos 47 anos.
Após o tiroteio, fugiram na Santa Fé e na Outlander com R$ 14,4 milhões. A Frontier ficou para trás com um dos criminosos mortos e R$ 15,6 milhões.
Os oito criminosos fugiram até uma área rural do bairro Galópolis, em uma das saídas de Caxias, onde abandonaram os dois veículos e embarcaram em uma van escolar para despistar as autoridades. Eles foram levados até um sobrado em Farroupilha para, dois dias depois, começarem a sair do Estado em direção à região Centro-Oeste.