
Em dezembro, terá início a construção do elevador panorâmico da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes da Terceira Légua, em Caxias do Sul. A estrutura, idealizada desde o início deste ano e que promete transformar a experiência de acesso ao santuário, deve ser concluída em outubro de 2026.
O projeto, idealizado pelo frei Jaime Bettega e conduzido inteiramente por um grupo de 41 voluntários (entre engenheiros, arquitetos, biólogos, geólogos, administradores e especialistas em montanhismo), nasce do desejo de garantir acessibilidade a todos os visitantes, especialmente idosos e pessoas com mobilidade reduzida.
A gruta, de propriedade da Mitra Diocesana de Caxias do Sul, fica em meio à natureza no Travessão Santa Rita. Atualmente, para chegar até ela, o visitante precisa descer (e posteriormente subir) uma escadaria com 150 degraus (cada um deles representa uma oração do rosário).
— O elevador é um sonho somado à necessidade. Muitas pessoas desejam visitar o local, mas a escadaria se torna um impedimento. Queremos que todos possam acessar esse espaço de fé, de beleza e de encontro com a natureza — destaca frei Jaime.

Com o projeto técnico e ambiental já aprovado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), o grupo agora entra na fase de execução. A primeira etapa será a concretagem da base estrutural, prevista para dezembro.
Segundo Bettega, o projeto mantém o compromisso de preservação ambiental, uma das principais diretrizes desde o início. Quatro árvores precisaram ser retiradas para dar espaço à fundação, mas duas já estavam secas. Para compensar, serão plantadas mudas equivalentes no próprio local.
Um mirante em forma de “M” e coração
Além do elevador, o complexo incluirá um belvedere (mirante) que simboliza a espiritualidade do local. A estrutura foi desenhada em formato de “M” de Maria, também lembrando um coração, de onde emerge uma cruz estilizada. O espaço, com mais de 270 metros quadrados, permitirá ao visitante uma vista panorâmica do vale, das parreiras e da cascata ao lado da gruta.
— Pensamos o belvedere como um espaço de contemplação e oração. Ele traduz o sentido do projeto: fé, acolhimento e beleza. Será um lugar para ver a natureza e também para se ver com o coração — comenta frei Jaime.
O arquiteto Carlos Sartor, um dos voluntários responsáveis pelo projeto, explica que toda a concepção foi guiada por princípios de mínima interferência no ambiente natural e respeito à vocação espiritual do local.
— Trabalhamos com a premissa de preservar a essência da gruta. Intervimos o mínimo possível. O elevador será panorâmico, de vidro, e se integra à paisagem sem agredir. A natureza é o elemento central, e a fé, o que dá sentido a tudo — afirma Sartor.
De acordo com o frei Jaime Bettega, a empresa que irá fornecer o elevador ainda não foi definida. No momento, o grupo analisa quatro propostas.

O elevador será construído principalmente em concreto, ferro e vidro, permitindo uma visão ampla durante todo o trajeto. A capacidade deve ser entre 14 e 16 pessoas, com espaço suficiente para acomodar uma maca em caso de emergência durante as atividades de rapel ou montanhismo — práticas que já tornaram o local uma referência nacional nesse tipo de esporte.
O piso do mirante também será de vidro, criando uma integração total com o entorno. O projeto está sendo orçado em torno de R$ 800 mil, valor que será 100% custeado por meio de doações e eventos comunitários, sem uso de recursos públicos.

Fé, inclusão e um novo roteiro turístico
A equipe também investe em campanhas e eventos para arrecadar recursos. Um dos momentos mais aguardados será a Festa da Gruta, em fevereiro de 2026, cujo resultado será revertido à obra. O projeto ganhou até um slogan: A fé acessa todos os caminhos.
— Esse lema traduz tudo o que estamos fazendo. A fé precisa ser acessível a todos. É um gesto de acolhimento e inclusão — resume frei Jaime.

Conforme o religioso, quando estiver pronto, o elevador não apenas facilitará o acesso à gruta, mas também ampliará o potencial turístico da Terceira Légua. O entorno, com suas cantinas e paisagens rurais, deve integrar um novo roteiro de turismo religioso e de natureza.
— Será um atrativo turístico de grande valor, sem perder o caráter espiritual. A ideia é que as pessoas encontrem ali um espaço de paz, beleza e fé — completa o frei.
Religiosidade e aventura
Para chegar à gruta de Nossa Senhora de Lourdes da Terceira Légua, percorre-se 16 quilômetros desde o centro de Caxias do Sul, pela Estrada do Imigrante. Descoberta nos anos 1940 por caçadores que frequentavam a região, a gruta serve de abrigo à capela inaugurada em 1949.
Há 76 anos, os moradores da Terceira Légua se reúnem no segundo domingo de cada mês para a celebração religiosa, dia em que a visitação à cascata é proibida, assim como a prática de rapel e escalada. Nos demais dias, a visitação à gruta e à cascata é permitida e gratuita.
No local, há também uma trilha de aproximadamente 15 minutos pela mata nativa que leva até uma cascata.




