
Vencer a negativa familiar ainda é um dos grandes desafios dos profissionais da saúde para aumentar as doações de órgãos em Caxias do Sul. No Pompéia Ecossistema de Saúde, que é referência na captação na Serra, os processos apresentam uma curva oscilante nos três últimos anos, com pico em 2023, quando foram realizadas 34 doações de múltiplos órgãos.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) não tem um recorte de procedimentos por município. No Estado, o último levantamento, de setembro, revela que quase 3 mil pacientes aguardam por uma doação compatível. O dados apontam que a maioria — 1.496 pessoas — precisa de um rim.
— A variação de um ano para o outro também reflete se o paciente pode ou não doar, porque há casos com contraindicação. Mas, ainda hoje, temos familiares que negam a doação por conta de não saberem como funciona o processo. O que vemos muito é que as famílias não sabem o desejo daquela pessoa, se ela gostaria ou não de ser doadora, porque é algo que não conversamos em casa — pontua a enfermeira do Banco de Olhos e coordenadora da equipe de doação de órgãos para transplante do Pompéia, Ana Paula Concatto Casagrande.
O procedimento segue um protocolo. A partir da suspeita de morte encefálica do paciente, uma equipe especializada acolhe e orienta os familiares sobre a possibilidade da doação de órgãos. Para além da falta de diálogo em vida, a enfermeira do Pompéia observa que existem mitos que envolvem o assunto e que pesam na decisão.
— Muitos têm o receio da cirurgia para a captação, porque desejam manter o corpo íntegro. Já ouvimos também sobre aspectos religiosos, embora a gente saiba que nenhuma religião é contrária à doação — comenta a profissional.
Cabe reforçar que a todo o processo é feito gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além da conversa com amigos e familiares, o desejo de ser doador pode ser registrado em cartório. O serviço é oferecido de forma gratuita no Rio Grande do Sul.
A manifestação funciona como uma ferramenta de convencimento, mas não exclui a autorização da família após o falecimento. O processo pode ser feito pelo site www.e-notariado.org.br ou em qualquer Tabelionato de Notas.
Saiba mais
No Pompéia, funciona uma Organização de Procura de Órgãos (OPO), que é responsável pela parte logística da procura de doadores de órgãos e tecidos nos hospitais localizados na sua área de atuação.
Na região, são capacitados para diagnóstico e retirada de órgãos todos os hospitais caxienses; o Tacchini, de Bento Gonçalves; o São Carlos, de Farroupilha; o Arcanjo São Miguel, de Gramado; e o próprio Pompéia, onde são também realizados os transplantes de rins e córneas, quando há compatibilidade. Os demais órgãos são destinados a Porto Alegre.
Doações de múltiplos órgãos no Pompéia
- 2022: 19
- 2023: 34
- 2024: 27
- Até 8 de outubro de 2024: 22
- Até 8 de outubro de 2025: 18





