
A manhã ensolarada deste sábado (4) foi marcada por fé, gratidão e muito carinho no estacionamento da Igreja dos Capuchinhos (Paróquia Imaculada Conceição), em Caxias do Sul. Dezenas de tutores levaram seus animais de estimação para participar da tradicional bênção dos animais, celebrada anualmente no Dia de São Francisco de Assis, patrono da ecologia e dos animais.
A bênção, que começou às 9h, seguiu até o meio-dia. Minutos antes do início da celebração, o espaço da paróquia, na Rua General Sampaio, no bairro Rio Branco, já estava tomado por famílias e seus pets. O frei Jaime Bettega, que conduziu a bênção, destacou o significado do gesto como um convite à fraternidade e à harmonia com toda a criação.
— Um dia muito, muito especial. E nós estamos felizes. Porque São Francisco é o santo que conseguiu reunir e ver o sagrado em toda a obra da criação. E estar aqui dando a bênção aos animais, às aves, tudo aquilo que é bichinho de estimação das famílias, é também dar a benção à própria família no afeto que se tem pelos animais e também traduz um pouco do grande afeto que nós temos entre as pessoas. Nós não adoramos um santo, nós aprendemos com um santo a vida na sua dimensão de contemplação da obra da criação e também no respeito com o todo da criação — afirmou o religioso.
Além da bênção, o evento teve caráter solidário: os tutores foram convidados a contribuir com doações de leite e alimentos não perecíveis, destinados à Associação Mão Amiga, que auxilia famílias em situação de vulnerabilidade.
O encontro também contou com a presença de professores e alunos do curso de Medicina Veterinária da UCS e com a unidade móvel do Instituto Hospitalar Veterinário (IHVET), que ofereceram orientações sobre cuidados e bem-estar animal.

Entre cães, gatos e outras aves, uma presença diferente chamou atenção: a coruja Zaya, cujo nome significa Luz da Lua, segundo o tutor, Fernando Sozo, 52 anos.
— Em 2014, eu desenvolvi um amor por esses bichos. Acabei entrando em contato com os criadores legalizados através do Ibama e fui autorizado a comprar.
O processo, no entanto, exigiu paciência.
— Desde lá, a gente ficou numa fila de quatro anos esperando. Em 2018, ela nasceu e veio pra mim com 28 dias. Uma das ideias era para tê-la como pet é fazer educação ambiental, levar nas escolas, e que ela fosse criada solta e não presa.
Companheiros de fé e afeto
O advogado Leonardo Maineri, 59 anos, chegou acompanhado da cachorrinha Shaky, de 12 anos. Ele conta que a relação com os bichos vai muito além do simples cuidado cotidiano:
— Os bichos fazem parte da família como se fossem membros efetivos em ação. Eu estou com a Shaky há 12 anos. Ela já é uma senhora. É uma parceira querida, uma amiga para todas as horas.
Para ele, a bênção representa um gesto de respeito e reconhecimento.
— Finalmente, a sociedade começou a respeitar os animais. E esse ato aqui eu acho que é muito importante. São Francisco de Assis era o protetor dos animais e nada como os capuchinhos para dar essa benção, e eu fiz questão de trazer ela.
Leonardo aproveitou o momento para agradecer também pela recuperação recente de Shaky, que passou por um procedimento delicado.
— A Shaky fez uma cirurgia há um mês de retirada da vesícula. Ela já retirou os pontos e agora já está ativa — contou.
Já a engenheira civil Emily Petry, 27 anos, acompanhada da mãe, Marijuana Petry, 60, levou a gatinha Mima, de 19 anos. A relação, segundo Emily, começou ainda na infância:
— A Mima entrou na minha vida em 2007, quando eu tinha oito anos, e desde então a gente segue por aí juntas. Todos os anos a gente vem aqui pegar a bênção pra manter ela assim, bem saudável. A gente tem até medalhinha de São Francisco, somos muito devotas dele.
Mesmo já apresentando sinais da idade, Mima segue sendo uma fonte de afeto constante.
— A Mima é bem carinhosa. E agora com a idade ela já está um pouquinho esquecidinha das coisas, mas está muito bem, recebendo muito amor sempre.
Uma nova chance para recomeçar

A bênção também abriu espaço para a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas) promover a causa da adoção responsável. Em parceria com o Departamento de Proteção Animal (DPA), foi realizada no local uma feira de adoção com quatro cães de porte menor: Ciro, Eliseu, Bilia e Vanda, todos em busca de um novo lar.
Segundo a coordenadora do DPA, Elisa Zanolla, 38 anos, o momento foi pensado para dar visibilidade aos animais que aguardam por acolhimento no Canil Municipal.
— Hoje nós trouxemos quatro cachorrinhos de porte menor, mas no Canil Municipal, atualmente, nós temos 400 animais pra adoção. Então temos cães e gatos de todos os portes.
Os animais disponibilizados carregam histórias de superação, marcadas por situações de abandono, maus-tratos e acidentes.
— Resgatamos todos eles de situações de maus-tratos ou de atropelamento, muitos às vezes machucados. Então, todos eles têm alguma história triste por trás.
A missão, segundo Elisa, vai além do cuidado: é sobre dar a chance de reescrever trajetórias.
— A gente luta bastante para que todos eles tenham uma nova oportunidade para ganhar uma família e para que eles esqueçam essa parte ruim da vida e conheçam o amor. Então o nosso intuito aqui é realmente que eles sejam vistos e sejam adotados.
Mural celebra o Cântico das Criaturas e a diversidade de São Francisco

Durante a programação deste sábado, também foi inaugurado o Mural do Cântico das Criaturas, no muro do Museu dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul, localizado ao lado da paróquia. A obra celebra os 800 anos da escrita do texto de São Francisco de Assis, que inspira a relação de respeito e cuidado com a natureza e todos os seres vivos.
O mural é resultado de uma ação coletiva idealizada pelo Frei Celso Bordignon, com recursos arrecadados por meio de uma vaquinha virtual que contou com a colaboração de cerca de 60 pessoas e entidades.
— Tinha esse muro aqui na frente do convento, do bosque do convento, escuro. Aí veio essa ideia de fazermos essa pintura mural. E foi todo um projeto que foi sendo trabalhado por um bom tempo. Então colocamos os quatro continentes, representados por quatro Franciscos. Então, isso aqui é para as pessoas passarem, contemplarem e se inspirarem a cuidar da natureza.
A pintura foi realizada pelos artistas Gustavo Gomes, Vitória Catarina, Gilberto Dinnebier, Henrique Merussi, Rafael Possamai e Stang e traz elementos que simbolizam a criação e a proteção à vida, além de quatro representações de São Francisco — latina, europeia, africana e asiática —, simbolizando a diversidade e a fraternidade universal.
— Nós pintamos sobre um basalto, uma pedra rígida, que simplesmente ao nosso olhar, já se torna algo comum. Mas a partir de quando trouxemos cor no mural, a comunidade foi respondendo ao mesmo tempo. Muitos idosos também passam nessa rua, que tem uma história com a igreja, com os freis, então acho que isso tudo só veio a se tornar uma somativa. Quando a gente pinta algo assim, isso sempre tem um toque. Então ele se apresentou muito mais nesse mural. Eu também gosto muito do São Francisco. É algo que está presente também na minha cultura. Então foi uma honra sem dúvida pintar isso para a nossa comunidade — salientou o artista Gustavo Gomes.
A inauguração teve a participação do tenor Giovanni Marquezelli, que se apresentou durante a cerimônia, emocionando o público com canções dedicadas à espiritualidade franciscana.





