No Dia do Consumo Consciente, celebrado neste 15 de outubro, data criada pelo Ministério do Meio Ambiente em 2009 para estimular escolhas mais sustentáveis e responsáveis, a Escola de Ensino Fundamental São José, no bairro Capivari, em Caxias do Sul, mostra como é possível transformar a teoria em prática dentro da sala de aula — ou melhor, fora dela.
Há um ano, a instituição filantrópica desenvolve o projeto Verde Esperança: Cultivando Saberes, Valores e Sustentabilidade, que une educação ambiental, alimentação saudável, responsabilidade social e até educação financeira em um trabalho coletivo que envolve alunos, famílias, professores e voluntários.
— A nossa escola sempre teve esse olhar para a natureza, para a sustentabilidade. Estamos em meio à natureza aqui na escola. Mas com o projeto conseguimos colocar esse cuidado em prática, de forma mais profunda — explica a diretora Andrieli Bolzan Giediel, 34 anos.
O projeto nasceu do sonho do voluntário Oscar Rech, morador da região e atuante na comunidade católica local, que apresentou à escola a proposta de construir uma estufa. A ideia foi abraçada e ganhou forma com o envolvimento de funcionários, famílias e professores.
— Antes, as crianças tinham contato com a horta das irmãs (Congregação das Irmãs de São José de Chambéry), mas como dependia do clima, eram experiências curtas. Com a estufa, conseguimos criar um espaço permanente, uma sala de aula viva, onde todos participam — conta Andrieli.

A coordenadora pedagógica Vanessa de Aguiar, 38, acrescenta:
— Com esse espaço, o cuidado com o meio ambiente deixou de ser apenas discurso. Ele virou rotina, parte da vida escolar. Cada turma tem seu dia para cuidar, regar, plantar e colher.
Na estufa e nas áreas verdes da escola, os cerca de 400 alunos — de quatro a 11 anos — participam do cultivo de alfaces, tomates, beterrabas, brócolis, morangos, temperos e árvores frutíferas. Cada etapa é acompanhada de atividades pedagógicas: pesquisas sobre os alimentos, leitura de histórias sobre sustentabilidade, aulas de ciências e até culinária com os produtos colhidos.
Os restos de alimentos são usados na composteira e transformados em adubo. Há também um minhocário, um aquário com peixes e até uma tartaruga que fazem parte do aprendizado sobre cuidado e respeito à vida.
Economia e cidadania
O projeto ainda envolve educação financeira. As crianças do 5º ano assumem a liderança das vendas do que é cultivado, feitas em datas divulgadas para as famílias e a comunidade.

— Eles anotam as vendas em planilhas, fazem o troco, produzem cartazes de divulgação. O lucro é revertido para o próprio projeto, garantindo melhorias e novas mudas — explica Vanessa.
A primeira experiência de comercialização ocorreu durante uma reunião de entrega de resultados.
— Foi um sucesso, vendemos tudo. Hoje, a comunidade até nos procura espontaneamente: perguntam se tem alface pronta para vender. Isso mostra o engajamento que o projeto conquistou — comemora Andrieli.
Fé, pertencimento e comunidade
Como escola católica, o projeto Verde Esperança também é permeado pela espiritualidade. O espaço conta com uma gruta de Nossa Senhora Aparecida, construída com pedras escolhidas e colocadas pelas próprias crianças, além da bênção do padre da comunidade na inauguração da estufa.
A participação das famílias tem sido fundamental. Pais e mães não apenas compram os produtos, mas acompanham os filhos no cuidado com a horta.

— As crianças chegam em casa explicando como cuidar das plantas, como usar a água da chuva, como funciona a composteira. Muitas famílias relatam mudanças nos hábitos de consumo a partir dessas experiências — afirma Vanessa.
Com 20 turmas divididas entre manhã e tarde, 90% delas de alunos bolsistas, a Escola São José acredita que o projeto é mais do que uma atividade escolar.
—É gratificante ver o envolvimento das crianças, a curiosidade delas, o interesse das famílias. Isso não para, está sempre em movimento — afirma a diretora.
"Para mim, são 400 netos”
Jardineiro da Paróquia São Ciro e um dos idealizadores da iniciativa, o voluntário Oscar Rech, 64, é figura fundamental do projeto Verde Esperança.
— O padre Daniel Zatti (pároco da Paróquia São Ciro) e a comunidade escolar me convidaram para fazer o projeto aqui, e a coisa foi acontecendo — lembra Rech.
Segundo ele, a construção da estufa — hoje o coração do projeto — foi possível graças à união de esforços.
— Para você ter uma ideia, essa estufa aqui, nós tivemos muita doação. O telhado foi doado, as mesas foram doadas, as portas foram doadas. Teve uma participação muito bonita da comunidade. Eu nunca ia imaginar que ia sair um projeto desse. Foi acontecendo — afirma.

O resultado, destaca, é um espaço que vai além da horta. Para Rech, trata-se de uma sala de aula para as crianças aprenderem a lidar com a natureza. E a maior recompensa, segundo ele, é acompanhar a alegria dos estudantes.
—Não tem preço. Para mim, são 400 netos. O carinho que eles têm fortalece cada vez mais para nós darmos continuidade. Eu não faço esse projeto para o colégio. Para mim, eu estou fazendo o projeto para as crianças. É as crianças que têm que aprender a lidar com a natureza e a respeitá-la.
“É uma alegria estar conectado com a natureza”
Mais do que uma atividade pedagógica, o projeto tem mudado a forma como as crianças da escola se relacionam com o meio ambiente. Para os estudantes do 5º ano, que atuam como líderes do projeto, a experiência tem sido transformadora.
— (O projeto) é para nós termos contato com a natureza mesmo, que é uma das coisas que faltam hoje em dia para as crianças. Muitas ficam só na frente de uma tela, jogando, e não se divertem mais como era um dia, que ficavam até tarde jogando bola na rua, brincando — reflete Thiago Rodrigues, 10.

O colega Gabriel Henrique Angst, 11, explica como eles atuam no dia a dia:
— A gente auxilia regando, plantando. E quando tem as vendas das alfaces, quando elas estão grandes, a gente ajuda a colocá-las dentro da sacola, colocar na tabela o preço.
Para Thiago, a vivência na horta vai além da prática:
— Ah, é um sentimento de alegria, porque não tem como ficar mais feliz do que conectado com a natureza e com a terra.





