
A eletrificação está transformando a frota de veículos particulares no Rio Grande do Sul. Dados do Sincodiv-RS/Fenabrave indicam que até maio desse ano, um em cada 10 carros emplacados era elétrico. Uma simples caminhada pela área central de Caxias do Sul comprova os números - boa parte dos carros novos que estão em circulação são modelos elétricos.
Com custos operacionais reduzidos, como a manutenção, isenção do IPVA e gastos baixos para recarregar em comparação com o abastecimento de gasolina, etanol ou diesel, os modelos elétricos têm ganhado mais adeptos.
Mas apesar de todos os benefícios, uma questão ainda causa dúvidas sobre migrar para os elétricos: onde recarregar o veículo? Basicamente há duas opções em Caxias do Sul — pontos de carregamento públicos, que podem ou não ser gratuitos, e bases de carregamento residenciais, instaladas em casas ou condomínios.
Conforme o aplicativo PlugShare, Caxias do Sul conta com 42 pontos de carregamento para carros elétricos. A plataforma, que pode ser instalada gratuitamente em celulares, mapeia as bases de carregamento situadas em áreas públicas ou comércios.
Os motoristas podem filtrar a busca por cidade, por modelo de veículo ou conector (espécie de tomada que pluga no carro para carregar), quantidade de carregadores no local ou comodidades próximas, como restaurantes, banheiros, hospedagem, ou área de compra.
Aliás, a instalação de pontos de carregamento em restaurantes, cafés e shoppings é uma tendência que ganha força com o aumento da frota elétrica. Conforme Alessander de Vargas Vieira, consultor técnico comercial da Magnani, os estabelecimentos têm explorado a necessidade dos motoristas de recarregar o carro e transformado o tempo de espera em uma oportunidade de venda.
— A maioria desses pontos de conveniência são gratuitos. Isso porque os estabelecimentos entendem que o motorista vai parar ali para fazer o carregamento. Como o tempo de abastecer é maior do que com um veículo a combustão, o motorista acaba ficando ali e toma um café, faz um lanche — pondera.
Apesar da facilidade, os motoristas devem ficar atentos a alguns detalhes das bases de carregamento que podem influenciar o tempo da carga. Confira alguns detalhes apontados por Vieira:
Quanto tempo demora para fazer uma recarga?
Depende do percentual de bateria que o carro tem. Quanto menor o percentual de carga, maior o tempo para a bateria ser recarregada. Outro fator que influencia no tempo é característica da base de carregamento. Mas em geral, no mínimo 30 minutos, até quatro horas.
As bases de carregamento são todas iguais?
Não. Há bases de carregamento de corrente contínua, que carregam mais rápido e geralmente são pagas; e bases de corrente alternada, que carregam mais lentamente, normalmente instaladas em pontos de conveniência.
Os conectores são todos iguais?
Não, há vários tipos de conectores (espécie de tomada que pluga no carro para a recarga). No entanto, a maior parte das fabricantes optou por adotar o modelo Tipo 2, um dos mais utilizados em todo o mundo. O modelo Tesla (Roadster) é o mais difícil de ser encontrado fora da região de São Paulo.
Quanto custa para fazer uma recarga?
Os valores variam conforme o local, mas em média, o custo para “encher o tanque” do carro elétrico é cerca de R$ 80.
Carregadores em casa: qual o caminho para adaptar o espaço e instalar a base de carregamento
O primeiro passo para ter um ponto de carregamento em casa ou em um prédio é buscar referências com a concessionária onde o carro foi comprado. Conforme Mégui Dal Bó, arquiteta especialista em prevenção contra incêndio e pânico, seguir as orientações da marca é parte essencial do projeto. Isso porque é a concessionária que irá indicar uma empresa homologada para instalar o ponto de carregamento.
— Para que o cliente não perca a garantia do carro, o ideal é ter a base de carga instalada por uma empresa autorizada. Essa companhia precisa ter um eletricista ou engenheiro elétrico, que irá fazer o projeto elétrico de alteração da rede da casa — explica.

Conforme ela, apenas um ponto de tomada e um ponto de disjuntor são instalados nas casas, permitindo que a base de carregamento seja instalada. Outro fator que torna o processo em residências mais simples é a dispensa do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio, o PPCI.
Por outro lado, quando se trata de implantar bases de carregamento em prédios, o cenário é mais complexo. A sugestão da arquiteta é transformar um espaço da área externa na base para o carro elétrico. Esse espaço seria utilizado de forma coletiva e seria gerenciado por uma empresa especializada, responsável por fazer a cobrança de cada recarga.
— Da mesma forma, a marca dos carros pode indicar uma empresa homologada para o serviço. A diferença é que nesses casos, se adquire uma base de carregamento que possa ser usada por todos os carros. Tem várias marcas no mercado, basta conferir com o condomínio qual é autorizada. A instalação acontece da mesma forma que nas casas, com o projeto elétrico — detalha.
Caso não haja espaço na área externa, a orientação é instalar a base de carregamento dentro da estrutura do prédio, normalmente em uma das vagas da garagem. O processo é o mesmo adotado na parte externa, contudo pode estar sujeito a mudanças.
As exigências da nova diretriz
Em agosto desse ano foi publicada a Diretriz Nacional sobre Ocupações Destinadas a Garagens e Sistemas de Alimentação de Veículos Elétricos (Save), que estabelece regras para a instalação de bases de carregamento na área interna de prédios, condomínios e estacionamentos.
Confira as principais exigências da diretriz:
- Instalação de quadro elétrico exclusivo para cada carregador;
- Botão de desligamento de emergência a até 5 metros de distância;
- Sinalização obrigatória dos pontos de recarga;
- Distanciamento mínimo de 5 metros das rotas de saída em garagens com apenas uma rota;
- Projeto técnico específico com sistemas automáticos de combate a incêndio, exaustão mecânica e estruturas resistentes ao fogo por pelo menos 120 minutos;
- Para edifícios existentes há necessidade de adequação com laudo técnico, sistemas de detecção de incêndio e proteção hidráulica conectada aos hidrantes;
- A instalação deve ser feita por profissionais habilitados e empresas credenciadas, com responsabilidade compartilhada entre o técnico e o síndico ou administrador.
As normas deverão ser revisadas pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado, que poderá apontar alterações das regras nacionais. Até o momento, o prazo de adequação para os prédios que já possuem bases de carregamentos internos é de 180 dias, ou seja, até final de fevereiro de 2026.
Autonomia para carregar e poupar
No início do ano passado, Nicolas Montes de Oca, de 47 anos, estava com a estrutura da casa que reside e da empresa que possui prontas para receber um carro elétrico. Os espaços receberam painéis solares e os carregadores para o veículo, tudo elaborado para gerar a própria energia e "encher o tanque" de forma independente.
— Investimos R$ 53 mil ao todo. Foram R$ 25 mil em cada painel e mais R$ 1,5 mil para a instalação dos carregadores. A experiência deu tão certo que em novembro compramos o segundo carro elétrico, esse compartilhado com os funcionários que moram em Bento Gonçalves e fazem o bate-volta diário para trabalhar — explica.

A aposta surtiu efeito: mesmo com dois veículos sendo carregados em casa e na empresa, o consumo regular de energia não foi impactado. Em cerca de seis horas os carros recuperam a carga total, estando aptos a circular pela cidade e também a fazer viagens mais longas.
— Como atendo muito clientes em outras cidades e fora do Estado, costumo fazer viagens usando o carro elétrico. No começo o receio era maior, mas agora é muito tranquilo. O PlugShare ajuda a encontrar os pontos de recarga, então basicamente é se planejar. Teve uma vez que saí do Rio Grande do Sul e fui até Curitiba, foram cerca de sete mil quilômetros, muito tranquilos, com o elétrico — conta.
Segundo ele, os valores para recarregar o carro variam conforme o Estado. Em média, o empresário calcula R$ 80 reais para uma carga em pontos mais econômicos e R$ 120 em bases com preço mais elevados. Mesmo assim o custo-benefício compensa o valor pago, tanto que ele está planejando comprar um terceiro veículo para integrar à rotina.





