
Nesta sexta-feira (10), completam-se seis meses da inauguração do Centro de Capacitação e Comércio (CCC) em Caxias do Sul. O balanço do primeiro semestre de funcionamento é de que a iniciativa cumpre com o objetivo de regularizar a situação de vendedores ambulantes e realizar cursos profissionalizantes gratuitos, mas não tem compensado financeiramente para quem ocupa as bancas do local.
Antonio Ribeiro, 52 anos, conserta relógios e vende acessórios para vestuário. Faz cinco meses que ele deixou de comercializar produtos na calçada da Rua Marechal Floriano, perto da esquina com a Avenida Júlio de Castilhos, para trabalhar no CCC.
— O bom é que aqui não molha tua mercadoria quando chove, não precisa recolher todo dia. Mas o problema é o dinheiro que não entra. Tá ruim a coisa — lamenta.

O relato de Ribeiro, que precisa sustentar esposa e enteado, é semelhante ao de colegas, que ainda não viram lucro no novo espaço. Uma das principais reclamações é de que a população não conhece ou não se sente atraída a frequentar o empreendimento, instalado no prédio do Caxias Plaza Shopping.
— Não tem placa, não tem nada indicando o que tem aqui. As pessoas que chegam dizem "ah, não conhecia, estou só olhando o espaço", e vão embora — aponta Ribeiro.
O senegalês Abib Diallo, que exerce um papel de liderança entre os comerciantes, é otimista quanto ao sucesso do negócio. Ele também reconhece que é preciso aumentar a divulgação para atrair mais público.
— Na rua era diferente, toda hora carga e descarga, monta e desmonta. Pelo menos aqui está tudo bem arrumado, é muito melhor, os colegas estão gostando. Mas precisamos de mais tempo para as pessoas conhecerem. Ficamos muitos anos na rua, aqui ficamos seis meses, não tem como comparar — avalia.

"Não ganhamos R$ 100 no dia"
Em duas manhãs desta semana, em que o fluxo de pedestres já era intenso nas ruas e lojas da área central da cidade, o CCC parecia desconectado à essa realidade, registrando pouco ou nenhum cliente. Enquanto isso, os donos das bancas aguardavam pacientemente por uma oportunidade para vender, na maioria das vezes, camisetas, moletons, calças, tênis e outros artigos de vestuário.

O CCC pode ser acessado pela Rua Sinimbu ou pela Avenida Júlio de Castilhos, o que torna o local também um corredor para atravessar a quadra. A aposentada Avelina Maria Souza da Silva, 74, diz que outro dia comprou um par de meias, mas que estava só de passagem nesta quarta (8).
— Passo por aqui de vez em quando, agora para fazer um caminho mais curto, e daí já dou uma olhadinha. É um lugar bom porque eles podem expor seus produtos — opina.

Há comerciantes, ainda, que deixam suas mercadorias sob os cuidados dos colegas para desempenhar outros trabalhos e levantar uma renda extra. Ribeiro, por sua vez, não garante que seguirá no local:
— Não sei, a partir do mês que vem teremos que pagar o espaço (aluguel), mas não ganhamos R$ 100 no dia. Vamos fazer o que? Acho que vou ficar até o mês que vem e achar outra coisa para fazer.

"Bom desempenho, apesar das dificuldades"
O Centro de Capacitação e Comércio é gerido pela Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico. O titular adjunto da pasta, Silvio Tieppo, considera que o desempenho do CCC é bom, apesar das dificuldades. Ele promete trabalhar para dar mais propaganda ao estabelecimento.
— Estamos de olho em ações estratégicas para cada vez mais poder potencializar o local, porque eles estão aqui com seus filhos, suas famílias, e precisam de dignidade e prosperidade. Vamos fazer ações para que haja um conhecimento da população, vamos pôr sinalização do CCC nos relógios da cidade — afirma.
Um dos pontos que avançou em relação ao primeiro mês da abertura foi a elaboração de um regimento interno, com consultoria do Sebrae, que foi concluída. O documento contém diretrizes de organização, responsabilidades, horários e dias de funcionamento (segunda a sábado, das 8h às 19h, e aos domingos e feriados, com definição prévia) e outras normas de convivência e participação do centro. A ideia é pôr o regramento em prática a partir do ano que vem, conforme Tieppo, para dar tempo às adaptações.

Os comerciantes devem começar a pagar aluguel pelo uso das bancas em breve: o valor varia entre R$ 379 e R$ 529, a depender da metragem do espaço. O secretário adjunto adianta que irá definir na semana que vem, junto ao Ministério Público, quando a cobrança entra em vigor — a previsão é para novembro. Ele estima que 80% dos ex-ambulantes têm condições de arcar com o custo a partir do que arrecadam com o trabalho.
Em parceria com o Sebrae, o Senai e outras entidades, são realizados cursos e palestras, no 2° andar. De fevereiro até aqui, mais de 1,5 mil pessoas participaram de atividades como modelagem, corte e costura, LID e Metrologia e Boas Práticas na Alimentação (inscrições neste link). No local, também é sediado o Banco do Vestuário, que promove ações de voluntariado, e a Sala do Empreendedor, responsável por orientar e atender às demandas dos microempreendedores individuais (MEIs).
— Tivemos oito turmas do curso de Costureiro Industrial, manhã e tarde, um curso de 160 horas, com certificado profissionalizante — exemplifica Daniela Barbosa Maino, diretora de planejamento da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico.
Os ex-vendedores ambulantes foram cadastrados como MEIs para atuar no CCC, e também participam de cursos nas temáticas de gestão, marketing e finanças.
— Estamos incentivando que tenham um produto mais diversificado, porque eles estavam muito na linha do têxtil, de produtos iguais — complementa Tieppo.
O coordenador do CCC, Flávio Antônio Fernandes, conta que equipes de prefeituras como Santa Maria, Pelotas e Venâncio Aires visitaram o local para conhecer a iniciativa.
— Avançamos bastante, mas mudança sempre leva um tempo, eles estavam em um local (calçadas do Centro) em que passavam 50 mil a 60 mil pessoas por dia. Tenho certeza que o CCC será um sucesso. Vemos que eles têm vontade, estamos trabalhando juntos — projeta.





