
Com o aumento nos índices relacionados ao abastecimento de água e tratamento de esgoto, Caxias do Sul subiu 11 posições no Ranking do Saneamento 2025. O município ocupa, agora, a 51ª posição. Promovida pelo Instituto Trata Brasil (ITB), a pesquisa monitora dados das cem maiores populações do país, com base no Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa).
Desde o ano passado, Caxias vem em crescimento no ranking. Depois de cair para 67ª posição em 2023, o município voltou a 62ª colocação no último ano e agora sobe novas posições. Desde então, os índices em abastecimento total de água, coleta de esgoto e esgoto tratado também aumentaram.
Em 2023, por exemplo, no atendimento total de água, Caxias estava com 97% da população atendida. No ranking de 2025, o indicador saltou para 99% no município com 463 mil habitantes, conforme dados do IBGE. Nesse mesmo quesito, o índice segue de 100% na área urbana.
Já na coleta de esgoto, Caxias aproxima-se a 93%, enquanto em 2023 era de 89%. Da mesma forma, o índice de esgoto tratado saltou de 39% para 46% no mesmo período. Os dados do levantamento são baseados nos números de 2023.
Resultado positivo graças às obras, avalia presidente do Samae
O diretor-presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), João Uez, avalia que o desempenho positivo de Caxias tem relação com as obras de esgotamento sanitário efetuadas no município, como de implantação e extensão das redes. No Estado, a cidade é a segunda melhor colocada, ficando atrás apenas de Porto Alegre, que está na 49ª colocação.
— Muitas vezes as pessoas falam que o Samae só sabe abrir buraco, que a prefeitura isso e aquilo. Mas é exatamente para chegar nesses números. Pegamos exemplos em âmbito nacional, eu sou vice-presidente da Semai, que é a Associação Nacional de Municípios que tem empresas públicas de água e esgoto. Tem município que não tem 2% de esgoto tratado — declara o diretor-presidente.
Os índices de Caxias também estão acima da média nacional. No abastecimento total de água é uma das 23 cidades que atendem mais de 99% da população – a média no país é de 93,91%. Na coleta de esgoto a média nacional é de 77,19%, enquanto que no esgoto tratado é de 45,43%. Uez projeta que o esgoto tratado ultrapasse os 50% após os trabalhos deste ano. Em média, a autarquia faz 10 quilômetros de novas redes de tratamento de esgoto por ano.
— Só quem já teve o esgoto, um exemplo, estourado na frente de casa, vazando, ou quem não tem esgoto, que muitas vezes tem que largar no pátio, na área verde, no córrego de forma clandestina, dá valor para isso. E isso demonstra essa preocupação. Porque não é só a questão de fazer o buraco, repavimentar, botar o cano, mas é uma questão de saúde. Se pegar o grande nível de cidades onde não tem esgoto tratado, a questão de saúde, de doenças, de epidemias, de gente no postinho de saúde, é muito maior — observa Uez.
A projeção do diretor-presidente é de que, no próximo ranking, Caxias torne-se a melhor cidade do Estado, uma vez que o levantamento leva em consideração obras já concluídas. Relacionadas ao esgoto sanitário e abastecimento estão em andamentos obras como na Rua Hércules Galló, com custo estimado de R$ 1,5 milhão, da bacia do Madureira e Universitário, com investimento de R$ 23,5 milhões, e também em locais como São Luiz da 6ª Légua.

Principais obras relacionadas ao saneamento básico em andamento
- Obra da Hércules Galló: com custo estimado de R$ 1,5 milhão, tem prazo de conclusão previsto para o fim de agosto. A etapa do Sistema de Esgotamento Sanitário Tega está sendo feita pela empreiteira Dcon, e vai instalar 613 metros de uma coletora tronco de esgoto e outros 675 metros de redes menores.
- Obra da bacia Madureira e Universitário (Bacia ETE Tega): faz parte do contrato firmado junto à Construtora CFO e contempla também os projetos dos Bairros Petrópolis (Bacia ETE Pena Branca), Cruzeiro do Sul (Bacia ETE Pena Branca) e extensões de rede, totalizando 43.053,50 metros de redes principais de esgoto. O investimento previsto, conforme o contrato, é de R$ 23.568.845,05. A obra está quase em 48%.
- Obra do Desvio Rizzo (Bacia ETE Samuara): integra o contrato firmado junto à Construtora Pelotense e contempla redes de esgoto e drenagem no bairro Desvio Rizzo. Totaliza 9.039,81 metros de redes principais de esgoto e 3062,11 metros de redes de drenagem. O investimento previsto, conforme contrato, é de R$ 10.048.252,73. A obra está quase em 35% de execução.
O Samae também realiza investimentos em obras como da macrodrenagem na Perimetral Sul, com valor de R$ 7,4 milhões. O trabalho, contudo, não entra no levantamento do Trata Brasil por ser uma solução para alagamentos na Zona Sul. Também entrará em licitação o pacote chamado Canaliza Caxias, que contempla 83 ruas e avenidas de 35 bairros com obras de drenagem, esgoto e saneamento. O valor previsto é de R$ 110 milhões.

Loteamentos aguardam por estrutura
Do outro lado, loteamentos de Caxias enfrentam transtornos por não possuírem os sistemas completos. De acordo com o Samae, são áreas que estão em regularização fundiária a partir da prefeitura de Caxias e a autarquia aguarda os processos para trabalhar nos locais. Pelo menos três comunidades foram ouvidas e relatam situações como esgotos a céu aberto, acúmulo de água e, consequentemente, a aparição de larvas e mosquitos.
No Monte Carmelo, ouvido em 2023 pelo Pioneiro pela mesma situação, os moradores relatam que houve poucos avanços. Uma das principais demandas do loteamento, com cerca de 3,6 mil moradores, o "valão" – um esgoto a céu aberto que corta a comunidade – segue sem resolução. É nele que cai o esgotamento de muitas residências do loteamento.
Um dos transtornos causados pelo local, como para quem mora próximo a ele, na Rua Vitória, é o mau odor. Morador do Monte Carmelo, Ronaldo Alves, 35, relata que a mãe, que vive perto do valão, precisa lidar diariamente com a situação:
— Tem minha mãe que é idosa, tem 75 anos, e é um cheiro ali que 'tá louco'. Faz um pouco mais de um ano que ela veio morar aqui.

Em outros trechos do loteamento, há situações em que a falta do sistema completo faz com que o esgoto passe entre as casas e, obviamente, na rua. É o caso de Elenita Moraes de Souza Silva, 52, que vive há mais de 20 anos no Monte Carmelo.
— Os canos estouram com a chuva porque aumentou muito o bairro. E o esgoto desce na vizinha, passa dentro do pátio, escorre no canto da garagem, no pátio e vai para o meio da rua. O fedor aqui é horrível — relatou Elenita.
"As pessoas reclamam muito do cheiro"
No Portinari, na região do bairro Cruzeiro, o cenário se repete. O presidente da Associação de Moradores do Bairro (Amob) do loteamento, Clóvis Barboza, 62, afirma que a estrutura da área com 150 famílias é "bem precária", com a maioria dos esgotos abertos. Além do cheiro, os moradores notam a proliferação de baratas e mosquitos.
— É muito transtorno. As pessoas reclamam muito do cheiro — contou Barboza, que mora há três anos no loteamento.
No Jardim dos Reis, onde vivem 33 famílias, os próprios moradores reuniram-se e juntaram recursos para eliminar os esgotos nas ruas, como contam Juane Souza, 40, Joelma Cristina da Fonseca, 43 e Solange de Quadros, 47, presidente da Amob. Contudo, o loteamento segue sofrendo com o transtorno causado pelo acúmulo de água em dias de chuva, que, junto de buracos, dificulta o acesso ao local pela Avenida Sírius.
— Nosso único problema, que passamos dificuldade, é essa água que é uma vertente e não temos onde dar escape para ela. Os canos compramos do nosso bolso. A luz aqui, os postes, é das famílias que fizeram vaquinha — contou Juane.
Segundo moradores, ônibus escolares e veículos de serviço, como ambulâncias, não conseguem acessar o loteamento por conta da condição do acesso, prejudicado especialmente pela água.
Projeto de esgotamento sanitário no Portinari terá licitação
Em nota, a assessoria da Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU) explica que projetos como de drenagem pluvial e esgotamento sanitário do loteamento Portinari serão licitados. Os documentos estão, no momento, com a Central de Licitações (Cenlic) da prefeitura.
Conforme a pasta, em julho de 2024, o munícipio foi selecionado no programa Moradia Digna, que destina verba federal por meio de contrato com a Caixa Econômica, para a contratação de projetos técnicos necessários à regularização do Portinari. Neste mês, após os envio dos documentos solicitados e cumpridas as etapas pós seleção, a Caixa Econômica autorizou a prefeitura a abrir processo licitatório para a contratação do projeto urbanístico, projeto de drenagem pluvial, projeto de esgotamento sanitário e projeto de pavimentação.
Conforme a assessoria, o município fará investimento próprio para realizar o Estudo de Cobertura Vegetal da área.


