Via de maior importância histórica para Caxias do Sul, a Avenida Júlio de Castilhos volta ao centro de um debate envolvendo reformas e revitalizações. O vereador Elói Frizzo (PSB) tem se manifestado, na Câmara, a favor do levantamento de um estudo para tornar o logradouro, que corta a cidade de leste a oeste, um corredor de ônibus do transporte coletivo.
Com uso da Júlio pela linha troncal (TR01), os ônibus ganhariam, projeta o parlamentar, maior frequência de horários e fluidez no deslocamento entre as Estações Principais de Integração (EPIs) Imigrante, na BR-116, e Floresta, na Perimetral Oeste.
O cerne da proposta, conforme Frizzo, é solucionar as tranqueiras do trânsito causadas pelas conversões à direita de veículos particulares nos atuais corredores de ônibus. A manobra — que chegou a ser proibida anos atrás — é permitida, mas pode atrasar o fluxo dos coletivos em ruas como Sinimbu e Pinheiro Machado, especialmente nos horários de pico.
— Como é que a gente poderia conviver com esse problema de acessar à direita em corredor de ônibus? É retornar o corredor da Júlio (Frizzo recorda que a via era trafegada por coletivos até o início dos anos 1980). Além de dar vida de novo para o Centro, tem a questão do ônibus elétrico, que pode andar por ali. Tu crias um corredor exclusivo de ônibus na Júlio, liberando tanto a Sinimbu quanto a Pinheiro Machado para poucas linhas (de bairros) — detalha o vereador.
Uma vez priorizada ao transporte coletivo, a avenida teria o movimento de veículos de passeio restrito aos moradores de imóveis da via, na concepção de Frizzo.
A Júlio de Castilhos é caracterizada, especialmente nas quadras centrais, entre a Feijó Júnior, passando pela Praça Dante Alighieri, até a Vereador Mário Pezzi, por uma avenida estreita, de duas mãos dividida por canteiro, com pavimento de paralelepípedo, tráfego de veículos em velocidade reduzida e intensa movimentação de pedestres.

Frizzo garante que esses fatores não são impeditivos para uma nova cultura de trânsito de ônibus e embarque e desembarque.
— (O ônibus) pode andar a 40km por hora que cumpre tranquilamente a função, e tu passas a trabalhar o conceito de calçadão, do (Monumento ao) Imigrante até a Perimetral — defende.
O parlamentar afirma que aguarda posicionamento da Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM) para, na sequência, elaborar um projeto no Legislativo que proponha a inclusão da iniciativa no Plano Diretor de Transportes e Mobilidade Urbana (Planmob).
Vocação para pedestres
O Planmob, que reúne diretrizes para investimentos e ações, e serve como guia à Secretaria Municipal de Trânsito, não prevê a implantação de faixa exclusiva para ônibus na Avenida Júlio de Castilhos.
O diretor de projetos da SMTTM, Talivan Tavares, destaca que o estudo, concluído no ano passado, atribui à via o oposto: a vocação aos pedestres. Ela está inserida no chamado plano de pedestrianização, que prevê uma reestruturação da Júlio, entre a Feijó e a Alfredo Chaves, com alternância no alargamento de calçadas.
— As faixas de ônibus estão expostas nas ruas Sinimbu e Pinheiro Machado, onde já temos os corredores com pavimentação em concreto e os pontos de parada. Seria difícil fazer uma implantação de faixas exclusivas na Júlio de Castilhos — salienta o técnico.

Como exemplo, Tavares também menciona falta de espaço para estações nos moldes das instaladas em frente à Catedral Santa Teresa, na Sinimbu, e ao antigo Ópera, na Pinheiro, por exemplo.
— Quando tu ofertas mais faixas de circulação para veículos, tu terás mais veículos — alerta o diretor de projetos da SMTTM, em referência à posição de dar o lugar de ônibus para carros, e reforça:
— O próprio Planmob trouxe uma ideia diferente: prioridade para pedestre, modos de circulação não motorizados, transporte coletivo e, na última instância, os veículos privados.
Ainda que o Planmob recomende a proibição da conversão à direita nas faixas de ônibus, a secretaria não pretende, por ora, atender à sugestão.

"Sucateamento" dos atuais corredores de ônibus
Para o ex-secretário de Trânsito de Caxias, ex-vereador e arquiteto Edson Marchioro, a proposta de reconfigurar a Júlio ao transporte coletivo seria um "desperdício dos recursos" empenhados na construção dos atuais corredores de ônibus.
Elaboradas em concreto rígido, as faixas exclusivas suportam a passagem de veículos pesados, dispensando a necessidade de manutenções periódicas, como o asfalto convencional.
Segundo dados da SMTTM, o corredor de ônibus da Sinimbu, colocado entre a Feijó Júnior e a BR-116, em trecho de 2,92 quilômetros, custou R$ 5,43 milhões. Na Pinheiro Machado, entre a Treze de Maio e a Feijó Júnior, com 2,25 quilômetros, o investimento foi de R$ 4 milhões. Ambas as obras têm quase dez anos, foram concluídas entre novembro de 2015 e janeiro de 2016.

Também contam com a estrutura reforçada pontos de ruas como Moreira César, Pio XII, Bento Gonçalves e Marechal Floriano. Ao todo, são 10,1 quilômetros de pista em concreto, com custo total de R$ 18.822.724,44.
— Ou seja, se investiu milhões no projeto e agora uma proposta visa sucatear esses corredores — opina Marchioro.
Na ótica dele, a grande dificuldade de ligação em Caxias é entre as regiões norte-sul que, diferentemente do fluxo leste-oeste, não conta com EPIs.
— O uso de calçadas traz o contato humano, a Júlio de Castilhos é essencial para manter esse quadro claro. (O Planmob) é um conjunto de ações que vai encaminhar a melhor resolução desse problema. Dá para revitalizar, mas sempre no sentido de preservar como área de circulação de pessoas, de encontro de pessoas — complementa.
Marchioro condena a permissão da conversão à direita:
— Quando os motoristas vão a Porto Alegre e querem dobrar uma via à direita, eles têm que andar uma, duas quadras, fazer um loop na quadra e sair na transversal. É assim que funcionam as cidades.

Troncalização norte-sul
A secretaria de Trânsito está verificando áreas para construção de três novas estações principais de integração do transporte coletivo. O equipamento exige um terreno de 10 mil a 12 mil metros quadrados.
Os pontos estudados para erguer as EPIs são, conforme Tavares:
- Norte: área em torno da rotatória da Moreira César com a RS-122 e ruas Professor Luiz Facchin e Ângelo Agostini, no acesso aos bairros Pioneiro, Centenário e Fátima;
- Sul: no bairro Kayser, nas proximidades da Avenida Bom Pastor;
- Nordeste: no bairro São Ciro, em direção ao bairro Serrano.
14 anos atrás, o debate era outro
Em 2011, estava em alta outro debate sobre intervenções na Júlio de Castilhos: o fechamento do trânsito entre as ruas Alfredo Chaves e Garibaldi. A proposta, destacada em reportagem do Pioneiro no dia 14 de abril, também era de Frizzo.
É que, sete anos antes, a cidade deixou de ter o calçadão no Centro com a abertura da Júlio, em projeto de revitalização da Praça Dante.

A ideia de Frizzo consistia, ainda, que as ruas transversais permanecessem com tráfego livre, e que o perímetro entre a Garibaldi e a Feijó Júnior tivesse calçadas alargadas e a fiação aérea retirada.
Na época, o movimento dividiu opiniões — assim como a abertura do calçadão — de quem trabalhava, morava ou frequentava a região, e de lideranças políticas.
Hoje, Frizzo reavalia aquela proposta:
— Em 2011, ainda não tínhamos essa realidade de mais de trezentos mil veículos transitando em Caxias, e nem a Uberização. Tempos diferentes. Que bom que não foi implementado. Já o corredor de ônibus na Júlio já foi usado por mais de cinquenta anos, portanto testado e aprovado. O fato de não termos tido a visão à época de que os corredores, principalmente da Sinimbu e da Pinheiro, deveriam ter sido implementados no meio da pista e não nas laterais, criou esse problema de como fazer a conversão à direita sem trancar a passagem dos ônibus.