
Em cerca de 36 horas, entre terça-feira (17) e quarta (18), Caxias do Sul registrou 161 milímetros de chuva. O dado é do pluviômetro instalado junto à Estação de Tratamento de Água (ETA) Parque da Imprensa, no bairro Lourdes. O número ultrapassa a média histórica para junho no município, que é de 144mm.
Por conta da precipitação, 11 pessoas foram retiradas de casa na Vila São Pedro, em Vila Cristina. Conforme a prefeitura, a Defesa Civil tomou a decisão por precaução. Oito adultos e três crianças foram encaminhadas para a casa de passagem Carlos Miguel dos Santos e recebem apoio da Fundação de Assistência Social (FAS). Já os bombeiros afirmam que resgataram doze pessoas.
No local, vivem 15 famílias, mas nem todas quiseram deixar as casas, segundo o tenente Armando da Silva. Silva também acrescenta que a área da antiga Usina de Asfalto da Codeca, na Vila Maestra, foi interditada. Em maio do ano passado, um homem morreu no local.
O distrito de Vila Cristina é monitorado pela prefeitura, bem como os bairros Reolon e Galópolis. No Reolon, residências foram interditadas na Rua Pedro Girardi e os moradores foram orientados a desocupar preventivamente os imóveis. Conforme a assessoria da FAS, os moradores possuem local para ficar. Em Galópolis, os moradores foram colocados em estado de alerta.
Segundo a prefeitura, os moradores das ruas próximo às encostas, como a José Casa, Antônio Chaves e José Comerlato foram orientados a ficarem atentos a qualquer movimentação de terra, árvores e postes inclinados.
Cenário diferente do ano passado
Especialista do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o professor Rodrigo Paiva afirma que a chuva que atinge o Estado nesta semana não deve causar um cenário hídrico similar ao vivido na enchente de maio de 2024.
— Ainda há previsão de mais chuva nos próximos dias. A evolução dos níveis dos rios (Taquari e Caí) vai depender disso. Até o momento, o acumulado é bem inferior aos volumes do ano passado. Por isso, projetamos que não será (o cenário dos próximos dias) algo parecido com maio de 2024 — afirmou Paiva a GZH.
Em Caxias do Sul, a análise é de que o cenário apresentado até o momento também parece ser distinto do vivido em 2024. O geólogo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Caio Torques, explica que apesar de bastante volumosa, a chuva "não está concentrada como ocorreu na madrugada de 2 de maio" do ano passado.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o dia 2 foi o que mais choveu em Caxias em maio do ano passado. Foram 192,4mm em 24 horas. Em todo o mês foram 845,3 mm. Mesmo assim, o município segue com monitoramento constante.
— É cedo para qualquer diagnóstico pois a chuva segue constante e as áreas de encostas são vulneráveis — esclarece Torques.
O geólogo Nerio Susin, que foi contratado pelo município para estudos de prevenção a deslizamentos em Galópolis, acrescenta que a partir do levantamento já havia como saber quais áreas deveriam ficar em alerta. Susin conta que uma vistoria foi realizada na manhã de quarta no bairro e até então não havia alterações.
— Também fizemos uma leitura porque instalamos uma série de medidores de nível d 'água, para ver como está se comportando. Bom, nesse período todo só vimos em dois locais que a água subiu um pouco a mais do que os outros medidores, que tiveram uma variação normal relativa à quantidade de chuva que deu — detalha Susin.
Caso houvesse uma alteração em todos, um alerta poderia ser emitido pelo município. Em relação a novos deslizamentos, o geólogo faz a observação de que não trata-se de uma ciência exata, mas que para acontecerem, uma série de parâmetros devem ser registrados. Um deles é a água acumulada no subsolo.
— Está chovendo bastante, mas nem perto do que choveu no ano passado. Então, não ficamos tão receosos quanto se ficaria se chovesse igual. O que acontece? O gatilho que deflagra isso é a água no subsolo. As regiões onde já ocorreram movimentações podem representar um risco a mais ali, então diante do relatório que entregamos para prefeitura já tem indicações das áreas que poderiam ficar em alerta. Não estamos dizendo que poderiam ficar em perigo iminente. É diferente. Então, qualquer movimentação diferente que for vista, já deve se ter uma destinação — acrescenta o especialista.

Situações pontuais
Situações pontuais também são registradas no município. Na Rua Osvaldo Pedron, quase na esquina com a Rua Francisco Boniatti, no bairro Planalto, uma árvore caiu em cima do muro de uma residência. A moradora, Caroline Debastiani Magnus, 32 anos, aguardava atendimento até o fim da tarde de quarta.
— Começou ontem (terça). Eu estava em casa e por volta de umas 19h15min comecei a escutar tipo um "claque", e quando eu escutei veio um boom. E aí, a árvore simplesmente tombou e veio por cima do muro — relata a moradora.
Por precaução, Caroline desocupou os quartos e conta ter "acampado" na própria cozinha. Ninguém ficou ferido.