
O Rio Grande do Sul teve um salto no desmatamento da Mata Atlântica em 2024. De acordo com o Atlas da Mata Atlântica 2025, publicado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Estado passou de 52 hectares entre 2022 e 2023 para 1.602 hectares entre 2023 e 2024. Ou seja, um crescimento de 2.981%. A pesquisa aponta que o principal fator para a alta foram os deslizamentos de terra causados pelos eventos climáticos de abril e maio do ano passado.
No Estado, três municípios da Serra lideram o ranking das cidades com mais desmatamento: Veranópolis, Cotiporã e Dois Lajeados. Todas foram atingidas pelos deslizamentos. Deles, Veranópolis perdeu 235 hectares, o que corresponde quase 3% da mata existente no território. Cotiporã perdeu 162 hectares, enquanto Dois Lajeados registrou perdas em 131 hectares.
De acordo com o levantamento, o Rio Grande do Sul tem um milhão de hectares de Mata Atlântica.
O diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto, reforça que a principal ação para a prevenção dos desastres naturais causados pelos eventos climáticos extremos é justamente parar o desmatamento ilegal, aquele causado pelo homem. Pinto detalha que as áreas podem ser recuperadas, o que pode ocorrer naturalmente, mas de forma mais lenta. Por isso, o especialista sugere ações para acelerar a recuperação:
— Essa restauração precisa ser acelerada, seja com plantio de mudas, lançamento de sementes, proteção das áreas, quanto maior a floresta, quanto mais floresta, quanto mais saudável a floresta, maior a resiliência, tanto a capacidade de resistir a eventos extremos em áreas de fragilidade, quanto de se recuperar.
Estratégias dos municípios
Em relação às áreas devastadas pelos deslizamentos, os municípios da Serra possuem estratégias diferentes. No caso de Dois Lajeados, por exemplo, a prefeita Fabiana Giacomin explica que os pontos atingidos são de difícil acesso. Assim, a administração optou pela regeneração natural e abandono dessas áreas.
— As próprias árvores nativas que estão próximas farão a dispersão de sementes junto com a fauna nativa — explica a prefeita.
Em Cotiporã, o prefeito José Carlos Breda compara que em 2023 haviam sido registrados apenas 8,44 hectares de desmatamento. No momento, a prefeitura está em processo de elaboração do Plano Municipal de Recuperação e Conservação da Mata Atlântica, conforme previsto no Art. 38 da Lei da Mata Atlântica e regulamentado pelo Decreto Federal nº 6.660/2008. O plano está sendo desenvolvido pela Universidade de Caxias do Sul, por meio do Instituto de Saneamento Ambiental da UCS (ISAM/UCS), contratação realizada por meio do Consórcio Intermunicipal da Serra Gaúcha- CISGA.
— A contratação desse plano atende tanto às exigências legais mencionadas quanto à solicitação do Estado para manutenção do Termo de Cooperação vigente. Esse termo delega ao município a competência para emissão de alvarás de manejo florestal e licenças para recuperação de áreas degradadas. A partir dos estudos e levantamentos realizados, espera-se a formulação de um projeto com ações concretas para recuperação das áreas degradadas, especialmente aquelas onde a camada fértil do solo foi completamente removida, impossibilitando a regeneração natural da vegetação — completa Breda.
Já Veranópolis está elaborando o Plano Municipal da Mata Atlântica, como conta o vice-prefeito e secretário de Governo, Meio Ambiente e Inovação, João Guilhermo Mazatto. O documento está sob consultoria da UCS.
— Visa, além de criar diretrizes para a preservação, buscar a conservação dos remanescentes. A recomposição dos locais que sofreram deslizamentos de terra ocorrerão de forma natural, haja vista os riscos de intervenção nesses pontos. A Lei Federal nº11.428/2006 e o Decreto Executivo nº6.660/2008, que rege o PMMA, permite que os municípios inseridos nesse bioma atuem na preservação e na criação de políticas públicas e ações prioritárias para conservação desse bioma — explica o vice-prefeito.