
Na mesma medida em que a religião ajudou a fortalecer os imigrantes pela fé, a música e as brincadeiras foram importantes sustentáculos desde os primeiros anos, reunindo as famílias após os dias de trabalho árduo. A alegria expressada por meio de canções, por exemplo, fazia com que por alguns momentos fosse deixada de lado a realidade dura e as privações, a fim de celebrar a vida como bem maior.
Mesmo quando as letras contam histórias trágicas sobre a guerra ou sobre uma perda amorosa, a melodia alegre simboliza este jeito de olhar para além da tristeza:

— A maioria das letras é trágica, mas as melodias são muito alegres. Acho que eles tiravam esse sarro pra poder levar a vida mais leve. São músicas que falam da guerra, falam do amor que se foi, nunca é uma história de um amor que deu certo — diverte-se a maestrina Aline Giacomet, que conduz um dos grupos mais tradicionais da Serra, o Coral Típico de Ana Rech, fundado em 1983 no bairro homônimo.
Já em Vista Alegre do Prata, município onde os pouco mais de 1,5 mil habitantes se dividem entre descendentes de italianos e de poloneses, uma iniciativa de resgate da tradição trazida pelos imigrantes lombardos: a mora. No jogo, dois participantes põem suas mãos sobre uma mesa, expondo com os dedos um número e cantando outro, que deve corresponder à soma dos números das duas mãos. Quem acertar, leva o ponto. A curiosidade é que passou a ser disputado até na hora do recreio, nas duas escolas locais – uma municipal, a outra estadual. O responsável por ensinar o passatempo para a gurizada é o voluntário Deonísio Kazmierski, 64 anos.
– Eu cresci entre os italianos e jogo mora desde os sete anos. Mas muita gente que jogava já morreu e, se a gente não ensinar, logo não vai mais ter quem saiba jogar. Hoje é curioso ver como a maioria dos alunos que gosta da mora é de meninas, sendo que na minha época só os meninos jogavam – conta.

O convite para Deonísio partiu da prefeitura, dentro da ideia de preservar uma tradição muito cara às famílias que construíram a história do município e de promover integração entre os moradores mais antigos e os mais jovens.
— O mais legal é ver que a mora voltou a fazer parte dos encontros de família e das festas da comunidade — explica a secretária de Turismo, Cultura e Desporto, Valéria Pedron.
O resgate do jogo da mora faz parte de um projeto iniciado há três anos para ensinar aos jovens o Talian, língua da imigração italiana e reconhecido pelo Iphan como Referência Cultural Brasileira. Todas as terças-feiras, os alunos da Escola Municipal Giuseppe Tonus têm aulas de Talian, desde o pré até o quinto ano, com a professora Adriana Sabadini.
– Além de ajudar a ensinar o Talian, a mora é um jogo que estimula a agilidade, o raciocínio lógico e o convívio, por isso é muito bem recebido na nossa escola – comenta a diretora da escola, Joelma Grzebielukas Girotto.