
Modelo de intervenção precoce voltado para crianças com atraso de neurodesenvolvimento, o Denver foi criado nos Estados Unidos na década de 1980, mas ainda é relativamente novo no Brasil e, especialmente, em Caxias do Sul.
A técnica prevê a estimulação intensiva e diária com o objetivo de trabalhar as competências sociais, a comunicação, além das habilidades cognitivas e motoras de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Síndrome de Down ou sem diagnóstico específico.
À frente da Uni — Centro de Estimulação Precoce, a fonoaudióloga Cíntia Bonfante se especializou no método diretamente nos Estados Unidos e trabalha com as técnicas há três anos em Caxias. Ela explica que o Denver é uma vertente da reconhecida Terapia ABA, cujos objetivos principais são o desenvolvimento de habilidades e o aumento da autonomia dos pacientes.
— No Denver, o tratamento ocorre de uma forma naturalista, mais no brincar, no lúdico. É uma terapia criativa. As crianças são movidas pela motivação. Tentamos atraí-las para coisas que elas gostam e, assim, ensinamos habilidades. Trabalhamos aspectos como as competências sociais, a comunicação, a imitação, a cognição e a parte motora — detalha Cíntia, acrescentando que o desenvolvimento do paciente é avaliado integralmente.
O modelo é aplicado na primeira infância, de forma individual, em dupla ou em grupo. Os atendimentos, conforme Cíntia, podem começar ainda nos primeiros meses de vida e seguem, geralmente, até os cinco anos — há, contudo, possibilidade de extensão, conforme as necessidades de cada um. As sessões são diárias, com no mínimo duas horas de duração.

— O nosso trabalho vai trazendo os pacientes para dentro do marco de desenvolvimento. Como usamos uma metodologia integrativa, conseguimos escolher habilidades-chave para gerar outras em menos tempo — explica Cíntia.
A fonoaudióloga pontua que o modelo é caracterizado como precoce e intensivo porque há o entendimento de que existe "uma corrida contra o tempo" para vencer os atrasos infantis.
— Quanto antes trabalharmos as habilidades cognitivas dessa criança, mais rápido ela vai evoluir depois. Intervenção precoce é ação no presente, que tem um grande impacto no futuro. Agir no momento certo não é só uma escolha, é um compromisso. O desenvolvimento infantil não pode esperar — enfatiza a profissional.
Para a designer de interiores Glaucia Vaccari Turmina, de Flores da Cunha, a terapia tem apresentado resultados positivos para a filha, de dois anos. Glaucia conta que decidiu procurar a ajuda cedo, após notar uma dificuldade de comunicação na criança.
— Preferimos pecar pelo excesso e ajudá-la da forma que está ao nosso alcance e o quanto antes. Nas últimas semanas ela apresentou uma evolução muito grande. Ela fala e repete o que falamos. Estamos bem felizes — comenta.
Qualificação

No dia a dia, os atendimentos são feitos por assistentes terapêuticos, sempre com a supervisão de um profissional habilitado na metodologia. A habilitação consiste em três etapas de certificação. No site oficial do modelo (www.esdm.co/esdm-therapists), é possível verificar quem está apto a aplicar as técnicas em qualquer lugar do mundo.
Cíntia lembra que a formação é séria e rigorosa e enfatiza que os pais devem sempre procurar por profissionais qualificados.
— Para concluir a certificação, o profissional é avaliado durante o atendimento de no mínimo três crianças, através de 13 itens, como técnicas de instrução, gestão da atenção da criança, manejos de comportamentos inadequados, entre outros que garantem a fidelidade da intervenção. Caso não obtivermos no mínimo 85% de fidelidade, não recebemos o certificado final — sinaliza a fonoaudióloga.
O atendimento de uma hora varia entre R$ 100 e R$ 200 em média no Brasil. A cobertura do plano de saúde depende de solicitação médica.
"Em menos de um mês, a gente já começou a sentir o impacto da terapia"

A dificuldade para falar foi o primeiro sinal de alerta para a instrutora de yoga e terapeuta holística Eloíse Arman sobre a condição do filho Leonardo Arman Rocha, quatro anos. Ao buscar a ajuda de uma neurologista, o menino foi diagnosticado com autismo e recebeu a recomendação de iniciar a terapia pelo método Denver.
Eloíse conta que a melhora na comunicação e na interação da criança foi percebida rapidamente. O menino iniciou o tratamento aos dois anos e meio e recebeu alta há pouco tempo.
— Em menos de um mês, a gente já começou a sentir o impacto da terapia. Em três meses, ele já estava falando muita coisa. Foi muito rápida a evolução dele — revela a mãe, que acrescenta:
— A importância desta terapia para nós foi gigantesca, porque não foi só na questão da fala, foi na questão de comportamento também.
A interação social melhorou também o desempenho na escola:
— Ele é muito expressivo, tanto que na escola a gente tem o feedback dele como um líder, aquele que comanda o parquinho. Para nós chega a ser um orgulho, porque vimos uma criança que não falava absolutamente nada e hoje é extremamente comunicativa — conclui.