Pacientes sob cuidados de outros pacientes, compartilhamento de roupas íntimas e restrição do horário de visitas estariam sendo recorrentes na ala do SUS da Clínica Paulo Guedes, uma das maiores instituições do ramo na região.
As irregularidades relatadas por familiares e ex-internos são alvo de inquérito do Ministério Público (MP) e de notificações da Secretaria Municipal da Saúde. Um dos maiores questionamentos é o recrutamento de homens em tratamento psiquiátrico para atuar na vigilância de colegas de quarto. Eles integram o chamado Grupo de Oito, cuja finalidade é reunir oito internos para conter outros pacientes em surto.
As famílias acreditam que o Grupo de Oito não tem condições de exercer a função, apesar de os integrantes serem submetidos apenas a um rápido treinamento. A prática é considerada antiética pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).
- O atendimento de um paciente hospitalizado é de responsabilidade da instituição, que deve contar com pessoal apropriado em número e treinamento suficiente para isso. Do ponto de vista ético, não é recomendado que outros pacientes prestem assistência ao paciente hospitalizado - declarou o delegado do Cremers em Caxias, Luciano Bauer Grohs.
O conselho não recebeu denúncia sobre a clínica, mas representantes da Secretaria Municipal da Saúde e do MP realizaram vistoria em maio e solicitaram adequações à direção da Paulo Guedes.
Segundo a diretora interina da Política de Saúde Mental de Caxias, Heloisa Slomp Facchin, a atuação do Grupo de Oito não está em conformidade com as normas de tratamento psiquiátrico. O município inclusive questionou a clínica se a atividade é parte do projeto terapêutico, mas a resposta ainda não foi encaminhada.
Outra situação envolve o compartilhamento de roupas na Unidade de Observação Médica (UOM). Ali, pacientes do SUS são obrigados a vestir peças oferecidas pela clínica, o que inclui calcinhas e cuecas. Uma ex-paciente ouvida pelo Pioneiro disse ter sido obrigada a deixar as roupas íntimas na recepção quando ingressou na clínica. As peças são lavadas e usadas continuamente por vários pacientes.
- A gente tomava banho e pegava na rouparia o que eles nos davam. Me ofereceram uma calcinha rasgada, mas não usei. Não sou melhor do que ninguém, mas não vou usar o que não é meu - reclama a mulher.
Ela também relata que, por falta de funcionários, doentes em melhores condições ajudam a dar banho em outros internos. Outra queixa é relativa ao horário de visita. Na ala do SUS, a presença de familiares só é permitida uma hora por dia. No setor reservado para planos e particulares, a visita é liberada das 8h às 18h.
Clínica alega normalidade no atendimento
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