Espaços temáticos na Festa da Uva valorizam o trabalho dos colonos do interior de Caxias

A 30ª Festa da Uva de Caxias do Sul trouxe a cultura dos distritos aos Pavilhões e abriu espaços temáticos. São doceiras, bordadeiras, artesãos, padeiros, bodegueiros espalhados pelo parque que trazem a simplicidade e a autenticidade do trabalho rural.

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Não saia dos Pavilhões sem conhecer as narrativas de vida, como a de Italina Sgorra da Silva, 77 anos. Com mãos rápidas e habilidosas, ela trança a palha seca do trigo, no pavilhão 2. Os olhos observam o próprio serviço, mas há muito mais no olhar de Italina: o gosto da saudade.

- Cresci na colônia, em Forqueta. Plantávamos trigo, criávamos vacas e porcos. Lembro da minha avó espichando massa com rolo de um metro de comprimento, não esses rolinhos que se vê agora. Demorava, mas era uma delícia. Caminhávamos 9 km para irmos no domingo à missa no Desvio Rizzo, e ninguém reclamava. Éramos felizes -  conta a artesã, hoje moradora da Vila Hípica.

Próximo de Italina, as marretadas de Rogério Scariot, 56 anos, no ferro em brasa podem ser ouvidas de longe. Em poucos minutos, ele está cercado pelo público que acompanha com admiração um ofício milenar, o de ferreiro. Não foi por muito tempo que Scariot desempenhou o trabalho, apenas uns três anos, durante a adolescência, mas o suficiente para não esquecê-lo pelo resto da vida.

No mesmo espaço,  Raul Rodrigues, 56 anos, de Vila Seca, faz gamelas. Marceneiro há 30 anos, sempre quis esculpir madeira. Aprendeu o ofício com um primo e se  aproximou da história dos dois avôs gameleiros, que nem chegou a conhecer. O trabalho é demorado. Pode levar 12 horas para desbastar a madeira com a ferramenta chamada enxó. Mas quem gosta do ofício nem percebe o tempo passar.

- Não sei por que gostava de gamelas. É uma coisa que nasce dentro da gente, sabe? Ficava arrepiado quando via alguém fazendo, deixando a madeira lisinha, perfeita.  Quando fiz a primeira, fiquei realizado. Emocionado mesmo! - relembra.