Uma nova pesquisa, publicada pela Universidade de Passo Fundo (UPF), coloca em xeque mais uma vez as consequências de um hábito comum entre os gaúchos: o chimarrão. Diferentemente da conclusão de outros estudos, os pesquisadores da instituição apontam que o consumo da bebida pode provocar danos à memória e, na contramão do senso comum, não provocaria ansiedade.
Foram cinco meses de testes com ratos de laboratório. O objetivo do estudo, coordenado pela professora Andrea Michel Sobottka, era descobrir o que o consumo da erva-mate poderia causar aos seus usuários. Para isso, os pesquisadores da universidade usaram dois grupos diferentes de ratos. Um deles bebeu água, e o outro, uma infusão com a erva. Durante 15 dias, as cobaias tiveram acesso livre ao líquido.
Depois de duas semanas, os animais passaram por testes de ansiedade em um labirinto. O resultado mostrou que todos os ratos circularam pelo ambiente da mesma maneira. Por isso, os pesquisadores descartaram a hipótese de que a água misturada com erva-mate aumenta a ansiedade.
Depois desse primeiro teste, as cobaias passaram por uma avaliação de memória. Os animais foram colocados em uma caixa onde existia uma plataforma. Na primeira avaliação, todos desceram até a plataforma e receberam pequenas descargas elétricas. Na segunda vez, somente o grupo que bebeu o líquido com erva-mate voltou a descer até a plataforma. O estudo, de acordo com o grupo, demonstraria que não houve alteração nos níveis de ansiedade dos animais testados, mas um déficit de memória nas cobaias que beberam a infusão.
Tradicionalista não mostra preocupação
A professora que coordenou o projeto explica que os dados servem como parâmetro, mas não se sabe se os resultados se repetiriam com humanos. O estudo, agora, deverá ser ampliado.
O tradicionalista Orlei Carames, 65 anos, de Passo Fundo, é um defensor das rodas de chimarrão. Foi com o pai, quando era criança, que começou a apreciar o mate amargo. Para ele, este tipo de estudo que aponta malefícios não o assusta.
- O chimarrão é cultural. Eu respeito a ciência e seus resultados, mas não dá para levar tudo tão na ponta da faca. Acho que ele faz bem. Para mim, pelo menos, nunca fez mal - rebate.
Os representantes das indústrias de erva-mate evitam comentar o assunto. Para o presidente do Sindicato da Indústria do Mate, Sérgio DallAcqua, não é possível falar sobre pesquisas que não são conclusivas.
- Não tenho conhecimento sobre o assunto - disse.
Passo Fundo/Casa Zero Hora
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Pesquisa da UPF aponta que chimarrão prejudica a memória
Outra descoberta é que a bebida não provoca ansiedade
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