
Mais de dois meses após ter seu nome ligado a suspeita de manipulação de resultados para apostas, por conta de cartões amarelos recebidos no Brasileirão deste ano, o atacante do Juventude Ênio falou primeira vez sobre o fato. Após emitir duas notas oficiais por meio de sua assessoria de imprensa, ele concedeu entrevista exclusiva ao ge.globo/rs, e deu sua versão sobre o caso.
Ênio afirmou que ele e sua família ficaram abalados com a repercussão do caso e que sua carreira, e uma possível negociação na janela de transferências, foi prejudicada. O jogador acredita que as investigações vão provar sua inocência.
O atacante de 24 anos foi alvo de dois alertas de casas de apostas por cartões amarelos recebidos em jogos do Campeonato Brasileiro. O primeiro foi na estreia do Juventude, na vitória por 2 a 0 contra o Vitória, no dia 29 de março. O segundo, pouco mais de um mês depois, na derrota por 5 a 0 para o Fortaleza, em 10 de maio, no Ceará.
Nos dois casos, as bets relataram um volume de apostas muito acima do normal para que o atacante fosse advertido com cartões. No dia 20 de maio, a pedido da CBF, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Ênio em Caxias do Sul e também no estádio Alfredo Jaconi e no CT alviverde, no armário pessoal do jogador.
Segundo o MP-RS, as investigações sobre o caso ainda estão em andamento. Ênio aguarda a conclusão com expectativa e confia que depois do tudo esclarecido voltará a ter tranquilidade para fazer o que mais gosta, que é jogar futebol.
Confira trechos da entrevista:
ge - Você foi alvo de dois alertas de casas de apostas por suspeita de manipulação de resultados. O que tem a dizer sobre isso?
Ênio: Eu fiquei muito abalado com toda essa situação, ainda estou, afetou muito o meu psicológico. Afetou muito a minha mãe, as minhas irmãs. A gente ficou muito preocupado com tudo isso, porque me prejudicou bastante. Eu sei da índole da minha família, a gente é de uma família muito humilde. Então eu sei aonde eu quero chegar. Isso me deixou muito triste toda essa situação, eu não iria me envolver com essas questões, até porque eu não preciso disso. Eu sei do meu talento, sei do meu futebol, sei o clube em que eu estou, que é muito certo, e sei aonde eu quero chegar ainda, porque eu tenho muita lenha para queimar. Foi uma situação que me deixou muito triste, deixou minha mãe muito abalada também com tudo isso.
Como você pretende provar que é inocente?
— Eu estou disposto a fazer tudo que o pessoal do Ministério (Público) pedir. Sempre estive aqui. Como eu falei, é uma situação que me deixou muito chateado. Eu sempre fui um atleta muito combativo dentro de campo, sempre gostei de dar o meu máximo, de dar a minha vida pela camisa que eu estou vestindo e que nesse momento é a do Juventude. Então eu sempre vou dar a minha vida pela camisa do clube e é uma situação que me deixou triste demais.
Em algum momento, antes ou depois desses alertas, você recebeu algum contato de aliciadores?
— Em nenhum momento ninguém entrou em contato comigo, não sei como funciona esses lados. E se tivessem entrado em contato comigo eu já ia passar para o pessoal da minha empresa, para um advogado, para o pessoal do clube. Mas em nenhum momento ninguém entrou em contato comigo para fazer esse tipo de situação.
Por que você acha que seu nome foi envolvido em alertas de manipulação? Suspeita de algo?
— Não, não tenho ideia nenhuma de como aconteceu tudo isso.
Há um mês, você foi alvo de uma operação do Ministério Público, que cumpriu mandados de busca e apreensão em sua casa e na sede do Juventude. Foi surpreendido?
—Na verdade eu não sabia que iriam lá em casa. Me pegou de surpresa, porque eu não sabia de nada. Mas foram bem tranquilos comigo. Eles chegaram lá, conversaram comigo, mostraram tudo direitinho o que eles tinham que fazer. Só que eu saber dessa situação, que eles iriam até lá em casa, iriam no estádio, eu não sabia, não imaginava.
O que pegaram para perícia?
— Pegaram meu telefone e o telefone da minha esposa.
Como foi a conversa com a direção do Juventude? O que eles passaram para você tanto no primeiro quanto no segundo alerta?
— O pessoal do clube foi muito importante nesse processo, com toda essa questão. O pessoal da diretoria conversou comigo, eles falaram que estariam ao meu lado. (O afastamento) foi mais pra preservar a minha imagem mesmo, depois desse acontecimento.
E no vestiário, o que você disse para seus colegas de equipe?
— Meus companheiros também me deram total apoio, estão me dando apoio. Eles foram super importantes, porque eu fiquei muito abalado psicologicamente. Mas graças a Deus eu voltei a jogar contra o Grêmio, o que eu mais gosto de fazer é jogar meu futebol. Eu estou bem tranquilo. Como eu falei, eu sei da minha índole, não preciso fazer esse tipo de situação. Eu estou começando minha carreira. Então eu sei muito bem aonde eu quero chegar. Eu cheguei lá para o pessoal do clube e falei: "Graças a Deus foram lá, pegaram minhas coisas, até porque eu quero provar a minha inocência". Estou bem tranquilo. E agora eu estou muito feliz para acabar logo com tudo isso.
Alguém da CBF ou do STJD chegou a entrar em contato com você?
— Não, não entraram em contato comigo.
Você teme que essas suspeitas possam prejudicar a sequência da sua carreira?
— Sim, já prejudicou minha carreira, prejudica a minha imagem. Querendo ou não, prejudicou muito a janela (de transferências), porque o pessoal da minha empresa sempre está trabalhando para conseguir algo melhor dentro do futebol. Então prejudicou muito, prejudicou não só a janela, mas prejudica a minha imagem também.
Recebeu alguma mensagem de ataque em redes sociais?
— Sim. Receber é uma coisa que me deixou muito triste, porque, como eu falei, eu sei da minha índole, eu sou de uma família muito humilde, então foi uma situação que me deixou muito triste. Eu nem deixei isso entrar na minha mente porque no momento eu já estava triste. Então eu via ali, já saía, porque eram mensagens desagradáveis.
O que tem a dizer para o torcedor do Juventude?
— O torcedor jaconero sempre esteve ao meu lado e sempre me apoiou. Nos dois jogos que eu fiquei fora, os torcedores conversaram comigo. Me mandaram mensagem também, estavam todos preocupados. Mas sempre me dando apoio e eu estou aqui para dizer que eu vou provar a minha inocência. Como eu falei, eu sei da minha índole, sei aonde eu quero chegar. Então eu vou provar a minha inocência para continuar crescendo dentro do mundo do futebol.
Qual sua expectativa para o que vem daqui para frente?
— Eu sempre confio que vai dar tudo certo. Como eu falo para a minha mãe, que Deus está sempre na frente, tomando conta de tudo, e vai dar tudo certo. Eu vou provar minha inocência. Eu sei que ela (a mãe) sempre vai estar do meu lado, como meus irmãos também estão, meus sobrinhos também estão, que eles também gostam de me ver jogando. Então vai dar tudo certo.
A gente se apresenta (no Juventude) na segunda-feira, a expectativa é grande. A gente tem um período longo de treino para ajustar o nosso esquema junto com o professor Tencati, para a gente conseguir recuperar nossos pontos que a gente vêm perdendo. Esse é o mais importante. Eu espero voltar muito bem para poder ajudar o Juventude a subir na tabela. Meu foco sempre foi o futebol, é o que eu amo fazer, então eu não tenho outra coisa para pensar a não ser o futebol. Vou batalhar muito, vou treinar muito para estar sempre ajudando o Juventude a crescer.
Alguma última mensagem?
— Eu queria dizer que eu estou muito tranquilo, o que eu mais quero e sempre quis foi jogar meu futebol. Quero jogar meu futebol em paz. Então estou aqui para provar a minha inocência e continuar trilhando o meu caminho no mundo do futebol. Quero crescer muito ainda, tem muita lenha para queimar.