
Na entrevista exclusiva que concedeu ao Pioneiro, o técnico Tite fez questão de convidar para o bate-papo um fiel escudeiro que fez parte da conquista do Gauchão de 2000 pelo Caxias: o doutor Aloir de Oliveira.
O treinador quis dividir, através da figura de um profissional plenamente dedicado ao clube, a responsabilidade pela campanha vitoriosa no Estadual.
— Quando eu falo da gratidão, é representada com o doutor Aloir, para todas as pessoas do comando, da direção. Em determinado momento da minha carreira, onde as coisas não estavam acontecendo, o doutor Aloir ligou para mim e disse assim: "Tite, tu vais voltar para o Caxias, tu vais voltar". E eu não levava isso muito a sério. E eu sei que ele foi um dos artífices do meu retorno, que eu tenho a gratidão — revelou Tite.
O treinador já havia atuado no clube no começo da década de 1990. Depois, passou por equipes como Guarany de Garibaldi e Veranópolis, até retornar ao Estádio Centenário em 1999.
— Eu diria que no vestiário eu fazia meu trabalho e o Tite fazia o dele. Mas sempre a gente estava ligado e conversando. E nós, nas nossas condições, que eram lamentáveis, não condizíamos com o enfrentamento com Grêmio e Inter naquela época. Isso foi tudo superado graças ao trabalho do Tite — recordou Aloir.
A ligação entre os dois foi apenas um dos exemplos de como o vestiário grená era unido contra qualquer dificuldade, como a de conviver com salários atrasados.
— Eu diria que o Tite não foi só uma pessoa importante, mas eu acho que foi o principal responsável por segurar tudo o que aconteceu. Eu sempre falei para ele voltar para o Caxias. Eu falo de coração, coisa que estava visível na minha cabeça. Graças a Deus, a gente conseguiu. Claro que eu, na minha área, e ele na área dele, mas a gente também colaborava, ele colaborava com a minha área. E convivemos bastante tempo no futebol. Sei muita coisa do futebol que também aprendi com o Tite. Foi uma coisa assim absurda o que ele fez no Caxias, e depois continuou fazendo nos outros clubes, e espero que continue fazendo — comentou Aloir.
"Até hoje nós somos amigos inseparáveis"

Muitas pessoas podem não lembrar, mas até dar a volta olímpica em Porto Alegre, o Caxias, de Tite, teve que passar por verdadeiras provas de fogo no ano anterior. E conviveu com fracassos, tanto na Série C — sendo eliminado pelo Serra-ES no terceiro jogo dos playoffs da terceira fase —, como na Copa Sul.
E da competição que reunia os clubes de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, surgiu a recordação de uma lembrança até então escondida.
— Nós estamos na Copa Sul para estrear contra o Inter, que tinha o Paulo Autuori como técnico. E ia fazer uma festa, apresentação de uma série de jogadores, do Gonçalves, zagueiro da Seleção, do Elivelton. E eu digo: "tá doutor, olha o nosso primeiro jogo lá". E aí começa o jogo, nosso time bem, aí sobra uma bola para o Washington, bate para fora. Éramos meio confidentes, ele meio auxiliar-técnico. "Doutor, tinha a chance de a gente sair na frente"... e daqui a pouco, no final do primeiro tempo, um a zero — relembra Tite, que continua:
— Mas não imaginava sair o segundo gol, nem eu, nem ele, pelas nossas reações. Aí o Luciano bate a falta, o Grizzo entra de cabeça e, tuf, quando eu vi a rede balançando, eu falei, gol. E esse aqui (apontando para Aloir) falou: gol. Nós dois olhamos e goooool (momento em que os dois, espontaneamente se abraçam e gritam gol juntos).
— É difícil esquecer a emoção que a gente teve naquela hora. Isso aí foi muito importante na construção daquela equipe — comentou Aloir.
E depois de recordar de algumas histórias vivenciadas no Centenário, o doutor Aloir fez uma lembrança:
— Eu estou há 41 anos no Caxias — para Tite completar:
— Eu podia ficar dois dias aqui contando histórias, só contei uma. Imagina tu com as tuas (risos).