Gilberto Cirilo de Campos, 52 anos, pai de Ana, 32, William, 28, e avô. Este é Beto Campos, treinador que ficará marcado na história do Caxias. Na segunda passagem pelo clube, é campeão da Divisão de Acesso, recolocando o time de volta à elite estadual. E ainda não terminou o ano. Há, inclusive, a possibilidade de um segundo acesso, desta vez para a Série C do Brasileiro. Seria a redenção do treinador, que chegou no final do ano passado para ser o salvador da pátria e que pouco pôde fazer para evitar o rebaixamento nacional.
Beto teve de lidar com a pressão diária para ganhar ou ganhar o título da Segundona. Não bastasse isso, a conquista veio de forma curiosa. Enquanto jogava contra o Maringá, pela Série D, Brasil-Fa e Pelotas empatavam na Divisão de Acesso e davam a taça aos grenás.
– Foi o momento mais inusitado da minha carreira, e acho que de todos no Caxias. Comecei a chorar, olhando o jogo e gritando para os caras manterem o foco – relembra o treinador.
Em conversa com o Pioneiro, Beto falou sobre as dificuldades que enfrentou este ano, a relação com o torcedor, a saída em 2014, o que espera para o futuro do clube e também da carreira.
Dificuldades na campanha
– Começou na montagem do grupo, porque não podíamos errar muito. Tínhamos que fazer um time com a característica da Divisão de Acesso e uma equipe com qualidade. Felizmente, os atletas vieram e jogaram aquilo que nós precisávamos.Trabalhamos muito com a cobrança. Isso é cultural. Nos outros países, se trabalha um ou dois anos para conquistar alguma coisa, e aqui são 40 dias. É o prazo para estar tudo organizado, com os jogadores em condições boas e para conquistar o resultado. Começamos bem contra o União, tivemos uma vitória importante contra o Esportivo e veio a derrota para o São Luiz, que mostrou que a equipe tinha situações que precisávamos melhorar. Depois, tivemos só mais duas derrotas. A dificuldade mesmo era pelo resultado, mas os atletas deram uma resposta ótima.
A pressão para subir
– O erro em campo tinha que ser mínimo. Olhando hoje, os números dizem: o Caxias subiu “correndo”, como se diz no meio do futebol. Foi pela campanha, mas com tensão e pressão grandes. Conseguimos subir faltando uma rodada, mas poderia ter sido na rodada anterior.
Indicações para o grupo
– O Jajá foi, desde o começo, o centroavante que a gente queria. Ele vinha sendo artilheiro desta competição em outros clubes e, algumas vezes, sem ser titular. Isso mostra que vinha tendo sucesso. Só que não houve acerto no começo com o Jajá, pois ele tinha a possibilidade de jogar no Exterior. Buscamos outros nomes e aí veio o Dinei. Depois, retornou a possibilidade do Jajá vir e deu certo. O Nicolas já tinha jogado comigo no São Luiz, em 2011, só que ele vinha num momento ruim. Porém, tinha feito uma Copinha boa no União. O Tatto tinha jogado comigo em Santa Catarina. Ficamos aqui com Pitol, Lacerda e Dener. O Cleiton foi colocado pela direção e na hora concordei por ser um jogador que vinha num momento bom e iria nos ajudar.
O que encontrou em 2015
– Surpreendeu o que vi ano passado. Conhecia muitos jogadores, que tinham trabalhado comigo no próprio Caxias. E quando fui convidado para retornar, a direção me passou que seria difícil escapar do rebaixamento. Analisando com o Setti (José Caetano, diretor de futebol), eu disse: acho que com esse grupo temos condições. Chegando aqui, fizemos bons jogos, mas realmente estava uma situação complicada. O descenso no Gauchão vinha pesando. Estava um clima ruim. Pegamos um grupo muito abaixo daquilo que eu conhecia e era difícil escapar.
Relação com o torcedor
– Melhorou muito. Tive uma passagem muito boa em 2014 em termos de números. Quando cheguei, o Caxias estava a dois pontos da zona de rebaixamento. Cheguei e tirei dessa situação. Depois, na C, estava bom até perdermos jogadores, que o clube não teve como segurar. Ali eu comecei a sentir uma cobrança grande da torcida e acabei saindo. No retorno, vi um torcedor sofrido e cobrando tudo. Entrei e, já no segundo jogo, tive uma cobrança enorme. Mas entendo os torcedores. Este ano, a torcida diminuiu muito em presença, mas é normal. Em qualquer lugar, quando se perde, o torcedor se afasta, fica irritado. Em 2014, jogávamos com 7 mil torcedores. Esse ano, acho que em torno de 2 mil. Entendemos, mas esse pessoal que veio ajudou muito.
A saída em 2014
– Naquela época, conversei com o Setti e deixei a direção à vontade. Fiquei triste, não com a direção, mas com o momento. A campanha da Série C estava boa. Futebol é muito rápido, e em uma semana mudou tudo. Perdi três titulares, já tinha três por cartões e outros desfalques por lesão. Claro que o torcedor não se atenta isso. Se o jogador é do grupo, tem que jogar e dar resposta. A frustração foi mais pelo lado profissional.
Motivos para retornar
– Eu vi como um desafio. As dificuldades estavam piores do que eu imaginava. Talvez, se chegasse um pouco antes, daria para escapar do rebaixamento. Mas isso é opinião minha. Depois do rebaixamento, começamos a pensar em 2016. O Caxias precisava se organizar e montar time para chegar no quadrangular final. Chegando lá, a possibilidade era forte de conseguir o título. Felizmente, pensamos certo. Eu tinha convites da Série A do Gauchão e resolvi ficar por saber que estava trabalhando numa equipe grande do Interior.
Entrevista
Após a pressão inicial no Caxias, técnico Beto Campos comemora o acesso, avalia as chances na Série D e fala sobre o futuro
Treinador de 52 anos também comenta sobre a relação com o torcedor grená
Pioneiro
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