
Uma publicação do presidente dos Estados Unidos Donald Trump em sua conta na rede social Truth Social reacendeu a preocupação por novas tarifas sobre os produtos importados pelo país. Dessa vez, o alvo são novamente os móveis.
Na última sexta-feira (22), o norte-americano anunciou que "uma grande investigação tarifária sobre móveis que entram nos Estados Unidos" será realizada nos próximos 50 dias. Isso significa que o resultado dessa investigação pode se somar a outras tarifas já implementadas por Trump, que já estão em 50% para grande parte dos produtos brasileiros.
Para o estrategista e consultor de relações internacionais Cezar Roedel, a medida, baseada na Seção 232 do tratado de expansão comercial dos EUA, assinado em 1962, coloca em risco imediato as exportações de móveis de madeira para o mercado norte-americano. Segundo análise de Roedel, a simples abertura da investigação cria um risco ainda maior e um grau elevado de incertezas, provocando queda nas exportações, cancelamentos de pedidos e paralisações de produção.
— A seção específica desse acordo significa a imposição de tarifas para artigos que possam ameaçar a segurança nacional dos Estados Unidos. E por uma questão curiosa, acabou caindo também nos móveis, porque há uma preocupação forte no setor moveleiro, principalmente de Estados como Carolina do Norte, Carolina do Sul e Michigan, onde há uma necessidade de reindustrialização e renovação da cadeia moveleira. Então, abre-se uma janela de 50 dias de investigação dentro dessa seção, que pode aumentar ainda mais a tarifa em relação aos móveis — explica.
Roedel realizou um estudo que aponta que, na Serra, Bento Gonçalves é o município mais vulnerável, por concentrar a maior fatia das vendas ao mercado dos EUA. Se confirmada, a tarifa, após o período de investigação, atingirá toda a cadeia produtiva, afetando fabricantes, fornecedores e trabalhadores, e pode abrir espaço para concorrentes como México e Vietnã.
— Acredito que a indústria moveleira precisa de um gabinete de crise justamente para avaliar todas essas questões, inclusive a imediata possibilidade de diversificação de mercados, a depender do tipo de móveis, já que é um processo que demora. E é muito importante que os prefeitos e as autoridades sempre estejam acompanhando a questão internacional, que tenham uma estratégia também para lidar com esses momentos de dificuldade — complementa.
A Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) acompanha de perto a situação e entende que, diante do atual contexto tarifário já imposto, esse novo fator se soma para manter a competitividade da indústria moveleira gaúcha distante do mercado norte-americano.
— Desde quando os Estados Unidos anunciaram a taxação de 50% para diversos produtos, incluindo móveis, o setor moveleiro gaúcho imediatamente perdeu competitividade nesse mercado, visto que é uma porcentagem consideravelmente alta. O segmento já está afetado, em especial nas indústrias que têm os EUA como principal destino de suas vendas internacionais. Caso a investigação anunciada por Donald Trump resulte em mais uma cobrança (sobretaxa), o cenário tornaria os móveis gaúchos ainda menos atrativos ao mercado americano por conta da elevação dos preços. O setor moveleiro gaúcho é forte, resiliente e vai trabalhar para reduzir esse impacto — destaca a nota emitida pela entidade.
Os EUA representam cerca de 16% das exportações de mobiliário produzido no Rio Grande do Sul. No Estado, são mais de 2,4 mil indústrias moveleiras. Somente em Bento Gonçalves, o principal polo moveleiro da Serra, o setor teve um volume de exportações, em 2024, que chegou a 61.5 milhões de dólares.
Confira o post de Donald Trump:
Tradução em português:
"Tenho o prazer de anunciar que estamos realizando uma grande investigação tarifária sobre móveis que entram nos Estados Unidos. Nos próximos 50 dias, essa investigação será concluída e os móveis provenientes de outros países para os Estados Unidos serão tarifados a uma taxa ainda a ser determinada. Isso trará o negócio de móveis de volta à Carolina do Norte, Carolina do Sul, Michigan e aos estados de toda a União. Obrigado pela sua atenção a este assunto!"




