
Feirões de emprego promovidos pela agência do Sine de Caxias do Sul, em parceria com sindicatos patronais, trazem à tona um problema antigo dos empresários do município e região. A busca por mão de obra é um trabalho intermitente na Serra, principalmente para indústrias de médio e grande porte que tentam preencher as vagas com ofertas que capacitam os candidatos e premiam a assiduidade após a contratação.
O cenário que para o consultor empresarial e conselheiro da CIC Caxias Fernando Guerra era impensado décadas atrás obriga a adaptação na hora das contratações. Com 35 anos de experiência em Recursos Humanos, Guerra acredita que o movimento deixou de ser cíclico e é causado por fatores como redução populacional, interferência da tecnologia e influência dos programas sociais:
— As empresas precisam se adequar ao público que está disponível. Antigamente era preciso ter um currículo 120%, pouco rodado e com qualificação e experiência. Hoje, se tu for contratar só pessoas assim é muito difícil, mesmo que não seja o melhor, a empresa tenta qualificar dentro do ambiente, mas não está fácil. Os benefícios assistenciais foram criados como forma de tirar a pessoa de uma situação de dificuldade e hoje se estendem ao ponto do beneficiário preferir receber a garantia do valor mensal e fazer serviços por fora do que estar dentro de uma empresa com horários e regras determinadas.

Com 76.476 pessoas contratadas, de acordo com o Observatório do Trabalho da UCS, a indústria é quem mais emprega em Caxias e, portanto, tem a maior demanda por mão de obra. O setor de serviços, com 60.350 contratos, e o comércio, com 29.549, completam a lista.
Parceiro das entidades, o Sine faz campanhas como feirões de empregos que aproximam as partes. Na última grande ação, realizada em março na prefeitura, 24 empresas ofereceram 667 vagas. Ainda que 712 pessoas tenham sido encaminhadas para entrevistas, a coordenadora do Sine Caxias, Zenaira Hoffman, confirma que apenas 10% desse contingente foi contratado.
— Encaminhamos para a entrevista quando a pessoa preenche os requisitos, mas isso não quer dizer que será contratado, às vezes o interessado rejeita a vaga quando a empresa explica como funciona o trabalho, então é preciso que a pessoa e a empresa se acertem.
Os dados comprovam, para o conselheiro da CIC Fernando Guerra, a dificuldade de reter a mão de obra nas empresas e a necessidade da incorporação de estrangeiros, que, ao contrário do que alguns possam pensar, não tira o emprego de ninguém.
— Grandes empregadoras do município realizam feirões atualmente, enquanto que, antigamente, só pelo fato de ter vagas já havia filas. E não é porque a empresa piorou. É porque realmente está difícil de encontrar mão de obra. Quem migrou da Venezuela por exemplo, tem um aproveitamento muito bom em diversas atividades porque acabam assumindo vagas que os brasileiros descartavam. Estaríamos muito piores se não fossem eles, se tivessem tirado vagas não teríamos feirões. Hoje qualquer consultoria de recrutamento e seleção tem uma centena de vagas em abertos e ganha dinheiro para arrumar gente para as empresas — comenta Guerra.
Salários acima da faixa inicial para atrair
Dos 252 funcionários da empresa TecnoVidro, em Farroupilha, 10% já são estrangeiros e preenchem principalmente as vagas quase sempre abertas de auxiliar e operador. São em média 20 oportunidades de reposição anunciadas todos os meses e nem sempre preenchidas. É a rotatividade que por muitas vezes cria a situação.
Para que as carteiras de trabalho sejam finalmente assinadas e ganhem tempo dentro da empresa, a aposta, segundo o diretor Marco Aurélio Debastiani, é em salários com faixa acima do inicial, revisão de prêmios assiduidade e adequação salarial.
— Nosso dissídio foi de 5% e depois dele já fizemos mais 5% de aumento espontâneo como política de retenção de mão de obra. É muita gente com troca de empresa em curto espaço de tempo — complementa Debastiani.

Os candidatos passam pela entrevista com a analista de Recursos Humanos Jani Silva, que aposta no diálogo para contratar e manter o funcionário.
— Quando percebo que o histórico do candidato é de permanecer por pouco tempo nas empresas, falo sem rodeios e peço se estão dispostos a trabalhar. Nossas atividades são diferentes das outras empresas, então trabalhamos muito no treinamento operacional até que ele possa assumir as atividades. Se tiver vontade, já basta, porque sabemos que não vamos encontrar a mão de obra já pronta — diz.
Adaptação dos horários para estudantes
Nas lojas da rede de supermercados Andreazza, são os jovens, de 16 a 18 anos, que ocupam as vagas que registram a maior dificuldade de contratação. Para que sempre tenham empacotadores e operadores de caixas, e não seja necessária a terceirização, como já foi preciso em alguns momentos, a empresa se adapta à rotina da faixa etária.

Morar perto do trabalho e exercer a função no contraturno escolar já se tornaram, segundo a supervisora de Desenvolvimento Humano Tássia Johann, aspectos da cultura do Andreazza, que oferece benefícios a quem se interessar pelo primeiro emprego e prêmio para que for bem na escola.
— É uma ginástica para conseguir absorver a mão de obra, essa adaptabilidade se tornou uma cultura da empresa. Fizemos um trabalho de ajuste na carga horária e temos uma gama enorme de escalas de horário. Desde o idoso, que trabalha às vezes 4h ou 6h, até o jovem que tem escola — comenta Tássia.
Para as demais vagas é preciso capacitar dentro da empresa e para isso a rede supermercadista conta com a Escola Corporativa, que oferece cursos de formação básica e de liderança por meio de um aplicativo disponibilizado aos funcionários.
Em um segmento que está acostumado com a rotatividade e a concorrência com outros setores que folgam no final de semana, por exemplo, celebrar os 10 anos de casa de um funcionário é motivo de orgulho.
— Somos uma empresa com quase 50 lojas, então sempre tem vagas em aberto. Contamos com mão de obra estrangeira e cerca de 190 PcD’s (pessoa com deficiência). São profissionais que fazem a diferença, então, quando se fala em adaptabilidade, não é apenas o horário, mas é dar o espaço para o ser humano. As turmas que completam 10 anos de empresa estão cada vez maiores, no último ano foram quase 40. A gente tentar identificar no que a pessoa pode ser boa aqui dentro e oferece crescimento e possibilidade de construir uma carreira.
Confira vagas mais ofertadas pelo Sine em Caxias:
- Tecelão
- Confeiteiro
- Padeiro
- Bordador, à máquina
- Costureira em geral
- Passadeira de peças confeccionadas
- Impressor flexográfico
- Impressor serigráfico
- Encanador
- Instalador-reparador de linhas e aparelhos de telecomunicações
- Mecânico de manutenção de máquinas, em geral
- Mecânico de automóveis
- Auxiliar de marceneiro
- Marceneiro
- Eletricista de instalações
- Serralheiro
- Motorista carreteiro
- Operador de empilhadeira
Confira neste link as vagas de emprego atualizadas diariamente pela FGTAS/Sine Caxias.




