
As agências de viagens estão entre as mais prejudicadas pela pandemia do coronavírus que assombrou o Brasil nos últimos 30 dias. Em Caxias do Sul, o cenário é de grande insegurança, assim como outros setores da economia. As vendas dos pacotes caíram mais de 80%. Com as contas chegando e sem saber o que vai acontecer, os proprietários tentam buscar saídas para não fechar as portas. Alguns estão conseguindo remarcar viagens de clientes para o segundo semestre, outros ainda não acreditam no que está acontecendo.
Um dos donos da Milletour Turismo, Milton Corlatti diz que o melhor caminho é a remarcação das viagens para o segundo semestre. Se o cliente optar pelo reembolso, por exemplo, as operadoras podem devolver o valor em até um ano após o término da pandemia.
— Não vale a pena — indica Corlatti.
O funcionário público Sérgio Trindade, 47 anos, transferiu sua viagem à Alemanha para outubro deste ano. Iria viajar em maio. Ele aposta na boa estrutura do país para poder viajar com tranquilidade.
— A Alemanha tem apresentado a menor taxa de crescimento no número de casos da doença. Até outubro, a crise terá passado — espera.
Na Caitano Turismo, o carro-chefe são os pacotes com grupos de cerca de 40 pessoas da melhor idade. Estes estão sendo remarcados para setembro e outubro. E são clientes que não dependem de datas específicas.
— São viagens para dentro do Estado. Não dá muita rentabilidade, mas é o que está aliviando os prejuízos — afirma a proprietária da Caitano, Cheila Zamboni.
Em contrapartida, as viagens individuais estão temporariamente suspensas e é o que faz Cheila perder o sono:
— Não sabemos o que vai acontecer. Tudo é uma incógnita. Com as férias antecipadas, poucos terão folga no final do ano e também não vão ter dinheiro para viajar.
As agências começaram o ano com crescimento animador. Segundo Corlatti, a empresa tinha viagens agendadas até outubro, principalmente para feiras no Exterior, e já estava vendendo pacotes para o final do ano. A maioria está suspensa.
"Não desisti do meu sonho"
O casal caxiense Juliano e Jaqueline Bernardi não desistiu do sonho de viajar ao Rio de Janeiro para comemorar os 25 anos de casados. Programada para o dia 23 de abril, eles já remarcaram a viagem para outubro. São quatro dias na cidade maravilhosa de que eles não abrem mão.
— Programamos muito este passeio de bodas de prata. Quero muito conhecer o Rio — diz Jaqueline.
Ela conta que continuam pagando as prestações do pacote e que a reprogramação já foi feita, com a ajuda da agência de viagens.
— Sou professora e já tinha me planejado na escola onde dou aula. Agora, já ajustei meus horários para o novo período. Vou realizar meu sonho.
Mesmo com alteração na taxa tarifária, ela garante que ainda vale a pena:
— Não é muito e já está dentro do nosso orçamento. Vamos viajar.
Foco no turismo nacional
Dona da Agvtur Agência Gaúcha, Jaqueline Boufleur conta que todas as viagens programadas até final de maio foram canceladas pelos fornecedores e que está tentando reacomodar para o segundo semestre. Outras estão sendo projetadas para o ano que vem ou deixando em crédito até os clientes definirem uma nova data.
Jaqueline ainda não consegue estimar prejuízos, mas assegura que deixar de vender por três, quatro meses deixa a situação do negócio complicada.
— Estamos nos organizando para passar por essa crise e voltar com tudo. Sentimos que os clientes querem muito viajar e só estão esperando essa situação passar para escolher destinos — observa.
A ideia, agora, é incentivar o turismo nacional.
— Sempre tive um volume grande de roteiros internacionais, mas ninguém se sente seguro em vender para outros países. O foco está sendo viagens nacionais — destaca Jaqueline.
O gerente da operadora Agaxtur, Raphael Chrysostomo, que atua no Estado e no país, acredita que o setor do turismo vai sair mais fortalecido desta crise. Justifica dizendo que os agentes de vendas vão ser mais valorizados, pois quem comprou pela internet está tendo dificuldades de transferir e conseguir o reembolso.
— Neste momento, está todo mundo muito inseguro, mas, a partir de julho, os negócios vão ser retomados — aponta.
Segundo Chrysostomo, o foco também vai ser no turismo nacional.
— Os clientes já sinalizam isso, não vão querer viajar para países desconhecidos com risco de não conseguirem voos para retornar.