Ainda que lenta e gradual, a economia nacional e caxiense vem apresentando uma tendência de melhora nos últimos meses. É isso que analisa o Conselho Temático de Economia e Finanças da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC).
O grupo divulgou um documento chamado "Carta Econômica" nesta terça-feira. Para os conselheiros, o desempenho de indicadores como inflação e taxa de juros tendem a cair e o câmbio e o desemprego devem se manter estáveis. Ainda segundo o documento, há tendência de alta nos índices de confiança e de redução no déficit em conta corrente.
– Procuramos fazer um resumo do ambiente internacional, nacional e local. Esperamos que a carta seja um bom instrumento para balizar a tomada de decisões do mercado – destaca a economista Maria Carolina Gullo.
Além de Maria Carolina, integram o Conselho Temático de Economia e Finanças da CIC os seguintes empresários e especialistas: Astor Milton Schmitt, Alexander Messias, Idalice Manchini, Fábio Abreu de Paula, Joarez Piccinini e Mauro Corsetti.
TENDÊNCIAS GERAIS
- Dificuldades no ajuste interno ainda persistem, contrastando com a redução do desequilíbrio externo.
- Copom tem adotado comportamento ortodoxo na política monetária face a rigidez nas expectativas de inflação e a necessidade de ajuste fiscal.
- Objetivo do Bacen é trazer o IPCA (inflação) para o centro da meta em 4,5%, o que ainda não deverá ocorrer em 2017.
- Redução do déficit em conta corrente.
- Estabilidade no fluxo de investimento estrangeiro pode denotar que a deterioração do Risco Brasil seja transitória.
- Índices de confiança com tendência de alta.
- Melhora do ambiente econômico já foi captada pelo FMI que revisou a projeção do PIB favoravelmente, com modesta recuperação em 2017.
CONJUNTURAS
:: Internacional ::
A previsão do crescimento global sofreu mais uma pequena redução, tendência que vem se verificando desde meados de 2015. As mais recentes projeções indicam um crescimento do PIB Global para o corrente ano de algo próximo a 3%.
O crescimento mais modesto verifica-se de forma geral em todos os principais países desenvolvidos, com destaque para o comportamento irregular da economia americana. Isto pode levar o Fed (banco central dos EUA) a não subir os juros no curto prazo. Sendo que alguns analistas sugerem que a taxa poderá se manter inalterada durante todo o corrente ano.
As baixas taxas de juros verificadas nos países desenvolvidos, combinadas com atuações dos bancos centrais visando estimular as economias, garantem a manutenção do elevado nível de liquidez global. A saída do Reino Unido da União Europeia tem intensificado este movimento de mais estímulos via afrouxamento monetário ainda maior nos países centrais.
Estes fatores podem beneficiar o Brasil na atração de capital estrangeiro, se tivermos a capacidade de avançar na elaboração e aprovação de um programa de privatização, combinado com reformas estruturais.
As recentes captações feitas no mercado internacional, especialmente pela Petrobras e o Tesouro Nacional, aliado ao ingresso de recursos de investidores estrangeiros no mercado de ações do Brasil, são uma confirmação de que os investidores apostam no Brasil e este movimento poderá se intensificar, desde que o nível de retorno seja adequado a atual situação, combinado com a clara sinalização de que as mudanças e reformas visando a correção de rota ocorram.
:: Nacional ::
Com a proximidade do julgamento do processo de impeachment da Presidente Dilma Roussef e na hipótese de que o vice-presidente Michel Temer deixe a interinidade e assuma o cargo em definitivo, o país passa a viver um momento de maior otimismo e melhora da situação econômica e social.
As nomeações do novo ministério foram em boa parte influenciadas por injunções políticas. Diferentemente, as pastas da área econômica e posições-chave no segundo escalação foram ocupadas por nomes de notável perfil técnico. Esses sinais opostos geraram uma percepção negativa no aspecto político (na medida em que há vários nomes sendo objeto de investigações e denúncias de irregularidades) e, ao mesmo tempo, positiva pela escolha de profissionais reconhecidamente qualificados e competentes, com bom trânsito no mercado.
O imediato afastamento de alguns ministros alvo dessas denúncias e investigações, por sua vez, contribuiu para a melhora parcial do clima político.
Nesse contexto, com a expectativa de um foco no controle dos gastos públicos e a retomada do tripé macroeconômico, o mercado viveu um primeiro momento de euforia, com altas expressivas na bolsa de valores e queda nas cotações do dólar. Mas na medida da passagem do tempo, o otimismo inicial deu espaço a algumas dúvidas em relação a esse compromisso, sobretudo em função da aprovação de novos gastos vultosos com aumentos ao funcionalismo público, a suspensão temporária dos pagamentos dos empréstimos pelos estados, o aumento do Bolsa Família, entre outros.
Os sinais, no entanto, ainda não ficam muito claros em razão das recorrentes manifestações do Ministério da Fazenda, acenando com a possibilidade de aumento de impostos e a falta do enfrentamento direto do tema da previdência.
A despeito de todos esses aspectos, sobretudo pelos sinais de uma gestão da política econômica mais ortodoxa, a melhora nas expectativas de inflação e os sinais externos positivos já começam a se refletir na melhora dos índices de confiança. Contudo, o cenário econômico e social poderá melhorar de maneira significativa apenas na medida em que ações concretas e de maior profundidade sejam tomadas. Cabe, portanto, ao novo governo mostrar um desempenho muito melhor, se quiser se firmar como um governo aceito e reconhecido.
EM CAXIAS
:: Atividade econômica ::
A melhora do cenário nacional também reflete na economia de Caxias do Sul. A queda de 12,4% da atividade econômica caxiense no primeiro semestre de 2016, apesar de muito significativa, já é menor do que a retração do mesmo semestre de 2015 (de 16,2%).
O setor de serviços ainda sente mais fortemente a retração econômica, por ter sido o último a entrar em crise (passando de 0,1% no primeiro semestre de 2015 para uma queda de -8,2% no mesmo semestre de 2016), mas os setores da indústria e do comércio já começam a observar melhoras (ainda que marginais), corroborando com a percepção de que lentamente estamos deixando o fundo do poço para trás.
:: Emprego ::
No mercado de trabalho, apesar da redução de 2.877 postos em Caxias do Sul no primeiro semestre de 2016 (o que representa uma redução de 1,7% no número de empregos formais quando comparado com dezembro de 2015), observa-se uma forte desaceleração nas demissões, tendo em vista que no acumulado de 12 meses formam fechados 15.682 postos de trabalho. Ou seja, também no mercado de trabalho percebe-se que o pior da crise deve ter passado.
:: Comércio internacional ::
Com relação às exportações caxienses no primeiro semestre de 2016 houve uma queda de 10%, devido, em grande parte, à também difícil situação do mercado externo. Todavia, o saldo comercial (exportações - importações) aumentou cerca de 18%. Isto se deve à forte contração nas importações, que tiveram uma queda de 39,9% neste período.
Acredita-se que com a redução do mercado interno, as indústrias de Caxias do Sul buscarão o comércio exterior como forma de reduzir sua capacidade ociosa.
Perspectivas
Economia de Caxias apresenta tendência de melhora
Conselho da CIC divulga documento com análise que aponta panorama internacional, nacional e local
Pioneiro
GZH faz parte do The Trust Project