
A pergunta que embalou o Brasil em 1988 “Quem matou Odete Roitman?” voltou a ecoar nas últimas semanas com a reta final da nova versão de Vale Tudo. O último capítulo será exibido nesta sexta-feira (18) na RBS TV. A temporada dividiu o público e reacendeu debates sobre ética, comportamento e força das vilãs na teledramaturgia brasileira.
Para o jornalista, pesquisador da cultura pop, mestre em Letras e Cultura Regional e cronista do Pioneiro, Nivaldo Pereira, a diferença entre as duas versões é o retrato do país em momentos distintos.
— A primeira Vale Tudo refletia um Brasil que estava se passando a limpo, no pós-ditadura, em plena Constituição. A primeira eleição para presidente, depois de décadas, então, tinha um momento político muito forte. Já o remake mostra um país que parece ter naturalizado a falta de ética — observa Nivaldo.
A novela original, escrita por Gilberto Braga, Leonor Bassères e Aguinaldo Silva, foi ao ar em 1988 e marcou época ao confrontar o espectador com dilemas morais. Raquel (Regina Duarte), a mulher honesta que lutava para vencer pelo trabalho, e sua filha Maria de Fátima (Glória Pires), disposta a tudo para subir na vida, se tornaram arquétipos nacionais. No centro da trama, a poderosa e arrogante Odete Roitman (Beatriz Segall) virou símbolo da elite sem escrúpulos e, com a morte, paralisou o país. Já a nova versão, escrita por Manuela Dias, ressignifica personagens e suas temáticas.
— Agora, a Odete (Débora Bloch) não é mais apenas a vilã que despreza o Brasil. Ela vem com nuances feministas, questiona o machismo, fala de poder feminino. Lá atrás, o país inteiro torcia pela morte dela. Hoje, a gente simpatiza com os vilões — comenta Nivaldo.
Para o cronista, essa inversão de papéis reflete uma mudança de valores.
— A nova Odete é sedutora, carismática. E Raquel (Taís Araújo), que antes era a heroína exemplar, virou a chata. A grande morta da trama é ela. A Raquel moralista que já não encontra mais espaço num mundo tão relativizado — avalia.
Além da transformação nas personagens, Nivaldo aponta avanços importantes na atualização da história:
— A Manuela trouxe diversidade racial e de gênero que não existiam na primeira versão. As protagonistas são negras, a Consuelo (Belize Pombal) ganhou um novo contexto, e o debate sobre representatividade aparece com força. Isso é um grande mérito do remake.
Mesmo com as atualizações, o cronista reconhece que o impacto da nova versão é diferente, já que a primeira Vale Tudo foi uma catarse nacional, e a de hoje, ainda que tecnicamente excelente, reflete um tempo em que a indignação perdeu força.
— A gente já não se espanta com a falta de ética, parece que o vale-tudo virou o normal — aponta.
Para Nivaldo, no entanto, o legado da novela continua vivo. Apesar da nova versão não ter tanto impacto como a primeira, que era inédita, continua afirmando que a novela é uma das principais formas de arte desse país.
— Vale Tudo segue sendo um espelho do Brasil. Em 1988, mostrou um país tentando reencontrar sua moral. Em 2025, mostra um país tentando entender onde ela foi parar — conclui.
Quem matou Odete Roitman?
Em 1988, os principais suspeitos eram:
Marco Aurélio (Reginaldo Faria)

César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli)

Maria de Fátima (Glória Pires)

Celina (Nathália Timberg)

Heleninha Roitman (Renata Sorrah)

Eugênio (Sérgio Mamberti)

Mas, houve uma reviravolta na trama. A verdadeira assassina de Odete foi Leila (Cássia Kis), mulher de Marco Aurélio, que matou a vilã sem querer, por achar que a sombra na parede era de Maria de Fátima, a amante dele.

Já em 2025, os principais suspeitos continuam os mesmos:
Marco Aurélio (Alexandre Nero)

César Ribeiro (Cauã Reymond), com a ajuda do melhor amigo, Olavo (Ricardo Theodoro)

Maria de Fátima (Bella Campos)

Celina (Malu Galli)

Heleninha Roitman (Paolla Oliveira)

Uma pesquisa recente do Datafolha apontou que somente 4% dos entrevistados desejavam a morte da personagem, enquanto 47% a queriam pobre como castigo. Entre as várias teorias criadas, a que mais está em alta nas redes sociais é que a vilã tenha forjado a própria morte e voltado para o Exterior.
Apesar do retorno da expectativa de saber quem é o assassino da vilã, Odete Roitman, o remake se encerra com novas camadas, uma Odete mais complexa, que fez com que o público a amasse, uma Maria de Fátima influenciadora e uma Raquel que perdeu o protagonismo moral que tinha em 1988.




