
Dando protagonismo aos povos originários e ao sopapo, tambor tradicional negro-gaúcho, o projeto Palcos Amefricanos RS - Circulação Sopaporiki e Girafa da Cerquinha chega a Caxias para duas apresentações gratuitas nesta quarta-feira (25).
A valorização da cultura ancestral gaúcha está na centralidade da circulação, contribuindo para a valorização do patrimônio cultural e contribuição do povo negro na construção da identidade cultural do Rio Grande do Sul.
Às 14h é a vez do espetáculo Girafa da Cerquinha para o público infantil e, às 19h, Sopaporiki, para os adultos. Ambos ocorrem na Sala de Teatro Valentim Lazzarotto, prédio anexo ao Centro de Cultura Ordovás.
As duas montagens têm à frente o poeta, músico e performer Richard Serraria. Além das apresentações, o público também é convidado a participar das Rodas de Tamboralitura.
— A ideia de palcos Amefricanos vem do conceito de Améfrica, de Lélia Gonzales, uma mulher negra, escritora e filósofa, que trazia essa ideia de que a América que habitamos deveria ser chamada de Améfrica, em função da contribuição dos povos originários e africanos — explica o músico Richard Serraria.
Na peça voltada às crianças, a atividade se torna lúdica, por meio da contação de história com a personagem Girafa e a interatividade com o tambor.
— O tambor está na contação de história da girafa e as crianças entendem como um objeto lúdico, como brinquedo. O tambor é personagem — conta.

Já a apresentação adulta, Sopaporiki, é uma performance com uma linguagem mais contemporânea, explica o artista.
— A ideia central desse projeto é a democratização do acesso ao tambor sopapo. Que as crianças possam conhecê-lo, que os adultos possam ter contato com essa informação. A presença de um tambor negro e gaúcho. E nisso a gente também entende que mais do que um instrumento musical, é um artefato político, porque está ligado às Charqueadas e à história do RS. É um projeto, também, de educação antirracista — salienta Serraria.
Circulação estadual
- A circulação começou no início do mês de junho e já passou por Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Pelotas, Rio Grande e São José do Norte.
- Depois de Caxias, segue para Canela (dia 26) e Gramado (dia 27).
- Na semana que vem, percorre a região Metropolitana com apresentações em São Leopoldo (01/07) Canoas (02/07), Guaíba (03/07) e Porto Alegre (04/07).
- O projeto Palcos Amefricanos RS - Circulação Sopaporiki e Girafa da Cerquinha está sendo realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc, através do Edital SEDAC nº 26/2024 - ARTES CÊNICAS.
Sinopes dos espetáculos
Girafa da Cerquinha é um reconto de uma história entoada originalmente pela mestra griô Sirley Amaro.
Conta a fábula da girafa, animal que teria vindo da África num navio e que escolhe ir para Pelotas, no bairro da Cerquinha, cidade em que havia um Carnaval burlesco com nomes de bichos.
Uma recontação de história infantil com o tambor sopapo sendo tocado de maneira continuada envolvendo a criançada numa vivência lúdica com as batidas características do grande tambor negro gaúcho (Ijexá, Adarun, Aré do Bará, Congadas RS, Samba Cabobu, Candombe uruguaio gaúcho e Milongón).
Cada batida negra sonoriza um nome de bicho, personagens da narrativa.
Sopaporiki é um espetáculo musical tambor centrado, criado e performado por Richard Serraria com direção cênica de Leandro Silva, em que a presença do sopapo, instrumento musical e também artefato político ligado ao povo negro do Rio Grande do Sul, costura a narrativa, exigindo adequação do performer e poeta às diferentes linguagens artísticas mobilizadas para a materialização do espetáculo.
Com seu conteúdo amefricano, afirma a potência das epistemologias negras no Brasil atual, num acúmulo de pesquisas e atuações em torno do tambor de sopapo e a contribuição negra na literatura e na música, ou ainda junto ao encontro com a poesia dos orikis da matriz iorubá da África.
Em 2020 nasceu o livro Sopaporiki, em que o eu lírico é o tambor sopapo que conta e canta a trajetória dos 12 orixás do Batuque de Nação Oyó Idjexá e o surgimento da cosmogonia iorubá no Rio Grande do Sul e Bacia do Prata, base do espetáculo musical homônimo criado e estreado em 2022.
A obra integrou, desde então, importantes eventos, como a Filigram 2022 (Gramado, RS), o Sarau do Solar 2022 (Porto Alegre, RS) e o 29º Festival Porto Alegre em Cena, em 2023 (Porto Alegre).