
Filha do pintor italiano Aldo Locatelli, Cristiana Locatelli, 73 anos, é uma das entrevistadas do documentário sobre os 70 anos da Igreja São Pelegrino, cujo lançamento ocorre nesta quarta, em Caxias do Sul (confira quadro abaixo). Cristiana gravou depoimento no mezanino da igreja, observando detalhes das pinturas, em especial do Juízo Final, e comentando o legado artístico do pai.
O que nem todos sabem é que Cristiana também está eternizada no templo, em uma das telas da Via-Sacra: a Estação VIII - Encontro com as Piedosas Mulheres, pintada por Locatelli em 1960. Cristiana inspirou a figura da menina com o pote de água, em primeiro plano. Ela tinha sete anos na época.
- Eu estou ali oferecendo água para Jesus Cristo, representando as mulheres que querem aliviar um pouco a dor de Jesus no calvário.
Cristiana também conta os “bastidores” da produção, 65 anos atrás:
- Eu ia muito pro estúdio, que era em casa. Gostava muito de ver o meu pai pintar. Nesse quadro específico, eu tinha que posar pro meu pai, ficava horas em pé nessa posição. E o interessante é que ele me “pagava” isso em chiclete. Toda vez que eu terminava de posar, ele me dava um dinheiro, e eu ia pro bar da esquina e comprava tudo em chiclete. É uma história bem pitoresca, é um período que me marcou muito - conta.

FAMÍLIA NAS OBRAS
Conforme Cristiana, o pai acreditava que a família é a base para a construção de uma sociedade. E isso se refletia nas pinturas, reforçando o apego e o valor que Locatelli dava à sua própria:
- Eu, meu irmão, minha mãe, minha tia, nós estamos em várias obras, algumas isoladas, outras só eu quando criança. Em São Pelegrino, o Menino Jesus no colo de São José, no altar, é o meu irmão de dois anos de idade. Ele (Locatelli) retratava muito a família. Dentro daquele contexto, daquele história onde teria que ter um menino, uma menina, uma mulher ou uma mãe amamentando, normalmente era eu, meu irmão, minha mãe. Ele (Locatteli) sempre nos colocava.
É o caso da pintura mural O Estado Rio-Grandense, que decora a antessala do gabinete do governador, no Palácio Piratini, em Porto Alegre. O artista utilizou toda a família como referência para a composição, em 1954. Além de um autorretrato, Locatelli incluiu a esposa Mercedes e os filhos Roberto e Cristiana, à época com dois anos. Confira nas duas imagens abaixo.


MURAIS NO PALÁCIO PIRATINI
Natural de Pelotas, Cristiana vive desde a década de 1970 em Rio Branco, no Acre. Sua passagem pela Igreja São Pelegrino ocorreu na metade do ano, quando visitou o Rio Grande do Sul para conferir o legado artístico do pai em vários espaços - após um intervalo de quase duas décadas sem vir ao Rio Grande do Sul.
Em Porto Alegre, Cristiana passou pelo Palácio Piratini e conferiu os 23 murais que ornamentam os salões Alberto Pasqualini, Negrinho do Pastoreio e a antessala do gabinete do governador. E sempre emociona-se quando avalia o trabalho de Aldo Locatelli no Estado.
- Saber que o meu pai veio para o Brasil (em 1948), fez tanta coisa em tão poucos anos (faleceu em 1962), estudou tanto sobre o Rio Grande do Sul, isso me impacta muito. Ele sabia a história do Rio Grande do Sul como um verdadeiro gaúcho, em poucos anos ele assimilou toda a nossa história. Passava isso numa tela com uma veracidade como poucos conseguiram fazer.

AGENDE-SE
:: O quê: lançamento do documentário "São Pelegrino, 7 décadas de histórias", dirigido por Alexandre Massutti. Duração: 37min.
:: Quando: nesta quarta, dia 15, em duas sessões: às 19h30min (para convidados) e 20h30min (para o público em geral)
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, junto ao Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: entrada franca.




