O mal por vezes tem um beleza exuberante. Constatei isso na última semana ao olhar para o céu à noite e me deparar com uma imensa e graciosíssima lua vermelha. As redes sociais, em polvorosa, postaram fotos em contemplação ao fenômeno sem ao menos saber que o escarlate que a lua refletia era o sangue que jorrava do Pantanal em chamas. Não havia nada de natural ou sobrenatural, era só a crueldade humana mesmo.
Já são aproximadamente três milhões de hectares do bioma em cinzas. E, não se engane, não são somente árvores queimando. São animais de todo tipo morrendo carbonizados. São rios desaparecendo. É o solo se tornando improdutivo. É a biodiversidade brasileira, tão aclamada mundo afora, se esvaindo. É o clima se tornando uma ameaça à nossa vida. Daqui a pouco, nem respirar será possível.
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Há pouco mais de um ano, São Paulo anoiteceu às 15h. Nuvens negras tomaram o céu, taparam o sol. Parecia o apocalipse. E era! O fenômeno foi causado, em grande parte, pelas queimadas de porte imensurável provocadas na região amazônica, com o fim de ampliar pasto para a agropecuária. Sabe, nem sempre o agro é pop. Na maioria da vezes, ele é danoso, cruel e só pensa no lucro das exportações.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse em abril passado, numa gravação de reunião governamental vazada, que a pandemia poderia servir para tirar o foco de assuntos de preservação ambiental. Em suas palavras: “precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de covid, e ir passando a boiada, e mudando todo o regramento (ambiental), e simplificando normas”.
Bom, Salles é um homem de palavra, pois desde sua fala, a boiada tem passado como nunca. Sim, ele tem palavra, só não tem coração e nem decência, ou responsabilidade social.
A biodiversidade brasileira é o que nos torna quem somos, é a nossa riqueza maior. É a joia da coroa! Em nome do desenvolvimento da economia ela tem sido cruelmente sacrificada.
O que parece não ser entendido pela grande população é que não há distância entre nós e o fogo. Na verdade, estamos no meio das chamas, ardendo junto. Já percebeu que as estações do ano se entremeiam numa confusão incompreensível? Já notou que os agricultores têm sofrido com a escassez ou excesso de chuvas? Já viu que os alimentos vão se revezando em inflações? Muitos alimentos têm passado longa temporada longe de nossos pratos.
Tudo isso é o perceptível resultado do descaso que se tem com a natureza. Aquilo que não se sente ainda, será notado, de forma drástica e dolorosa pelas gerações futuras. E, não, isso não é uma profecia pessimista para o mundo, é uma constatação.
Nesse momento, a Amazônia segue queimando, o Pantanal também. Os animais seguem morrendo. Os rios secando. O solo apodrecendo. E o futuro melhor se torna cada vez mais distante.
O fogo arde no Brasil, o inferno, hoje, é aqui.
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