A gente não quer só comida! Berravam nos palcos Brasil afora os garotos da banda Titãs, no final da década de 80. Em 2020, em plena pandemia mundial, a maioria da população só quer comida, pelo menos comida. Se der, um teto sobre suas cabeças. E, quem sabe, um pouquinho de dignidade.
Clamores desesperados em meio a tempos de pouco pão seguem se normalizando pelas ruas, nos centros e nas periferias. Assim como o choro das famílias que perderam entes amados para a Covid-19 seguem silenciados pelos números que, para maioria, nada dizem.
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Tenho ouvido falar do novo normal e estou tentando entender o que, na prática, pode vir a ser isso. Vou mensurar algumas coisas que tenho visto desde que a Pandemia se instalou em nossas vidas e, que, ao meu ver podem ser um indicativo do que está hoje na normalidade.
Normal é usar máscara toda vez que saímos de casa. Normal é ter alergia de tanto usar álcool gel. Normal é ver o sistema de saúde público beirando o colapso. Normal é assistir o número de contaminados e mortos pelo Coronavírus em ascendência toda vez que abrimos o jornal, ligamos a TV ou o computador. Normal é saber que pequenos e médios negócios chegam à falência diariamente, deixando um rastro de desempregados em frente às suas portas fechadas. Normal é sentir saudades de quem amamos. Normal é ver os bancos recebendo trilhões em incentivos enquanto uma mísera quantia é destinada à população e, ainda, com todas a barreiras possíveis para que se possa acessar o dinheiro. Normal é a fome batendo no estômago, tonteando a cabeça do cidadão e cidadã. Normal é crianças sem escola, pais tendo que trabalhar e não tendo com quem deixá-las. Normal é a desesperança crescendo, se apoderando de nós. Normal é não conseguir enxergar o futuro.
Tenho visto outra coisa se normalizando: a população fazendo as vezes do poder público. Enquanto governos e prefeituras se posicionam de forma desbaratinada, sem um foco real no bem-estar do povo, têm pessoas e instituições cuidando dos que passam dificuldades e buscando novas possibilidades se viver em meio a um surto econômico, social e de saúde pública.
Me vem à mente agora, que a pandemia chegou em um ano de eleições no Brasil. Então, talvez, o novo normal também seja aprender a votar. Eleger gente que realmente pense em nós, que nos represente profundamente, que compreenda a nossa realidade e que queira, sem demagogia, que nosso espetacular país se desenvolva com plenitude.
Ao que me parece, o novo normal é sobreviver à pandemia, mantendo minimamente saúde emocional e física, cuidando de si e do outro, compreendendo que parte da população não tem condições de ficar em casa, pois não tem Coronavírus que detenha os boletos.
Em suma, sonho como o dia em que o novo normal passe a ser AMAR E MUDAR AS COISAS, como dizia Belchior.