Nivaldo Pereira
Ouço Nana Caymmi em Chora Brasileira: “Procissão do senhor morto / Que morre outra vez agora / Uma enxugou seu rosto / Outra observa e chora / As mulheres vão seguir / Queimando os dedos na cera / Chora, brasileira / Chora, carpideira, ah / E chora”. Ao final da canção, a alusão aos ritos sacros da Paixão de Cristo espelha o real, na dor de qualquer mãe: “Vê a face de um filho / Mista de sangue e poeira / Chora, brasileira”. Essa música se impõe aqui, tanto pela efeméride cristã como por esse tempo em que de novo choram Marias e Clarices no solo do Brasil. Chora outra vez a nossa pátria mãe gentil. E na grande noite que cobre o Brasil, uma dor assim pungente não há de ser inutilmente. Por isso, a esperança equilibrista volta a dançar na corda bamba.
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