Nivaldo Pereira
Em um trecho do romance Gabriela, Cravo e Canela, de 1958, o leonino Jorge Amado assim descreve sua heroína: “Gabriela sentiu um arrepio. Era tão bom dormir com homem, mas não homem velho por casa e comida, vestido e sapato. Com homem moço, dormir por dormir”. Essa expressão da libido feminina deve ter contribuído para o rótulo de indecente que marcou a obra do escritor por décadas. Pelos tabus da sociedade patriarcal, não havia lugar para o desejo da mulher – e muito menos autorização para que ela mesma pudesse questionar isso. Felizmente, muita coisa mudou, depois de muitas batalhas delas. Em 2020, já podemos aplaudir, por exemplo, as vozes das também leoninas Natalia Borges Polesso e Djamila Ribeiro, cujos escritos corajosos ajudam a afirmar os direitos da identidade feminina. Identidade, criação, amor, dignidade e ousadia são temas de Leão. Mas, se este é um signo associado ao rei dos animais, o que dizer das leoninas num mundo ainda machista?
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