Ao cruzar a linha do Equador, acontece algo mais profundo do que Orion mudar de sentido. No exato momento em que observo pela janela do avião, na madrugada, ele se deita preguiçosamente sobre as macias nuvens que cobrem o Atlântico.
Sempre me pergunto sobre a criatividade de quem, ao olhar para essas mesmas estrelas, viu uma constelação. Mais do que isso: um caçador completo, armado e tudo. Aos meus olhos, só fez sentido o seu cinturão — e ainda assim, muito pouco.
A mudança profunda a que me referi no início é justamente essa: elas passam a se chamar Três Marias.
Não sei muito mais do que isso sobre nomes de estrelas. Identifico o Cruzeiro do Sul e a constelação de Câncer. Gêmeos, que é meu signo, nunca me pareceu fazer sentido como constelação. Ah, sim: identifico também a Lua e suas fases.
Mas que diferença fazem os nomes na realidade última das coisas? Será que realmente mudam algo no mundo? Astrônomos já demonstraram que alguns pontos de luz no céu são galáxias inteiras, não estrelas únicas. A Estrela Dalva, a estrela da manhã ou a estrela da tarde são todas o planeta Vênus — esse eu também identifico.
Talvez, no hemisfério sul, nos aproximemos da verdade por outro caminho. Pouco importa se existe ou não pecado. Tanto faz se as estrelas estão firmes no céu, ou se uma delas cair dá sorte — ou uma verruga na ponta do dedo. Basta que seu brilho permaneça acima das nuvens e que sejamos capazes de sonhá-las.
Cada um a seu modo: lendo mapas astrais, pesquisando os mistérios do universo ou ouvindo estrelas — pois isso, só quem ama é capaz.



