Estava acompanhando uma apresentação de vinhos numa vinícola histórica de Rioja, na Espanha. Entre a degustação de um vinho e outro e minhas anotações, fui desenhando o profissional que conduzia a atividade. Uns rabiscos num guardanapo, e minha colega ao lado elogiou o desenho, perguntando se eu o guardava ou jogava fora. Resolvi dar de presente ao nosso anfitrião. Não me pareceu um desenho particularmente bonito, nem um retrato digno da pessoa em que me inspirei — para isso precisaria de muito mais tempo e dedicação. Mas entregá-lo, assim mesmo, o fez abrir um sorriso.
Um dos meus hobbies preferidos já foi pintar e desenhar — hoje só uso para passar o tempo ou como uma atividade mecânica enquanto estou realmente concentrado em outra coisa. É algo de que simplesmente gosto. Assim como, apesar de gostar de tocar violão, nem de longe me penso como músico. Essas atividades me ajudam em muitas coisas, quando consigo praticá-las. Estive pensando que me ajudam principalmente a parar sem considerar algo pronto.
Na vida das obrigações, dificilmente paramos de fazer algo sem uma delimitação mais clara. Em geral, temos prazos, requisitos mínimos, padrões para considerarmos algo acabado: horários, exigências externas ou internas, exaustão — pouco importa, há sempre algo que define um fim. Já aprender uma música nova ou finalizar uma expressão visual não tem isso. Pode durar eternamente; podemos abandonar no meio sem qualquer consequência ou simplesmente decidir, de uma hora para outra, que é o bastante por hoje.
Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios de que se tem registro, ficou conhecido por deixar obras inacabadas. Até mesmo a mais famosa de todas, a Monalisa, teve anos e anos de trabalho — e ficou inacabada. A genialidade dele se expressou da mesma forma. Um personagem histórico sedutor e inspirador — até Freud dedicou um texto à reflexão sobre sua personalidade peculiar.
Este texto, por exemplo, vai acabar mais pelo limite de caracteres. E isso é bom, pois me obriga a dar um fechamento — ou simplesmente parar. Aliás, essa é uma prática bastante comum entre artistas: autoimpor-se uma limitação para ajudar na criatividade — usar um estilo, certo número de cores, campos harmônicos ou qualquer outro recurso que se aplique à sua criação.
Penso que nossa época de telas que rolam infinitamente anda corroendo nossas mentes, matando nosso tempo e dessensibilizando nossas emoções. Por isso, a prática de parar de fazer algo — terminado ou não — passa a ser um bom exercício.





