O futebol chegou ao Brasil pelas mãos de Charles Miller, um jovem brasileiro, filho de estrangeiros que, em 1894, trouxe da Inglaterra uma bola, uniformes e as regras do novo esporte. Primeiro, foi praticado nos clubes da elite paulista. Logo, o futebol ganhou as ruas, os campos de terra batida e os estádios do país.
Na década de 1960, eu ainda era menina, e o futebol já incendiava corações pelo país. Os narradores esportivos, com vozes potentes, enchiam o rádio de emoção — às vezes, entremeando expressões estrangeiras como offside para impedimento e corner para escanteio. Eu não compreendia todos os termos, mas sentia que algo grandioso acontecia no gramado. E queria estar junto.
Foi nesse tempo que eu comecei minha relação com o futebol. De mãos dadas com meu pai, frequentava a Baixada Rubra — estádio do antigo Grêmio Esportivo Flamengo. Ali aprendi a torcer, a escutar os gritos da torcida a sentir a vibração das arquibancadas.
Mas, a história de amor do meu pai com o time sofreu um duro golpe. A fusão do Flamengo com o rival Juventude partiu corações de ambos os lados — e o afastou das arquibancadas. Eu também me distanciei. Ainda assim, mesmo longe do estádio, o futebol continuou vivo em mim. Não sei se foi o acaso ou destino, mas de algum jeito acabei sempre próxima do time Grená. Fui colega do Ademir Bachi, o Tite e aluna do professor Luiz Felipe Scolari, o Felipão. Anos depois, encontrei muitos outros apaixonados pelo time do povo —como o cartunista Iotti, criador do irreverente Radicci, e o rapper Divilas, que transforma as arquibancadas em palcos de poesia e resistência.
Também descobri que um dos primeiros goleiros do Flamengo foi meu tio-avô, Ary Hoffmann. Essa revelação me fez sentir que havia ali uma herança antiga, como se o futebol estivesse gravado na memória do meu corpo.
Por um tempo, essa paixão adormeceu. Mas, como tudo o que pulsa, voltou a bater forte. Retornei às arquibancadas, ao lado dos que resistiram ao tempo e aos reveses. Encontrei vozes que transformam dor em rima, tropeços em superação. Gente que carrega o amor ao clube como raiz antiga.
De volta ao estádio que hoje se chama Centenário, visto a cor grená, que atravessa gerações e carrega a alma do clube. O Caxias segue firme, enfrentando quedas e renascimentos. E eu, como meu pai — e tantos torcedores e torcedoras de ontem e de hoje — continuo respondendo ao chamado da bola.





