Um amigo me indaga, preocupado, como me senti por não ter sido convidado para determinado evento. Disse-lhe, sem pestanejar, estar tudo bem. E com mostras evidentes de ser insignificante na ordem do mundo. Logo outra pessoa será “escanteada” e a vida seguirá em seu perpétuo movimento. Confesso nem sempre ter sido capaz de pensar assim. Amarguei noites insones ao ser alvo de descortesias, “esquecimentos”. Hoje já percebo ter imunidade contra estas pequenas vaidades. O tempo relativiza os fatos. Até porque, se ficamos presos a esse tipo de preciosismo, paralisamos a habilidade de examinar com lucidez. E, afinal, a passagem dos anos deve valer para alguma coisa, sob o risco de sermos condenados a repetir modelos de comportamento que têm provocado infelicidade. Dê uma espiada ao seu redor e perceberá o ressentimento ocupando generoso espaço nas agendas emocionais. Então, cabe a cada um de nós, conscientes da relevância de refinar a maneira como agimos e reagimos, pôr de lado estas minúsculas questões, responsáveis por diminuir a aptidão de encontrar a serenidade.
Permanecer afastado de grandes expectativas nos proporciona a capacidade de estar apaziguado. Sair desses jogos do ego nos permite ver com clareza, em detrimento de querermos ocupar o pódio, recebendo o máximo de atenção. Há, claro, a constatação de isso pertencer à ordem dos desejos humanos e é complexo contorná-los. Se não estivermos na lista tal, está certo também. Há demasiado exagero no valor que atribuímos a algo periférico. São detalhes ignorados pelo universo. Um breve suspiro na imensidão cósmica.
Nós somos testados a toda hora. Reconhecer o quão pouco representa uma vontade individual é libertador. Agradar a todos? Impossível! Agora, vá entender o que se passa na mente, tão propensa a projetar sobre si mesma os holofotes. Ser ignorado, muitas vezes, revela-se uma bênção. Os chatos proliferam e desviar-se deles é um alívio. Entre múltiplos nomes, pode surgir o nosso, só isso. Já sei relaxar e me manter leve, bem leve. Porém, demora até a gente abdicar de ter reações emocionais impulsivas.
A resposta para a indagação inicial ressoa no vazio. E, com sinceridade, espero que continue. Vale esforçar-se e trabalhar em prol da construção de uma imagem atrelada a bons resultados, sem estar conectado ao olhar alheio e à necessidade de aprovação. Podemos desenvolver maior resistência às frustrações. E nos tornaremos agentes responsáveis por espalhar esse correto modo de se analisar. Dá para economizar bastante energia mental, redirecionando o foco.
Mas... e se alguém deixar de me chamar de novo? Ora, atribuir peso a isso tem uma pitada de soberba e outra de baixa autoestima. Vamos escapar dessa armadilha.



