Andamos exagerando na conjugação do pronome pessoal “eu”. Um bom antídoto para combater essa tendência é lembrar com relativa frequência que ninguém é tão importante assim. Nem o Papa e menos ainda o presidente do... qualquer país, enfim. Ao nos deslocarmos da realidade mais imediata percebemos isso claramente. Parece que estamos no centro do universo, mas é só desviar um pouco a lupa e vamos descobrir mais oito bilhões de criaturas pensando da mesma forma. O que não implica em deixar de dedicar a si mesmo bons cuidados e encarar a jornada como uma obra de arte a ser executada ao longo dos dias. Incomodo-me com essa expansão narcísica presente nas redes sociais e nas rodas de conversa. Busco novos treinamentos mentais para expandir a capacidade de acolher o outro, cedendo confortavelmente um largo espaço para a aptidão da escuta. E sem significar sacrifício. Contudo, faço ressalvas quando a autorreferência atinge patamares insuportáveis. No mais, tenho grande admiração por quem é capaz de se afastar de si e alçar-se a um estágio mais elevado nos relacionamentos.
Na Idade Média, lembremos, as pessoas morriam contentes por uma causa coletiva. Entendiam o bem comum sobrepondo-se aos interesses individuais. Dar uma revisada na História é sempre educativo. E uma maneira salutar de aplainar o ego. Meu tempo é agora. É amanhã. Acredito na nossa aptidão de ajustar o foco da lente e aprender a ver melhor. Superamos muitos preconceitos alimentando-os com uma boa dose de racionalidade. O que nos trouxe até aqui foi a capacidade de ultrapassar o sentimento de sermos especiais só por fazer parte de uma raça detentora de alguma forma de poder sobre os demais. Estaremos aprendendo a buscar a beleza no diverso? Talvez seja uma luta que tende a cessar frente à onda de conservadorismo radical visível no mundo.
Do pó ao pó. A vida, tão breve, deveria ser a mestra. Observar com atenção a passagem dos fatos. Porém, a velhice, vista como a época da sapiência, é um mito. A alma precisa ser construída, está posto na teosofia, grande sistema filosófico-religioso. Se a existência é um dia, iremos aprender algo até o último instante? Por enquanto, viro o espelho de lado e sigo ignorando o que dizem ser essencial: aparecer, exibir-se. Faço meu trabalho e se ele me traz algum holofote, logo ali adiante poderá apontar em outra direção. Ainda tenho múltiplos apegos, mas estou aprendendo a distribuir. Todo pertencimento é provisório. A casa. O carro. Os livros. As roupas. Até o amor.
Está na hora de reconhecer que o planeta Terra é um ponto perdido no cosmos. E, no entanto, somos este milagre autoconsciente. A sabedoria pode estar em ser capaz de equilibrar dentro de nós essas duas verdades.