A pergunta do título não é uma crítica nem uma provocação: é um convite para refletirmos sobre a real importância de manter adolescentes 9 horas dentro de uma escola de Ensino de Médio. Esse tempo extra deve ser usado da melhor forma possível e dar um bom ponto de partida para os jovens ingressarem no mundo adulto.
Nutro profunda antipatia por nomenclaturas pedagógicas que pouco explicam à população o que significam. Por trás dos termos empregados pela Secretaria Estadual de Educação (coisas como Projeto de Vida, Estudos Orientados, Mentoria, Práticas Experimentais, Projeto de Corresponsabilidade Social, Trilhas de Aprofundamento Curricular e Trilhas de Qualificação Técnicas), o que se está planejando de concreto para o futuro dos estudantes? Que condições terão para se tornarem jovens adultos capacitados, produtivos, autônomos e bem-sucedidos?
Vou trazer aqui um pouco de contexto para afirmar que, se bem aproveitado, esse turno integral nas escolas públicas de Ensino Médio do Rio Grande do Sul veio em excelente hora. A Nvidia é uma das empresas mais valiosas do mundo neste momento: simplificando, é ela que fabrica os “motores” que fazem funcionar grande parte das ferramentas de inteligência artificial e da computação moderna. Pois bem, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, disse há pouco tempo que eletricistas, encanadores, pedreiros, pintores e marceneiros serão muito bem-sucedidos num futuro próximo e que “serão os vencedores” num mundo dominado pelas IAs.
Huang observou que as melhores oportunidades estão nas funções cuja mão de obra já está escassa, como na construção e ampliação de toda a complexa infraestrutura física por trás da inteligência artificial e do comércio online: data centers e centros de distribuição. E quem está formando esses profissionais se nas escolas só se fala em “nota de corte” do vestibular?
Há uma escassez generalizada de profissionais técnicos, e hoje eu entendo perfeitamente que um instalador de ar-condicionado ou técnico em refrigeração, por exemplo, ganhe R$ 200 a hora, talvez até mais: a lei da oferta e da demanda é implacável. A era de ouro dos estágios e programas de trainee para trabalhar sentadinho no escritório de uma empresa de dia e ir para a faculdade à noite acabou ainda na pandemia.
Hoje vários desses empregos de entrada foram eliminados porque suas funções já são executadas por um robô qualquer ou por um profissional remoto. Se o turno integral oferecer uma qualificação técnica que traga emprego e renda a um jovem de 18 anos já na largada, mais tarde esse mesmo jovem terá a liberdade financeira de investir em outras habilidades e profissões, quem sabe em seu próprio negócio. Que não se perca tempo.






