Dia 15 de outubro, e trago essa frase do professor A.J. Juliani para promover um debate mais do que necessário sobre a importância da escola na vida de crianças e adolescentes: “Nosso trabalho não é preparar os estudantes para alguma coisa. Nosso trabalho é ajudar os estudantes a se prepararem para qualquer coisa”. Infelizmente, hoje em dia, muitos professores se encontram obrigados a preparar os alunos para uma coisa só: resolver questões de Enem e de vestibular, como se isso fosse realmente o único caminho possível para um adolescente depois que ele termina o Ensino Médio.
A.J. Juliani é educador, autor e palestrante norte-americano especializado em inovação e metodologias ativas de aprendizagem. Professor na Universidade da Pensilvânia, escreveu obras como Adaptable e Launch e defende práticas centradas no aluno, como o aprendizado por projetos e o uso criativo da tecnologia e de design thinking na educação. Infelizmente, nenhum desses livros foi publicado aqui no Brasil e seu trabalho é pouco conhecido, e isso diz muito sobre o quanto este setor aqui anda estagnado e preso a um modelo ultrapassado.
É triste observar que a maioria das escolas públicas e privadas ainda pauta toda sua estrutura de matérias e conteúdos somente no vestibular e no Enem. Parece que jamais saímos dos anos 1980 e 1990, época em que os cursinhos pré-vestibulares tiveram o seu auge ensinando macetes para resolver questões de provas das universidades federais. Contudo, a existência desses cursinhos, enquanto uma entidade separada do ambiente escolar, permitia que as escolas regulares oferecessem muito mais que uma excruciante sequência de simulados de provas e promovessem um simulado para a vida adulta: socialização, convivência com os diferentes, amadurecimento, aprendizado num ritmo mais tranquilo e prazeroso por meio de descobertas, leituras e conversas.
Os professores são os adultos fora da família que oferecem um pouco de sua experiência de vida, e muitas vezes o carinho e a atenção que muitos alunos não recebem em suas próprias casas. Contudo, sufocados por cobranças por “resultados” (ou seja, para que sua turma tenha média para “passar na UFRGS”) nem sempre lhes é permitido tempo e espaço suficientes para proporcionar aos estudantes os essenciais momentos de construção de autonomia, de confiança e de real conhecimento, não de decoreba inútil.
Acredito que cabe justamente aos professores – tão silenciados por tecnocratas, coordenadores, e até mesmo marketeiros — promover o retorno da educação básica ao seu propósito essencial. A sala de aula precisa voltar a ser um espaço de diálogo, de investigação e de construção coletiva, onde aprender significa compreender, conviver e criar — e não só acertar a alternativa em uma prova.




