O debate da inflação vem ganhado força de ponta a ponta nos últimos dias, seja pelo alerta da Fiergs nesta semana sobre os efeitos sentidos na indústria, seja pela percepção dos consumidores no varejo, serviços e em outros ramos afetados pela conjuntura econômica nacional e internacional. Mas há outros elementos comportamentais que se somam a esses fatores, segundo especialistas em inflação e formação de preços, que ajudam a entender o cenário.
De acordo com o professor Roberto Birch Gonçalves, diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), em situações como essa é comum ter elementos psicológicos que ampliam ainda mais o impacto da inflação. Ampliar o preço seguindo uma tendência de mercado sem olhar especificamente para os custos do próprio negócio é um dos casos. O especialista é responsável pelo instituto que divulga o Índice de Preços ao Consumidor e Cesta Básica em Caxias do Sul e exemplifica:
— A gente controla produtos que são mais consumidos, mas se observar a inflação de outros itens, chega a ser ainda pior, porque tem menos concorrentes e é mais fácil ainda o descontrole dos preços.
Gonçalves acrescenta que a administração subjetiva de reajustes pode ser um "tiro no pé":
— Essa inflação psicológica é horrível, com aumentos de forma generalizada, porque reduz as vendas. E depois quem precificou não sabe como recuar, porque pode ter aumentado o que não devia, mas pode também reduzir o que não poderia — alerta.
Roque Zin, professor de Finanças da UCS, diz que este comportamento, de aumentar os preços para depois voltar atrás, é comum em um cenário como o atual, depois da inflação oficial do país encerrar o ano na casa dos dois dígitos. O ambiente favorável ao aumento dos preços é justificado por pandemia, guerra da Ucrânia, ano de eleições, estiagem e tantos outros fatores que são citados como impulsionadores, mas há m outro elemento em que pouco se fala:
— Tem mais o impacto das empresas tentando repor as margens de lucro, que caíram muito nos últimos anos — aponta Zin.
O especialista em finanças comportamentais cita um exemplo que costuma ser utilizado como "bengala" para justificar os aumentos nos mais variados segmentos:
— O combustível serviu como âncora psicológica de preços. Tudo pode aumentar porque o preço dele aumentou.
O consenso entre os especialistas para enfrentar esta situação são as pesquisas de preço.
— Se antes ela já era importante, hoje ela é ainda mais necessária, principalmente porque a variação é grande e ocorre de forma muita rápida — orienta Gonçalves.
Zin destaca que a dica vale tanto para o consumidor final quanto para as empresas e seus fornecedores:
— O que se pode e deve fazer é não aceitar passivamente o aumento de preço. É possível, sim, substituir produtos e fornecedores — aconselha.